“Um tsunami verde se aproxima e faz deste o melhor planeta do universo”, promete o catarinense Marcos Rezende de Souza, 46 anos, o Marquinhos. É um dos tantos bordões que o ativista pela legalização da Cannabis emplacou nas redes sociais. Mas até bem pouco tempo nada era otimista na vida do Marcos e sim sombrio.
O vício no álcool e na cocaína já tomava tanto o controle sobre sua vida, que ele chegou ao ponto de trocar a aliança de casamento por pó.
Foi na madrugada de 14 de janeiro de 2018. A esposa Naídes tentou de todas as formas impedir o marido fora de si. Chegou a esconder a chave da moto. Em vão. O homem deixou a casa em São José disposto a saciar a fissura doentia.
“Enchi o saco do traficante que não queria trocar a aliança de jeito nenhum, até conseguir. No caminho de volta eu já vim usando, mas aí eu comecei a me arrepender. Bateu a bad. De repente eu acordo numa maca dentro de um hospital, sem controle das pernas”.
As motos dele e de outro motoqueiro, que empinava na contramão possivelmente fora de si também, se colidiram no bairro Potecas. A colisão seria um divisor de águas na vida do Marquinhos “para o mal e para o bem”.
Antes do acidente, o paulista de nascimento e manezinho de coração trabalhava como pintor, motoboy, pescador. Diz que construía uma casa inteira, menos a parte elétrica. Em um lapso de segundos, ficou dependente até para ir ao banheiro.
“Aleijado, na cama, eu comecei a ver o mundo de outro jeito. Tive uma reunião grande com Jesus. Não lembro do encontro mas sim da alegria de ter voltado e saber que na carne eu posso resolver os problemas da minha alma. Então quem sou eu para ficar triste. Esse era o caminho que eu tinha que seguir”.
De fato quem conhece o Marquinhos se surpreende com tanta alegria apesar das limitações físicas.
“Eu descobri que a maconha era meu remédio”
Quando os parentes foram visitá-lo no hospital, Marcos estava morrendo de dor. O enteado lhe deu um baseado, e em vez de só ficar chapado, o paciente descobriu que aquela erva também aliviava as dores. Assim que recebeu alta procurou tratamento com Cannabis medicinal e iniciou o tratamento com a ONG Santa Cannabis, de Florianópolis.
“Eu estou atrofiando. Mas só não atrofiei mais por causa da Cannabis, disse a minha fisioterapeuta. Ela falou que é graças à maconha que eu tenho condições de voltar a andar, porque está recuperando a minha musculatura, não tem?. Mas quanto tempo mais eu posso esperar?”.
Além de correr contra o tempo, o Marcos também precisa de um feito homérico: juntar cerca de R$ 100 mil para amputar a perna esquerda e a cirurgia de quadril que pode devolver a locomoção, ainda que de muletas.
Tamo junto e mistuvapo
Junto do óleo medicinal, o Marcos agora vaporiza a erva seca, em vez de fumar. Dessa forma ele evita os efeitos colaterais agressivos da fumaça. A terapia deu resultados tão positivos que ele virou um propagador da vaporização para fins medicinais. Emplacou mais um bordão: “tamo junto e mistuvapo!”.
É através dessa união que o bordão propõe que o Marcos pode voltar a andar. Ele decidiu arrecadar o recurso através de uma vaquinha na internet. Além disso, uma marca de vape doou um aparelho para uma rifa que o Marcos está organizando.
Quem puder e quiser ajudar no sonho do nosso manezinho de voltar a andar pode contribuir clicando em vaquinha ou rifa.
Ah. E além de aliviar as dores e evitar que a coluna atrofie ainda mais, a Cannabis de quebra ajudou o Marquinhos com a depressão e a largar as drogas.
“Eu não tenho mais vergonha hoje de contar o que passei. Porque eu mudei, porque eu quero que todo mundo conheça a minha história, e quem estiver também viciado possa se libertar”.
Tamo junto e mistuvapo, Marcos!