Descoberta arqueológica revela primeira evidência física do consumo de Cannabis na Europa no século 17
Arqueólogos na Itália descobriram vestígios de Cannabis em ossos humanos da Idade Moderna. A descoberta foi registrada em de outubro desse ano no periódico Journal of A Archeological Science é inédita.
O estudo reporta a primeira evidência física do consumo de Cannabis no século 17 não só na Itália, mas de toda a Europa.
De acordo com o artigo científico publicado com os achados, há evidências toxicológicas de que os antepassados faziam uso da planta de forma social.
Foram encontrados THC e CBD
Os resultados das análises revelaram a presença dos dois canabinoides mais conhecidos e administrados atualmente, que é o Delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e Canabidiol (CBD).
Segundo o exame arqueológico, os compostos da Cannabis estavam presentes em duas das nove ossadas analisadas, ou seja, em 22% das amostras biológicas coletadas.
Ossadas enterradas em hospital
As ossadas femorais de um homem jovem e de uma mulher de meia-idade, ambos enterrados entre 1638 e 1697, foram encontradas em uma cripta do hospital Ca’ Granda em Milão, na Itália – uma dos mais importantes centros de saúde da época.
As amostras de osso foram pulverizadas, separadas e purificadas antes de serem liquefeitas e submetidas à espectrometria de massa para identificar os componentes químicos, afirma o artigo científico.
“Qualquer contaminação externa das amostras ósseas foi excluída considerando o rigoroso protocolo de amostragem adotado pelos arqueólogos, o armazenamento das amostras biológicas em caixas estéreis até o momento das análises toxicológicas e a observância do protocolo laboratorial para as análises toxicológicas”, garantem os arqueólogos.
Rastrear uso de plantas medicinais
O objetivo dos pesquisadores nesse levantamento foi o de rastrear sinais analíticos da administração de plantas medicinais ou recreativas na população de Milão durante o século 17.
“As investigações toxicológicas sobre vestígios históricos e arqueológicos são raras na literatura, mas constituem uma ferramenta diferente e potente para reconstruir o passado e, em particular, para melhor compreender os remédios e hábitos das populações passadas”, explica a publicação científica.
Cannabis não constava na farmacopeia
Muito embora a presença da Cannabis nos ossos evidencie o uso da erva pela população italiana naquela ocasião, a documentação relativa à farmacopeia não cita a planta como tratamento.
“A documentação relativa à farmacopeia utilizada no tratamento dos pacientes do Ca’ Granda ainda está presente no arquivo do hospital. Porém, esta planta não constava da farmacopeia, sugerindo que a planta não foi administrada como tratamento médico na época no hospital”, detalha a publicação científica.
Uso social da planta
Segundo os estudiosos, isso sugere que os moradores de Milão possam ter utilizado a planta para uso social e recreativo.
“Com efeito, sabemos que a planta Cannabis foi utilizada para fins recreativos desde a época greco-romana e administrada como medicamento ao longo dos séculos, embora durante a Idade Média o seu uso médico tenha diminuído. Assim, os indivíduos que tiveram resultados positivos para a Cannabis podem tê-la utilizado pelas suas propriedades recreativas em vez das terapêuticas” , diz o artigo científico.
De acordo com os pesquisadores, a mostra analisada representa indivíduos de uma classe social pobre de Milão, que foram tratados no hospital Ca’ Granda.
Cannabis como escape
Para os estudiosos é possível que entorpecer a mente com a maconha fosse uma maneira de escapar da realidade.
“Fome, doenças, pobreza, higiene praticamente inexistente. Certamente, Milão nunca esteve em condições tão críticas como no século 17. Nem mesmo na Idade Média”, afirmam os pesquisadores na publicação.
Ineditismo
Os resultados constituem a primeira detecção de Cannabis em vestígios osteológicos humanos históricos e arqueológicos.
“Na verdade, de acordo com a literatura, esta planta nunca foi detectada em amostras de ossos antigos”, diz o artigo.
Os dados analíticos obtidos – de forma inédita – revelam os hábitos da população investigada, demonstrando uma exposição à planta na cidade de Milão durante a Era Moderna.
A história mostra o uso medicinal da Cannabis
Muito embora a Cannabis tenha sido amplamente utilizada desde a antiguidade graças aos seus efeitos analgésicos, principalmente pelas populações gregas e romanas, durante a Idade Média, o interesse por esta planta diminuiu, diz o artigo científico.
“Em 1484, um Bolla Papale (édito ou bula papal) e uma forte repressão eclesiástica baniram o cânhamo da Europa. Apesar das restrições, a planta foi amplamente difundida no Norte e no Leste da Europa. Além disso, no século XVI, de África e da Ásia importaram cânhamo para a Europa para usos medicinais e terapêuticos. Porém, na Europa, ao longo da Idade Moderna, grandes quantidades de C. sativa foram anunciadas exclusivamente para o comércio manufatureiro”, relembra a publicação.
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https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S030544032300153X
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