“Todos os médicos precisam conhecer o sistema endocanabinoide. Assim como a importância dele na regulação homeostática e como ele afeta múltiplas áreas do nosso organismo”, afirma o médico Dr. Vinicius Barbosa, psiquiatra e coordenador do Núcleo de Cannabis Medicinal do Hospital Sírio-Libanês, com quem conversamos com exclusividade.
A iniciativa visa promover a educação e o tratamento de doenças de difícil controle como as epilepsias refratárias, o TEA, dores crônicas, doenças neurodegenerativas, câncer e uma série de outras doenças a qual a Cannabis medicinal pode aliviar e ajudar a tratar os sintomas.
A história do Núcleo de Cannabis Medicinal do Sírio-Libanês
A criação do Núcleo de Cannabis Medicinal do Sírio-Libanês aconteceu em 2021. Porém, dois anos antes desta data as negociações dentro da instituição para viabilizar a possibilidade de abertura desse Núcleo já haviam começado.
“O Núcleo de Cannabis nasceu sob a coordenação do Dr. Daniel Forte, que é uma referência no Hospital Sírio-Libanês e também na área de cuidados paliativos. E então dividimos primeiramente nas áreas: dor, anestesia, cuidados paliativos, clínica médica, neuropsiquiatria e pediatria. Na psiquiatria começamos os atendimentos de epilepsias refratárias e de casos de Transtorno do Espectro Autista, onde integrei esta parte. Em 2022, o Dr. Daniel Forte saiu da coordenação e eu fui convidado para assumir essa coordenação”, pontua Dr. Vinicius.
Objetivos principais do Núcleo de Cannabis Medicinal
Assim como os outros núcleos do hospital, existem quatro objetivos que servem como nortespara o desenvolvimento do trabalho:
- a oferta dos atendimentos dos ambulatoriais,
- a parte de transmissão de conhecimento, formação e ensino,
- a área de pesquisa
- e uma área que seria de responsabilidade social.
Esta última engloba também levar a tecnologia de ponta desenvolvida pelos Núcleos para mais lugares onde o Hospital Sírio-Libanês coordena em parcerias com o município de São Paulo.
“Isso significa levar também levar para o SUS essas tecnologias que pesquisamos no Núcleo”, destaca Dr. Vinicius.
A importância das pesquisas científicas sobre o potencial dos fitocanabinoides
Os fitocanabinoides têm mostrado grande potencial no tratamento de uma variedade de condições médicas, incluindo dor crônica, epilepsia, ansiedade, distúrbios do sono e até mesmo certos tipos de câncer.
Porém, pesquisas adicionais ajudam a entender melhor como esses compostos funcionam e quais condições específicas podem se beneficiar do seu uso.
Além disso, à medida que a regulamentação da Cannabis para fins medicinais avança em muitas partes do mundo, as pesquisas científicas são essenciais para informar políticas de saúde pública.
Neste sentido, o Núcleo está começando agora sua parte de pesquisa em relação ao potencial dos produtos à base de Cannabis para a saúde.
“Temos uma pesquisa que está entre tramitação da parte mais burocrática para o financiamento. E que foi um estudo contemplado com a verba da frente parlamentar da Cannabis medicinal e do Cânhamo Industrial. O projeto do Sírio foi contemplado e é um estudo qualitativo do impacto da Cannabis medicinal na vida de pacientes autistas atendidos pelo Núcleo durante este período. Levará dois anos para a publicação. Esperamos começar no meio do ano”.
Desafios sobre pesquisas científicas em relação à Cannabis medicinal no Brasil
Superar os desafios em relação às restrições e fontes de financiamento para pesquisas na área da Cannabis medicinal requer uma abordagem multidisciplinar que envolva colaboração entre cientistas, políticos, profissionais de saúde, reguladores e a comunidade em geral. Segundo o Dr. Vinicius, ainda é necessário avançar neste alinhamento entre diversos setores. No final das contas, pacientes e o próprio poder público podem sair ganhando.
Sabe-se que o Ministério da Saúde gastou mais de R$ 40 milhões de reais, até outubro de 2023, só para comprar remédios à base de Cannabis para atender às demandas de pacientes que entraram na justiça para que o estado pague pelo tratamento.
“Um dos grandes problemas dentro do mercado e da ciência relacionada à saúde com os canabinoides aqui no Brasil é o pouco incentivo para pesquisa. Hoje a maior dificuldade talvez seria o financiamento de pesquisas, como a gente teria muitas vezes em outras condições, com outros medicamentos patenteáveis e com talvez regulações mais fáceis. Infelizmente, eu acho que com a Cannabis tudo fica mais difícil realmente. Esperamos que com mais estudos a gente consiga avançar na questão do autismo, porque é uma questão que talvez hoje também seja uma das mais prevalentes de prescrição. E que se o Estado também não olha para isso, também não resolve muito os problemas em relação aos processos judiciais”.
Outro ponto é que a planta tem sido historicamente associada a estigmas sociais e preconceitos.
Entretanto, Dr. Vinicius avalia que o Núcleo não enfrenta preconceito dentro do Hospital Sírio-Libanês. E que a realização de reuniões científicas mensais abertas para todos que têm interesse sobre o tema estão surtindo efeito
“Entendo até que é um pouco a missão institucional do hospital de levar o conhecimento de qualidade em temas que são polêmicos como, por exemplo, a Cannabis medicinal. E eu tenho sido convidado também por muitos núcleos, como, por exemplo, do Chile, para poder dar aulas em outros núcleos”.
Cannabis na área da psiquiatria
Os componentes da Cannabis, como o CBD e o THC, tem sido estudados e utilizados em relação a vários distúrbios psiquiátricos.
“Na área da psiquiatria já está muito bem estabelecido os efeitos dos canabinoides para a modulação da dor. E dentro da área de dor crônica, principalmente para aquelas dores que nós temos muita dificuldade de tratar, as dores nocipláticas, dores mais relacionadas justamente com uma alteração da percepção sensorial dolorosa. E que muitas vezes está associado ao estresse, como na enxaqueca, na fibromialgia, síndrome do intestino irritado, por exemplo. Não se pensa, neste momento, em nenhum tratamento de primeira linha com a Cannabis medicinal, estamos sempre pensando em associação com outros tratamentos que a gente já tem. Mas o que estudos têm mostrado em alguns países é uma redução muito grande na questão do consumo dos opioides.
E na questão dos cuidados paliativos também já estamos muito bem assentados, principalmente em efeitos colaterais da quimioterapia do próprio câncer. Porém, ainda tem muita especulação. Eu acho que o objetivo do Núcleo de Estudos é justamente poder discernir os dois polos. Nós não estamos ao lado daqueles que vão defender que o uso da Cannabis serve para todas as condições e vai ser sempre benéfico, pelo contrário, a gente entende os danos que podem ser causados pelo uso não medicinal, não acompanhado pelo médico. Mas que também não é para uma gama tão ampla de patologias, pelo menos a gente não tem evidência”, concluiu Dr. Vinicius.
Uso medicinal da Cannabis no Brasil
Atualmente, o Brasil conta com mais de 430 mil pacientes de Cannabis medicinal.
O uso medicinal da Cannabis no Brasil já tem regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio das RDC 660 e RDC 327. No entanto, para isso, é preciso prescrição médica. Por isso, na nossa plataforma de agendamentos, você pode marcar uma consulta com um médico ou cirurgião-dentista que tem experiência na prescrição dos canabinoides.
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