Cozidas ainda vivas, pesquisa tenta entender se THC é capaz de reduzir o sofrimento dos crustáceos
Lagostas possuem bactérias que rapidamente se proliferam quando ela morre, liberando toxinas que contaminam sua carne. Para que possam servir para a alimentação humana, sem risco de intoxicação, são cozidas ainda vivas.
A prática é cruel com as pobres bichinhas, afinal, ninguém fica feliz em ser jogado em uma panela com água fervendo. Na Suíça, por exemplo, o governo determina que as lagostas sejam submetidas a choques anestesiantes ou tenham seu cérebro esmagado, provocando morte cerebral, antes de serem jogadas na panela.
Em 2018, a dona de um restaurante no Maine, EUA, viralizou nas redes sociais por sua iniciativa para tentar reduzir o sofrimento dos animais que servia aos clientes. Antes de serem sacrificadas pela gastronomia, ficavam imersas em uma câmara fechada onde era vaporizado Cannabis. Segundo a proprietária, Charlote Gill, o THC reduziria a dor e a ansiedade enquanto morriam cozidas.
Comprovação científica
Pesquisadores do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia (EUA) decidiram, então, testar se isso fazia algum sentido. Já se sabe os benefícios da utilização da Cannabis no tratamento de dor, mas o efeito se estenderia até o mundo dos crustáceos?
Mas tem um problema. Lagostas são espécies aquáticas que respiram por guelras, mas podem ficar até alguns dias fora da água, pois a proteção da carapaça mantém as guelras úmidas. Mas ela conseguiria absorver o THC vaporizado no ar?
Há poucas evidências sobre se a lagosta seria sensível à exposição ao THC, no entanto, o sistema neuromuscular das lagostas parece ser regulada, em parte, por mecanismos canabinoides.
Os cientistas decidiram então testar. Fizeram a mesma coisa que a dona do restaurante, e observaram as reações da lagosta em diferentes situações. Depois dissecaram as lagostas e analisaram a presença de THC em seus tecidos.
A conclusão foi que sim. O THC foi encontrado no tecido das lagostas e elas aparentaram se retorcer menos ao serem imersas em água fervendo quando foram expostas aos vapores da Cannabis por uma hora.
A Cannabis funciona, mas não faz milagre. “As afirmações da restauranteur de que os canabinoides poderiam ser introduzidos na lagosta pela exposição atmosférica, e que isso seria em quantidade suficiente para induzir o efeito comportamental, são suportadas. O impacto do THC na nocicepção térmica foi, no entanto, mínimo.”
Afinal, por mais eficiente que possa ser a Cannabis, ainda assim são animais cozidos vivos. Os pesquisadores finalizaram o estudo dizendo que ainda precisam testar se a ansiedade das lagostas, como alega Gill, também podem ser controladas pela Cannabis.