Os canabinoides THC e canabidiol (CBD) são componentes naturais da planta Cannabis.
Produtos à base de CBD, como o óleo full spectrum, podem conter vestígios de THC.
Tanto o CBD quanto o tetrahidrocanabinol (THC) são derivados da mesma planta, mas seus efeitos no corpo são bastante distintos.
O THC é conhecido por induzir a sensação de euforia e mudanças na percepção. Portanto, não é incomum que muitas pessoas busquem este canabinoide para uso recreativo.
Apesar disso, ele também possui benefícios medicinais, os quais conheceremos neste artigo!
Prossiga com a leitura e aprenda sobre:
- O que é o THC do canabidiol?
- Quais os benefícios terapêuticos do composto THC e do canabidiol?
- Quais são os efeitos colaterais do THC?
- O THC é seguro para uso a longo prazo?
- Como o THC é consumido para fins medicinais?
- As regulamentações relacionadas ao uso THC e do canabidiol
- Como iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal?
O que é o THC do canabidiol?
O THC (tetrahidrocanabinol) e CBD (canabidiol) são duas substâncias diferentes encontradas na planta de Cannabis.
O THC é o principal composto psicoativo da Cannabis, o que significa que é responsável pelos efeitos de “estar chapado” ou “ficar eufórico” associados ao consumo.
Por outro lado, o CBD é outro composto encontrado na Cannabis, o qual não tem efeitos psicoativos.
Em vez disso, seu uso é mais orientado para aplicações terapêuticas devido às propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, ansiolíticas e anticonvulsivantes que ele possui.
Apesar de carregar um grande estigma, o THC também tem vasta aplicação no âmbito medicinal, não se limitando apenas ao uso recreativo.
Em produtos que contêm canabidiol (CBD), o THC pode estar presente apenas em quantidades vestigiais, dentro do limite legal permitido, que aqui no Brasil é de no máximo 0,2% da composição do produto.
Isso ocorre porque alguns produtos de CBD são derivados de plantas de Cannabis que foram cultivadas especificamente para conter altos níveis de CBD, mas essas plantas produzem pequenas quantidades de THC.
Cabe ressaltar também que o CBD pode moderar alguns dos efeitos do THC quando ambos estão presentes no produto em uma relação equilibrada.
Sendo assim, através de formulações de canabidiol que contém THC, é possível obter todos os benefícios associados a ambos os compostos sem que os efeitos psicoativos estejam presentes.
Quanto THC tem no canabidiol?
Tanto o CBD quanto o THC são naturalmente encontrados nas plantas de Cannabis.
No entanto, diferentes variedades dessas plantas podem conter níveis distintos de canabinoides.
A principal disparidade entre o cânhamo e outras variedades de Cannabis reside na quantidade de THC presente.
Sendo assim, algumas plantas de Cannabis sativa contendo menos de 0,3% de THC são classificadas como cânhamo.
Já outras cepas geralmente possuem níveis mais elevados de THC e menores quantidades de canabidiol.
Se tratando de produtos medicinais de canabidiol, a legislação limita ainda mais os níveis de THC permitidos.
Conforme estipulado no artigo 4º da RDC 327/2019, os produtos da Cannabis devem ser predominantemente compostos por canabidiol (CBD) e não devem exceder 0,2% de tetrahidrocanabinol (THC).
Apenas no caso de pacientes terminais ou em condições irreversíveis existe a possibilidade de aumentar esse limiar.
Quais os benefícios terapêuticos do composto THC e do canabidiol?
A planta Cannabis tem uma longa história de uso em cerimônias espirituais e como medicamento.
No entanto, foi apenas no final da década de 1960 que a comunidade científica começou a entender como a Cannabis produz efeitos tão benéficos ao descobrir os canabinoides.
A descoberta dos compostos canabinoides na Cannabis sativa levou à identificação do sistema endocanabinoide (SEC).
Este é um sistema de sinalização celular que ajuda a manter a homeostase no corpo e está presente em todos os mamíferos.
A comunidade científica estima que a planta Cannabis sativa contenha mais de 100 canabinoides que interagem com este sistema, com o THC e o canabidiol sendo apenas a ponta do iceberg quando se trata dos benefícios da planta.
Os canabinoides, como o THC e o canabidiol, interagem com o sistema endocanabinoide do corpo através de receptores (CB1 e CB2), enzimas e endocanabinoides (anandamida e 2-araquidonoilglicerol).
Por possuir estruturas moleculares diferentes, de maneira isolada, eles oferecem benefícios distintos.
Os pesquisadores da Cannabis acreditam que, embora o CBD e o THC tenham benefícios potenciais para a saúde impressionantes por si só, eles são mais eficazes quando estão em conjunto.
Estudos sugerem que os efeitos sinérgicos dos muitos compostos químicos ativos da Cannabis ajudam a amplificar e equilibrar os efeitos do THC e do canabidiol.
Isso é comumente referido como o “efeito entourage”.
Por exemplo, foi demonstrado que o THC reduz a dor e a inflamação, além de melhorar os sintomas de certos distúrbios neurológicos, como a epilepsia.
No entanto, devido aos efeitos psicoativos do THC associados à sua interação direta com os receptores CB1, seu uso isolado não é apropriado para algumas pessoas.
Por outro lado, o canabidiol é um modulador alostérico desses receptores, assim, pode reduzir os efeitos indesejados dos produtos de Cannabis com alto teor de THC.
Quais doenças podem ser tratadas com a ajuda do THC?
Para entender os mecanismos pelos quais o THC (tetrahidrocanabinol) fornece os benefícios terapêuticos mencionados, é necessário examinar sua interação com o sistema endocanabinoide (SEC) do corpo humano.
O sistema endocanabinoide é composto por receptores, canabinoides endógenos (produzidos pelo corpo) e enzimas responsáveis pela síntese e degradação desses endocanabinoides.
O THC interage com este sistema de várias maneiras, levando a uma variedade de efeitos terapêuticos. Entre os quais:
Modulação da dor
O THC atua principalmente ativando os receptores CB1, localizados predominantemente no sistema nervoso central, especialmente no cérebro.
Esses receptores auxiliam na regulação de funções neurais, incluindo percepção da dor, controle motor e modulação do humor.
Através desse mecanismo, pode auxiliar no tratamento de condições como:
- Fibromialgia;
- Depressão;
- Ansiedade;
- Lesões neurológicas;
- Síndrome da dor complexa regional (SDCR);
- Dor crônica;
- Doença de Parkinson;
- Esclerose múltipla;
- Artrite reumatoide.
Auxilia no controle da inflamação
Em contrapartida, o THC também interage com os receptores CB2, encontrados no sistema imunológico e em tecidos periféricos, modulando a resposta inflamatória e imunológica.
A ativação desses receptores se faz relevante no tratamento de condições inflamatórias, como artrite reumatoide e esclerose múltipla.
O THC influencia a liberação de neurotransmissores, como dopamina, serotonina e glutamato, os quais têm efeitos diretos na modulação do humor, da cognição e da dor.
Ajuda contra distúrbios alimentares
Os receptores CB1 também estão envolvidos na regulação do apetite e do metabolismo, sendo abundantemente expressos no hipotálamo, uma área do cérebro importante para o controle energético.
A ativação desses receptores pelo THC pode estimular o apetite e promover o aumento da ingestão alimentar, sendo útil no tratamento de condições que levam à perda de peso, como em pacientes com HIV/AIDS.
Este canabinoide também é poderoso no tratamento das seguintes condições:
- Anorexia nervosa;
- Síndrome do vômito cíclico;
- Transtorno de compulsão alimentar;
- Caquexia;
- Náusea e vômito induzidos por tratamentos;
- Distúrbios do apetite em pacientes com câncer
- Síndrome de Prader-Willi.
Quais são os efeitos colaterais do THC?
Como qualquer substância, o THC também pode apresentar efeitos colaterais, especialmente quando consumido em grandes quantidades ou de maneira inadequada.
Se tratando de uso medicinal, os efeitos colaterais do THC são geralmente raros e tendem a ocorrer apenas quando o consumo não é feito corretamente.
Por outro lado, quando administrado sob supervisão médica e em doses adequadas, muitos pacientes relatam benefícios terapêuticos com poucos efeitos colaterais.
Na verdade, a grande maioria dos efeitos adversos e estigmas atribuídos ao THC são decorrentes do seu uso recreativo, onde grandes quantidades da substância são consumidas em um curto período de tempo.
Estes efeitos podem incluir:
- Alterações de humor;
- Problemas de memória e cognição;
- Coordenação motora comprometida;
- Taquicardia;
- Boca seca;
- Olhos vermelhos.
Apesar de serem raros, os efeitos colaterais do THC medicinal podem ser mitigados ou reduzidos quando o composto é consumido juntamente do canabidiol.
O CBD possui a capacidade de modular os efeitos psicoativos do THC, tornando a ocorrência de efeitos colaterais muito menor.
O THC é seguro para uso a longo prazo?
No contexto medicinal, as doses de THC são mínimas, então, não existem maiores riscos de efeitos colaterais a longo prazo ou potencial de dependência.
Sua segurança a longo prazo é respaldada por uma série de estudos e pesquisas que demonstram que, em ambiente clínico, o THC é seguro, especialmente quando combinado com o canabidiol.
Efeitos colaterais comuns, como sonolência, boca seca e alterações de humor, tendem a ser leves e temporários.
Isso significa que, ao suspender o uso do THC, tais efeitos não persistem por muito tempo.
Outro ponto a considerar é que o THC medicinal é frequentemente prescrito em formas e dosagens controladas, com quantidades vestigiais que não são capazes de gerar prejuízos a longo prazo.
No entanto, quando se trata de uso recreativo do THC, os riscos são mais pronunciados.
O uso recreativo de Cannabis envolve doses mais altas e métodos de administração menos controlados, podendo levar a problemas respiratórios.
Como o THC é consumido para fins medicinais?
Uma das formas de consumo é através de comestíveis, como brownies, biscoitos, cápsulas e gomas de mascar, entre outros.
Quando ingeridos, esses produtos passam pelo sistema digestivo e o fígado metaboliza o THC, resultando em efeitos que geralmente têm um início mais lento, mas uma duração prolongada.
No âmbito medicinal, também é comum utilizar extratos de Cannabis que contenham THC de forma sublingual.
Além disso, sprays orais contendo THC também são amplamente utilizados e aplicados diretamente na boca. Nesses casos, a absorção acontece na boca e os efeitos têm um início mais rápido do que pela ingestão.
Em países onde a Cannabis é legalizada, é possível utilizar patches transdérmicos contendo THC, os quais são aplicados na pele para uma liberação controlada do medicamento ao longo do dia.
Cápsulas e comprimidos contendo THC representam outra forma conveniente de administração oral, sendo especialmente comuns no uso medicinal.
Apesar da variedade de opções de administração, no Brasil, o uso medicinal do THC está restrito à administração oral e tópica, sendo essas as formas regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Medicamentos que contém THC na composição
Existem diversos medicamentos contendo THC e canabidiol aprovados em diferentes partes do mundo.
Cada um com suas próprias características e indicações específicas para o tratamento de diversas condições distintas.
Entre estes medicamentos, destacam-se:
Marinol
O Marinol, aprovado pela FDA nos Estados Unidos, contém um THC sintético.
É frequentemente prescrito para tratar perda de apetite associada à AIDS e para aliviar náuseas e vômitos em pacientes submetidos à quimioterapia.
Este medicamento é disponibilizado em cápsulas para administração oral.
Cesamet
Por sua vez, o Cesamet, aprovado nos Estados Unidos desde 1985 e disponível em países como Canadá, Reino Unido e México, contém um canabinoide sintético estruturalmente semelhante ao THC.
É utilizado para o tratamento de náuseas e vômitos em pacientes em quimioterapia, anorexia, perda de peso associada à AIDS, dores neuropáticas, fibromialgia e esclerose múltipla.
Geralmente, também é administrado em cápsulas.
Sativex
Outro exemplo é o Sativex, disponível em 26 países como Canadá, Reino Unido, Espanha e América Latina, que contém THC e CBD em proporções similares.
Este medicamento é utilizado como auxílio ao tratamento da esclerose múltipla e do glaucoma, sendo administrado em forma de gotas sublinguais e spray bucal.
Mevatyl
Por fim, vale mencionar o Mevatyl, aprovado na União Europeia para o tratamento de espasticidade em pacientes com esclerose múltipla.
O Mevatyl é administrado por via oral sob a forma de spray oral, permitindo uma absorção rápida e consistente dos compostos ativos.
Ele é geralmente prescrito como um medicamento de segunda linha para a espasticidade relacionada à esclerose múltipla, quando outros tratamentos não foram eficazes ou tolerados.
As regulamentações relacionadas ao uso do THC e do canabidiol
No Brasil, a discussão sobre a legalidade e a regulamentação de substâncias derivadas da Cannabis está em curso tanto no âmbito Legislativo quanto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Atualmente, a Anvisa autoriza a importação de mais de 200 fármacos derivados da Cannabis e a comercialização de mais de 20 produtos em farmácias.
No entanto, o cultivo da planta continua proibido no país, resultando na necessidade de importação de insumos, o que eleva o custo dos medicamentos.
O parágrafo único do artigo 2º da Lei de Drogas (Lei 11.343/06) concede à União a possibilidade de autorizar o plantio e a colheita de vegetais que possam fornecer substâncias psicoativas, incluindo o THC, para fins medicinais ou científicos.
Apesar disso, este dispositivo ainda não foi regulamentado pelo Poder Executivo, o que impede o cultivo e comercialização de subprodutos da Cannabis no Brasil.
Atualmente, a legislação referente à importação de produtos à base de Cannabis é a RDC 660/22 da Anvisa.
Esta regulamentação estabelece critérios e procedimentos para pacientes que desejam utilizar tais medicamentos em seus tratamentos de saúde.
No Estado de São Paulo, em 31 de janeiro de 2023, foi sancionada a Lei 17.618/23, que estabelece a política estadual de fornecimento gratuito de medicamentos à base de Cannabis.
Essa legislação determina que tanto a rede pública de saúde quanto a rede privada conveniada ao SUS devem fornecer medicamentos contendo canabidiol e THC para pacientes com prescrição médica.
Em nível nacional, há projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, como o PL 4.776/19, que trata do uso medicinal da planta Cannabis.
Também existe o projeto de Lei 5.295/19, que propõe submeter à vigilância sanitária a produção, distribuição, transporte, comercialização e dispensação de Cannabis medicinal e seus derivados.
Ambos aguardam designação no Senado Federal.
Como iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal?
Iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal pode ser uma jornada desafiadora para muitos pacientes, especialmente devido à escassez de médicos nessa área.
Apesar do crescente reconhecimento dos benefícios terapêuticos da Cannabis, muitos médicos ainda enfrentam barreiras regulatórias, falta de conhecimento e estigma associado à prescrição dessa substância.
Diante dessa realidade, pacientes têm dificuldades em encontrar profissionais de saúde dispostos a prescrever Cannabis medicinal, mesmo quando a demanda por esses tratamentos está em ascensão.
Para superar esse obstáculo, o portal Cannabis & Saúde desenvolveu uma plataforma de agendamento que conecta pacientes em busca de tratamento com médicos especializados em Cannabis medicinal.
Essa iniciativa visa facilitar o acesso dos pacientes a profissionais qualificados e comprometidos em fornecer orientação personalizada e prescrições adequadas.
Se você está enfrentando dificuldades para iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal, não hesite em utilizar nossa plataforma para marcar uma consulta com um médico experiente.
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Conclusão
A presença de THC em produtos de canabidiol não deve ser vista como algo negativo.
Pelo contrário, a interação entre o THC e o CBD oferece benefícios terapêuticos mais amplos do que quando se utiliza essas substâncias isoladamente.
A pesquisa tem mostrado que esses dois compostos trabalham sinergicamente para potencializar os efeitos terapêuticos um do outro, resultando em maiores possibilidades de aplicações médicas.
Portanto, é preciso superar os estigmas associados ao THC e reconhecer seu potencial promissor no âmbito medicinal.
Para continuar explorando os benefícios dessa combinação, incentivamos você a ler mais artigos sobre canabinoides em nosso portal.
Aprofundando seu conhecimento, você poderá tomar decisões informadas sobre como melhor utilizar esses compostos para melhorar sua saúde e bem-estar.