Margarida Lagame, mãe de paciente refratário, relatou a melhora do filho após o uso da Cannabis, no painel desta terça-feira, 11, do Medical Cannabis Summit. Com ela, estiveram presentes o neurocirurgião Marcos Prandine, e Ana Gabriela Baptista, fisioterapeuta e consultora canábica.
A seguir, confira os destaque deste bate-papo entre os três participantes, que discorreram sobre a importância de entender o paciente antes e depois do tratamento, para fornecer a melhor prescrição e obter os melhores resultados.
Margarida Lagame
Com vivência de uma carreira na enfermagem, Margarida foi uma das primeiras brasileiras que viu a melhoria na prática no filho refratário de 34 anos.
“Em 2014 ouvi falar sobre maconha. Achei estranho mas resolvi dar. A médica me disse: ‘Nem pensar. Cannabis é só pra criança, não é pra adulto’
Num ato, vi uma mãe dando óleo pro filho e fui perguntar. Me explicou tudo. Cheguei em uma associação. Neste ponto eram só crises e visitas à UTI. Achei um médico prescritor e comprei, óleo artesanal. Não foi bom, parti para o óleo importado. Funcionou.
Eu traficava óleo, ajudo mães desde 2015. A gente tem contatos de mães para ajudar a mãe sem óleo, do SOS Mães e do SOS Cannabis.
Ele tinha crise todos os dias, 60, 70 crises. Depois do óleo, chegou a ficar 1 ano e 8 meses sem crise. Hoje, ainda tem algumas. E tem que ajustar a dosagem.
O que eu faço é ir na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), programar eventos, assembleias, ações de rua, o Dia Nacional da Maconha Medicinal, que é 27 de novembro. Reunimos associações, conscientização, diminuição do dano com usuários recreativos.
Meu filho só dormia com BIPAP (aparelho que infla as vias aéreas superiores para minimizar a apneia do sono). Usou por 6 anos. Depois da Cannabis, está há 4 anos sem usar o aparelho.
Um caso interessante é o de uma mãe que estava comigo numa assembleia e o filho autista teve crise. Eu tinha um óleo na bolsa, dei pra ele, que foi se acalmando e minutos depois foi brincar.
Minha mensagem é: contem comigo para que possamos ter mais qualidade de vida. Vivi 30 anos sem ir a um restaurante, porque meu filho tinha crises”.
Marcos Prandine
“Comecei a prescrever há 3 anos, na clínica integralista que trata de distúrbios genéticos, a ELO 21. Pacientes que chegavam ao limite com os remédios tradicionais, tinham uma parada na evolução, falavam da terapia canabinóide. Conheci uma pessoa que dava aula, a Ana Gabriela Baptista. Segui participando de eventos, aulas, discutindo casos com ela”.
Inovação
“A terapia canabinoide que trás um substrato científico grandioso, importante. Para quem está aberto, é um caminho de descobertas científicas e experiências, sem um paradigma a se quebrar. Para cartesianos, é um paradigma. O importante é se instruir, aprender e participar de meetings como esse”.
Dúvidas de pacientes
“Alguns chegam sem conhecimento nenhum, preconceitos, receio. Mas a maioria é de doentes que já estão em algum tratamento e já ouviu falar e já vêm abertos para aprender”.
Patologias e Cannabis
“Epilepsia, distúrbios de cognição, neurodegenerativas: memória, motor, relacionamento interfamiliar. Dores crônicas. Pacientes cansados de opióides e efeitos colaterais. Procuram a oportunidade de experimentar uma terapia que viu que dá bons resultados”.
“Doenças degenerativas trazem ansiedade. Quando se melhora o sono, a ansiedade, espasticidade mais relaxada, dá uma sensação de plenitude. Equilíbrio da manifestação da doença. Se for Parkinson inicial, é mais fácil”.
Custos do tratamento
“Deveria ser produzido aqui. O dólar pesa, e aumenta preço do importado. A sociedade tem que se unir e exigir a liberação de produção aqui”.
Sobre óleo artesanal versus industrializado: ” A terapia depende do que quero tratar do estágio, de como será a atuação do óleo, massa corpórea. Se algumas variantes forem fixas, ajuda. Óleos industriais têm controle de substância, dosagem. Tem base de tratamento. Segurança de estar fazendo o melhor”.
Mensagem aos familiares e médicos
“Louvo as pessoas e familiares que na busca racional de melhor qualidade de vida, se lançam em terapias comprovadas cientificamente e baseadas em pessoas que têm vivências.
Louvo os profissionais que estão se engajando. Que venham, participem, estudem, venham trocar informações. Montemos um pool de pessoas que trabalham pela saúde, e não pela doença. Assim a vitória é de 100% e com amor, com alegria, responsabilidade e cuidado. Temos que procurar em tudo um profissional que tenha essa visão, o melhor que possa dar na sua área. E o sistema endocanabinoide entra de colher nisso tudo.”
Ana Gabriela Baptista
“Dou suporte técnico e científico junto à equipes das quais faço parte. E também acompanhamento terapêutico do paciente, que o médico não tem tempo de fazer. E no momento de dúvida na introdução da terapia, interação com outros medicamentos, enfim, consultoria técnica”.
Acesso aos medicamentos
“Hoje o médico prescreve com avaliação, o paciente faz cadastro no site do governo para a Anvisa e pede autorização de importação. O prazo é de 10 dias de resposta por e-mail. O paciente entra em contato com a empresa que produz, que o médico já indicou. Quem importa o produto é o paciente”.
Sobre preços proibitivos: “Se pudéssemos produzir aqui…os de farmácia são caros, até mais caros que os importados, porque importam insumos. A ABRACE tem autorização legal para produzir, mas só tem duas associações autorizadas a plantar, extrair e produzir no Brasil. Eles não conseguem atender o país todo.
Óleo artesanal x industrializado
“Tanto o dr. Marcos quanto outros médicos com os quais trabalho, acham mais seguro com produtos que têm relatórios técnicos, fornecidos por empresas que fazem importação de óleos de qualidade, com relatórios de análise técnica. Na planta não tem só CBD, tem terpenos, flavonóides, que também têm efeitos. E há o risco de intoxicações com metais pesados, agrotóxicos, sementes transgênica, é preciso saber a origem das sementes. Um dia a Avisa vai fazer as análises e aprovações”.
A melhor terapia canabinoide
“Está chegando no Brasil, por duas empresas que conheço, que tem trazido um teste genético que ja está sendo usado. Simples e fácil, analisado no exterior. Ele demonstra a afinidade de cada um para canabidiol, THC, como será o metabolismo. Isso vai ajudar a prescrever a dosagem, o produto. Porque a terapia canabinoide é uma terapia individual, já que há diferentes deficiências dos sistemas endocanabinoide. Tenho pacientes gêmeos univitelinos que respondem diferentemente aos tratamentos.”