O TEA – Transtorno do Espectro Autista é uma condição neurológica sem cura que apresenta seus primeiros sinais ainda na primeira infância. Essa condição tão especial afeta não apenas a criança, mas toda a sua família.
Por isso, nesse artigo você irá encontrar tudo o que gostaria de saber sobre o TEA e o que estudos recentes mostram sobre o uso de Cannabis Sativa para o tratamento desse transtorno.
O que é o TEA – Transtorno do Espectro Autista
O Transtorno do Espectro autista (TEA) é uma desordem no desenvolvimento neural. Essa desordem afeta o sistema cognitivo. E, apesar de algumas características clássicas, os sinais desse transtorno são heterogêneos e variam entre cada indivíduo.
Contudo, essa modificação no desenvolvimento neural leva ao desenvolvimento de três características clássicas:
- Dificuldade de comunicação e no uso de imaginação para lidar com jogos;
- Padrão de comportamento repetitivo e restritivo;
- Dificuldade de socialização.
Em um portador de TEA, é possível encontrar essas três características ou apenas uma delas com graus de severidade diferentes. Como via de regra, o transtorno já pode ser observado já entre 0-3 anos.
Isso porque já nos primeiros anos de vida há a incapacidade dos neurônios de coordenarem aspectos cognitivos como comunicação e relacionamento social.
Por que o autismo é chamado de TEA?
O autismo foi por muitos séculos uma condição incompreendida e ignorada. Há mais de 500 séculos existem registros de estudos com os então chamados de “idiotas”.
Contudo, séculos passaram-se sem que os portadores fossem de fato objetos de estudo, de forma que os mesmos sempre foram ignorados ou tratados como “inferiores”.
Entretanto, na década de 40 dois médicos realizaram estudos separadamente (possivelmente sem conhecimento um do outro).
Assim, Kanner identificou o distúrbio como “autismo”, enquanto a síndrome descrita por Asperger foi nomeada em sua homenagem como “Síndrome de Asperger”.
A partir das publicações de Kanner, dezenas de estudos começaram a ser conduzidos a fim de investigar com mais afinco sobre a doença.
Assim, começaram a estabelecer-se as principais características da doença, seus desafios, e até mesmo ondas de conscientização por parte dos pais de crianças detentoras da então considerada doença.
Vale lembrar, no entanto, que o termo “autismo” havia antes sido utilizado para identificar o conjunto de sintomas característicos da esquizofrenia.
Graças a essa pequena confusão, muitos estudos foram realizados com objetos de estudos diferenciados.
Para encerrar essa salada-mista, Kanner postulou que para ser considerado “autismo infantil”, os sintomas deveriam surgir antes dos 30 meses de idade.
Enquanto o trabalho de Kanner foi voltado para crianças com atraso na aquisição e desenvolvimento da linguagem, tendência à repetição e rotina, Asperger trilhou por outros caminhos.
Em seus estudos, Asperger narrou características de uma síndrome na qual a inabilidade social estava associada a alto nível de inteligência, também chamados “indivíduos de alto funcionamento”.
Por isso, seus estudos começaram a receber notoriedade na década de 80. A partir daí, as semelhanças entre o autismo narrado por Kanner e a síndrome de Asperger começaram a ganhar forma, o que impulsionou diversas pesquisas clínicas e genéticas.
Dessa forma, a denominação de Kanner para “autismo infantil” e da síndrome de Asperger mostraram-se não serem as mais corretas, pois sinalizavam quadros distintos de uma mesma condição neurológica.
Assim, ambas as condições passaram a integrar o que inicialmente foi denominado como Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD).
Entretanto, com a identificação de novas condições neurológicas, criou-se um “subgrupo” TEA (Transtorno do Espectro Autista) para diferenciar essa condição de outras como a Síndrome de Rett e o Transtorno Desintegrativo da Infância.
Dessa forma, em 2014 a Associação Americana de Psiquiatria publicou um manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais.
Nesse manual, é determinado o espectro “DSM-V” que categoriza os níveis de autismo como Leve, Moderado e Avançado.
Esses níveis são categorizados de acordo com a gravidade da condição e o nível de desenvolvimento do paciente com TEA.
Autismo é uma doença?
Denominar o ‘autismo’ como uma simples doença é minimizar o transtorno e colocá-lo em uma mistura como foi realizado no início do século passado.
Afinal, apesar de ser um transtorno, dentro do mesmo existem diferentes sintomas que comprometem diferentes níveis do desenvolvimento, variando dependendo do paciente.
Por isso, fala-se em espectros do TEA.
Possíveis causas do TEA -Transtorno do Espectro Autista
Desde quando o ‘autismo’ passou a ser objeto de estudo de Kanner e diversos outros grupos de pesquisa, muito tem-se investigado em relação às possíveis causas para o desenvolvimento do TEA.
Existem, entretanto, alguns fatores que imagina-se influenciar na propensão de uma criança possuir o transtorno.
Até a década de 80 do século passado, o desenvolvimento do transtorno era atribuído diretamente aos pais e ao ambiente no qual a criança se encontrava.
Entretanto, a partir de 1980 o início de pesquisas genéticas derrubaram, em partes, essa ideia.
Hoje, estipula-se que cerca de 90% da contribuição para o transtorno seja de caráter genético e apenas 10% tenham alguma influência ambiental.
Graças ao avanço da tecnologia e a possibilidade de análises de DNA, grandes avanços foram obtidos através de análises de sequenciamento genômico de crianças com TEA e seus pais.
Assim, o consórcio “Autism Genome Project” (Projeto Genoma Autista, em tradução livre) foi capaz de identificar um gene modificado que como resultado produz uma proteína anormal (neurexina).
A presença dessa proteína anormal em indivíduos autistas já havia sido identificada previamente.
Dessa forma, com o conhecimento gerado por diferentes estudos ao redor do mundo, resultou em uma teoria até então aceita.
Acredita-se que a alteração na neurexina gera consequências ainda durante o desenvolvimento embrionário (feto).
Assim, há uma modificação no sistema nervoso, pois essa neurexina está envolvida primariamente nas sinapses neurais.
Ainda assim, é importante ressaltar que essa é “apenas” uma hipótese levantada com os dados que a academia possui por enquanto.
Além da identificação da neurexina, já foram identificados diversas porções gênicas que apresentam possíveis mutações que podem ou não ter relação com o TEA.
Entretanto, ainda não há confirmações sobre a função dessas mutações ou como elas podem estar associadas fenotípicamente ao transtorno TEA.
Portanto, ainda não há um biomarcador que seja específico para identificar o TEA.
Entretanto, esse conjunto de estudos e estudos subsequentes são fundamentais na busca da elucidação do mecanismo do TEA.
Fatores que tornam uma criança mais propensa ao TEA
Apesar das identificações genéticas, ainda é difícil determinar se o TEA é causado apenas pela mutação genética no gene da neurexina. Além do mais, alguns fatores já demonstraram também ser um possível potencializador para o desenvolvimento da doença.
Fatores genéticos
Desde o início dos estudos ainda no século XX foi observado que o ‘autismo’ e hoje TEA é altamente hereditário, ou seja, crianças que possuem pais com TEA tendem a também apresentar esse transtorno.
Contudo, a característica fenotípica (características da TEA) podem diferenciar de pai/ mãe para filho (a).
Fatores ambientais
Existem múltiplos fatores ambientais que podem estar envolvidos no desenvolvimento dessa desordem neural. Alguns deles possuem profundas evidências científicas, enquanto outros continuam sendo estudados.
- Fortes evidências
- Hypoxia no nascimento (falta de oxigênio);
- Diabetes Mellitus gestacional (não tratada);
- Menos de 12 meses de intervalo entre as gestações;
- Uso de Valproato de sódio (medicamento);
- Idade materna superior a 40 anos;
- Idade paterna superior a 50 anos;
- Obesidade materna;
- Nascimento prematuro;
- Excesso de ácido fólico.
Não existem evidências que indiquem que a vacinação infantil cause autismo, pelo contrário!
Quais são as classificações do TEA?
Conforme já foi exposto, o Transtorno do Espectro Autista é caracterizado por uma gama heterogênea de manifestações com diferentes níveis de impacto.
Dessa forma, dentro do espectro do TEA é possível identificar as características clássicas listadas por Asperger e Hanner.
Também são categorizados neles outros distúrbios desordens neurais que não se encaixam em nenhum dos grupos previamente estabelecidos.
Autismo de alto desempenho:
O autismo de alto desempenho foi classificado como síndrome de Asperger.
Nesse caso, os portadores da síndrome apresentam inabilidade social, tendências à repetitividade e gosto por rotina.
Entretanto, são indivíduos inteligentes e possivelmente verbais, de forma que muitas vezes são classificados como gênios.
Afinal, a fixação do ‘autista’ por um determinado assunto faz com que esses sejam altamente qualificados em sua área de escolha.
Esses ‘gênios’ são frequentemente retratados no cinema em uma visão quadrada que sempre classifica o “autista” como uma pessoa incomparavelmente inteligente mas sem nenhuma capacidade social.
Entretanto, alguns que estão no espectro leve e até mesmo moderado do TEA são capazes de transpor a barreira social e levar uma vida próxima do ‘normal’.
Autismo clássico
O autismo clássico está fundado nas hipóteses da Kanner. São classificados como ‘autismo clássico’ :
- Indivíduos voltados para si;
- Indivíduos incapazes ou com grande dificuldade de manter contato visual seja com pessoas ou com o ambiente em que se encontra (principalmente desconhecidos);
- Indivíduos que não utilizam da fala como meio de comunicação;
- Ausência de contato pessoal;
Em casos severos: Crianças sem apatia social, com incapacidade ou capacidade diminuída no desenvolvimento da fala com apresentação de deficiência mental.
Distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação (DGS-SOE)
Aqueles diagnosticados com DGS-SOE são indivíduos que possuem traços autistas, como dificuldade de interação social e comunicação, mas que estão dispostos no espectro leve da doença.
Como funciona a avaliação e conduta clínica do transtorno TEA?
Uma vez que ainda não existem marcadores biológicos disponíveis para a identificação do transtorno, o método utilizado hoje de diagnóstico é através da anamnese clínica.
Primordialmente, é importante que os pais estejam atentos para os indicadores comportamentais comuns do transtorno TEA.
- Movimentos estereotipados como palmas, espremer-se em corredores, correr de um lado para o outro. Crianças com espectro grave podem realizar movimentos para ferir-se como forçar a cabeça contra a parede repetitivas vezes.
- Ações repetitivas atípicas, como demonstração de obsessão por algum objeto em movimento como ventiladores, atenção exacerbada e fixação a detalhes, alinhamento/empilhamento de brinquedos de forma sistemática;
- Movimentos corporais “rígidos”, maior movimentação de uma parte do corpo, dificuldade de rolamento na idade esperada (bebês);
- Hábito de cheirar ou lamer objetos;
- Sensibilidade a sons com reação exacerbada (como foguetes, secador de cabelo);
- Fascínio luminoso ou com objetos que emitem barulhos;
- Necessidade de rotinas rígidas;
- Dificuldade para sair da rotina: até mesmo a forma que a comida deve estar disposta no prato, ou sempre beber no mesmo copo.
Mudanças nessa rotina fixa geram grande desconforto na criança que responde à mudança com acentuadas crises de choros ou gritos;
- Ecolalia imediata: repetição de palavras que acabara de ouvir;
- Ecolalia tardia: emissão de falas ou slogans que ouviram previamente sem nenhum sentido contextual;
- Não realiza a modificação de pronomes ao repetir a fala;
- Perda de habilidades previamente adquiridas.
- Pouca expressividade emocional;
- Passividade no contato corporal;
- Extremamente sensíveis em momentos de desconforto;
- Dificuldade para se expressar.
Além desses indicadores comportamentais obtidos pelo médico por meio de entrevista com pais, são realizados testes utilizando os Irdi (Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil) como instrumentos de observação.
Os Irdi são 31 indicadores que avaliam o desenvolvimento do bebê com os pais e são divididos em quatro faixas etárias distribuídas nos primeiros 18 meses de vida da criança.
Como complemento, também existem instrumentos de triagem para identificar o TEA.
O M-Chat, por exemplo, é validado no Brasil e seu uso é livre. Ele baseia-se em um questionário que contém 23 perguntas com a opção de respostas apenas o “sim” e “não”.
Essas perguntas visam identificar padrões de comportamento conhecidos com o transtorno TEA e incluem questões relacionadas à:
- Interesse da criança no engajamento social;
- Habilidade de contato visual;
- Padrões de imitação;
- Brincadeiras repetitivas;
- Uso de contato visual e gestos para pedido de ajuda
Dessa forma, o médico é capaz de avaliar os comportamentos observados e realizar o diagnóstico diferencial.
Então, é de competência do profissional realizar o delineamento do Projeto Terapêutico Singular (PTS) encaminhar o paciente a fim de que sejam realizadas as intervenções necessárias em cada caso.
Assim, o paciente pode ser encaminhado para especialistas de acordo com as necessidades do paciente. São profissionais habilitados como neurologistas, psiquiatras, neuro-psiquiatras, psicólogos e fonoaudiólogos.
Um estudo de 2018 mostrou que o exame de eletroencefalograma (EEG) associado a um algoritmo criado por Nelson e sua equipe, pode auxiliar no diagnóstico precoce em bebês com 3 meses de vida.
Este estudo apresentou um índice de acurácia de 95%. Já para bebês com 9 meses, a acurácia beira os 100%.
Por que o tratamento precoce é importante?
Sabe-se que distúrbios neurais causados pelo transtorno TEA estão relacionados com a plasticidade do cérebro. Essa plasticidade, inclusive, é fundamental para o funcionamento das conexões neurais do bebê.
Dessa forma, o diagnóstico precoce pode ter maior eficácia no processo adaptativo da criança e da família, de forma que o tratamento possa buscar diminuir a escala no espectro do transtorno TEA.
Análise Comportamental Aplicada (ABA)
A ABA é o tipo de intervenção mais utilizado que identifica os gatilhos para as manifestações da síndrome com o intuito de recompensar a criança quando o comportamento é o desejado.
Apesar de a ABA ser a mais comum, existem outros métodos como a TEACCH e o Early Start Denver Model.
Entretanto, nenhuma metodologia de intervenção pode ser aplicada sem que a criança passe por um diagnóstico diferencial por uma equipe multidisciplinar.
Vale lembrar que o diagnóstico precoce não necessariamente trará erros no diagnóstico. Entretanto, algumas coisas devem ser levadas em consideração.
Isso ocorre, pois uma vez que os sinais nos primeiros meses de vida são pouco específicos, é importante que esse diagnóstico seja conduzido da melhor forma possível, sem desvios ou viés médico.
Afinal, um diagnóstico equivocado de transtorno TEA pode gerar graves consequências para a vida do paciente.
Medicações
Além das terapias comportamentais, o uso de medicamentos pode ser indicado em crianças que desenvolvem outra condição simultânea ao TEA, como TDAH, epilepsia, depressão, ansiedade ou irritabilidade.
Qual é a incidência do TEA – Transtorno do Espectro Autista?
Dados mundiais apontam que a prevalência ( proporção de número total de casos existentes numa determinada população) de TEA está por volta de 1% da população mundial total.
No Brasil, estima-se que 1 a cada 160 crianças apresentam o transtorno TEA. Nos Estados Unidos, esse número é superior e 1 a cada 54 crianças do país são diagnosticadas com o transtorno.
Além disso, dados mundiais também apontam uma prevalência masculina na proporção de 4:1.
Ou seja, a cada 5 crianças autistas, quatro são do sexo masculino e apenas uma do sexo feminino.
Entretanto, esses dados podem ter valores diferentes em algumas décadas, pois observou-se um número crescente de diagnósticos em crianças do sexo feminino.
Leis e direitos do TEA
Apesar da crescente difusão de informação e mesmo com campanhas de conscientização por ONGs, Associações e até mesmo pelo Governo Federal, os portadores do TEA ainda precisam lidar com muitos preconceitos e paradigmas sociais formados.
Afinal, o tratamento que portadores do TEA recebem ao integrar ambientes desconhecidos e até mesmo dentro da própria família podem prejudicar o portador.
Dessa forma, a partir de esforços de organizações e clamores populares, foram instaurados no Brasil algumas leis para assegurar direitos aos portadores de TEA.
Lei 12.746/12 (Lei Berenice Piana)
A lei de 2012 criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Com essa lei, o portador de TEA tem direito ao diagnóstico precoce, terapias, tratamentos e medicamentos pelo SUS, acesso à educação e a serviços que propiciem igualdade de oportunidades.
Além disso, a lei também estipula que um indivíduo portador de TEA é considerado como portador de deficiência para os efeitos legais.
Mesmo com a Lei Berenice Piana, muitas medidas de avanço precisam ser incorporadas para que o portador de TEA seja socialmente incluído.
Um exemplo é a Lei Romero Mion (13.977/20) que estabelece a criação de uma Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea).
Com esse documento, os direitos assegurados a pessoas com deficiência são estendidos àqueles com TEA.
O estabelecimento desse documento ajuda a assegurar os direitos de pessoas com TEA conferidos a eles a partir da Lei Berenice Piana.
Lei 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS)
Dispõe sobre o Benefício de Prestação Continuada – BPC para portadores permanentes do TEA.
A lei descreve que o portador terá direito até um salário mínimo por mês quando a renda per capita familiar for inferior a ¼ do salário mínimo.
Lei 7.611/2011: Dispõe acerca da educação especializada
Lei 13.370/2016: Dispõe sobre a jornada de trabalho reduzida para servidores públicos federais que possuem filhos autistas.
Dessa forma, com essas e outras leis os portadores de TEA passaram a ter direito a:
- diagnóstico multidisciplinar gratuito;
- atendimento sem carência;
- medicação gratuita;
- direito à vaga em escola;
- direito à transporte;
- acompanhamento auxiliar de educação inclusiva;
- adaptação de material didático;
- vagas exclusivas em empresas (vagas PCD).
Contudo, por mais que os direitos de portadores de TEA estejam estabelecidos e garantidos por lei, muitos portadores de TEA e familiares próximos não são orientados sobre elas.
Transtorno do Espectro Autista e a infância
Uma preocupação fundamental quando se trata de uma criança com transtorno TEA é a forma como a mesma irá experienciar a infância.
Uma criança com autismo pode levar uma vida normal?
Uma das dúvidas mais comuns em relação a uma criança com TEA é como a sua vida será levada de forma “normal”.
Um estudo realizado no Canadá com 272 crianças mostrou que crianças que possuem um ambiente familiar com bom funcionamento acarretou melhores desempenhos sociais e educacionais em crianças avaliadas durante a primeira e segunda infância.
Dessa forma, esse estudo corrobora o que muitos estudos anteriores já hipotetizaram: um ambiente familiar dedicado no qual os pais participam ativamente na vida do filho (a) com TEA pode auxiliar no desenvolvimento ‘normal’ da criança.
Afinal, independente do distúrbio, essa criança também precisa de carinho, afeto, estrutura familiar e educação.
Além disso, pais presentes somados ao tratamento precoce da doença não é capaz de reverter, mas minimizar o quadro clínico da criança.
Quais as principais características de uma criança com TEA?
Crianças com TEA tendem a apresentar déficit na comunicação e interação social, além de apresentar manifestações comportamentais atípicas e padrões de comportamento repetitivos.
Apesar de não ser via de regra, é comum que essas crianças apresentem também um repertório restrito de interesse: como assistir fixamente apenas um filme por meses.
Uma vez que muitas são apegadas à rotina, crianças com TEA tendem a não ser muito abertas a mudanças de ambientes e pessoas.
Além disso, junto com o transtorno TEA são observados alguns quadros de TDAH e possivelmente crises de agitação ou agressividade.
A importância do papel familiar
A importância da presença familiar saudável na vida de uma criança é indiscutível. Contudo, é importante que o seio familiar acolha a rotina da própria criança.
Assim, é importante atentar-se não apenas aos hábitos da criança, a fim de criar estímulo naquilo que as interessa.
Outro ponto é buscar desenvolver na criança bons hábitos de sono, mantendo luzes e qualquer distração fora de seu alcance.
E, apesar de crianças com TEA terem uma tendência maior de não serem capazes de expressar seus sentimentos ou serem mais introvertidas, não muda o fato de que o apoio familiar à criança, e principalmente o incentivo ao aprendizado podem ser armas decisivas para a inclusão infantil.
Existe remédio natural para TEA?
Apesar de serem ostensivos o número de estudos em relação ao transtorno TEA, pouco se tem publicado em relação ao uso da medicina alternativa (incluindo remédios naturais) para o tratamento de TEA.
Este estudo, por exemplo, trouxe algumas conclusões importantes.
A mais significativa delas foi a melhora nos quadros e na pontuação da Escala de Avaliação do Autismo na Infância após a utilização de tratamento à base de remédios fitoterápicos.
Além disso, há a indicação que o uso desse tipo de terapia de forma complementar ao tratamento convencional, sobretudo em crianças, pode trazer melhorias com relação à diminuição da concentração de remédios comuns.
Esses remédios costumam trazer níveis significativos de efeitos adversos, o que pode ser um fator desencorajador para sua utilização, tanto pelas crianças quanto pelos seus pais.
Nesse sentido, remédios naturais para o tratamento do TEA demonstram-se como importantes ferramentas no tratamento, embora apenas de forma complementar.
Por fim, alguns outros estudos de baixa escala demonstraram alguns avanços:
- O tratamento de 15 crianças utilizando duas plantas tradicionais chinesas mostrou-se promissor na melhora da atenção, habilidade de coesão e capacidade de resolução de problema das crianças;
- Utilizando uma planta medicinal do japão, 90% dos pacientes com TEA que também possuíam sintomas de demência tiveram melhoria em seu comportamento sintomático.
- Estudo brasileiro mostra que dos 18 pacientes tratados com CBD e THC, 10 pacientes demonstraram melhora em categorias como TDAH, Além disso, foram relatados apenas efeitos adversosDéficit de comunicação social, Déficit em distúrbios comportamentais, dentre outras categorias.
- leves.
Cannabis medicinal como auxiliar no tratamento do TEA
O consumo de CBD já mostrou-se eficiente na regulação dos níveis de GABA, glutamina e glutamato no cérebro.
Essa regulação realizada pelo sistema endocanabinóide auxilia na regulação de receptores inibitórios e excitatórios de neurotransmissores.
Por isso, nos estudos coorte realizados foi possível observar melhorias comportamentais em indivíduos autistas.
Ou seja, fortes evidências apontam que a Cannabis sativa e o CBD enriquecido podem auxiliar nos sintomas positivos de indivíduos que possuem TEA.
Entretanto, para se ter uma noção completa da capacidade de ação do CBD em pacientes autistas, assim como seus efeitos a longo prazo, são necessários estudos mais abrangentes, como maior espaço amostral por longo período de tratamento.
Como é feito o tratamento por meio da Cannabis medicinal?
O tratamento para TEA utiliza o Canabidiol (CBD) ou o Canabidiol enriquecido, ambos extraídos da Cannabis sativa para amenização de manifestações positivas como agressividade.
Além disso, relatos de casos mostram que o uso da substância também ameniza sintomas de TDAH e auxiliam na sociabilidade dos pacientes.
Para determinar o protocolo de tratamento, além da anamnese e diagnóstico diferencial, é necessário avaliar individualmente a necessidade de cada paciente de acordo com suas manifestações clínicas.
Além disso, o uso do CBD não exclui o tratamento ‘convencional’ do TEA, e deve ser utilizado em conjunto com o protocolo de tratamento tradicional.
Vale lembrar também que os medicamentos a base de Cannabis sativa possuem em sua composição principalmente o canabidiol e o THC.
Os níveis de THC (substância psicotrópica) em óleos essenciais e cápsulas de CBD são muito inferiores ao valor necessário para ação de seu efeito neural.
Já o CBD não possui ação psicotrópica, ou seja, não causa efeitos adversos como alucinações ou dependência no paciente que faz seu uso.
Estudos que indicam benefícios da Cannabis (CBD) para TEA
A cada ano cresce o número de pesquisas em relação ao uso do CBD para o tratamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista.
Muitos, são realizados em Israel, uma vez que o país já autorizou há alguns anos pesquisas clínicas utilizando a Cannabis como medicamento de estudo.
Uma pesquisa realizada com 188 pacientes israelenses (de 5 a 19 anos) acometidos pelo TEA administrou óleo enriquecido com 30% de CBD e 1,5% de THC de forma sublingual três vezes ao dia.
Segundo o grupo, o uso da Cannabis por pacientes com TEA foi bem tolerado e demonstrou aliviar sintomas como depressão e surtos de raiva. Além disso, o tratamento foi bem aceito, e apenas 15% dos pacientes deixaram os estudos.
Da mesma forma, uma pesquisa estadunidense com 156 participantes que já faziam uso de Cannabis ou formas derivadas mostrou que 46-65% dos pacientes reportaram melhorias em seus problemas de irritabilidade.
Além disso, houve melhora de 26 a 39% na qualidade do sono, 26 a 42% em interações sociais e 16 a 41% em seus quadros depressivos.
Além disso, o uso do CBD e do THC produziram efeitos colaterais leves em menos de 5% dos pacientes.
Já na Inglaterra, uma pesquisa com 34 adultos (sendo eles 17 portadores de TEA e 17 sem) mostrou que ao administrar 600mg de CBD por via oral, a substância é capaz de alterar a função cerebral em áreas afetadas pelo TEA.
Onde buscar ajuda para tratamento de TEA – Transtorno do Espectro Autista?
O tratamento para o transtorno TEA está disponível de forma gratuita pelo SUS.
No Sistema Único de Saúde, a criança tem (garantido por lei) o direito ao diagnóstico diferencial e o acesso a uma equipe multidisciplinar. Além disso, o tratamento ABA também deve ser disponibilizado de forma gratuita.
Entretanto, o uso do CBD pode ser disponibilizado pelo SUS se seguidos os seguintes requisitos:
Registro na Anvisa: O Canabidiol para fins medicinais possui registro de autorização na Anvisa para importação, comercialização e fabricação em território nacional.
Incapacidade financeira: Deve-se comprovar a incapacidade financeira por parte do paciente para custear o tratamento com o uso de Canabidiol. Caso o órgão público responsável se negue a fornecer a medicação, pode-se judicializar a questão.
Para isso, procure um advogado e entenda melhor os seus direitos.
Não há outro medicamento tão eficaz quanto o CBD para o tratamento da doença ou da condição: o médico prescritor deve afirmar de forma expressa qdeve afirmar que não existe outro medicamento na lista do SUS igualmente eficaz para tratar a doença.
Para tal, é importante obedecer as diretrizes do Ministério da Saúde que indicam a necessidade da prescrição por parte de um profissional habilitado para realizar tratamentos de saúde.
Além disso, é necessário que o produto à base de Cannabis seja especificamente para fins de tratamento médico.
Por isso, é necessário o contato com médicos especializados, que já tenham experiência tanto com o transtorno TEA quanto com o uso do CBD no tratamento..
A partir da consulta, o médico avalia o caso específico do paciente e pode prescrever medicamentos à base de canabidiol se este for o caso mais indicado.
Há poucos médicos com experiência em tratamento canabinoide no Brasil. Para se ter uma ideia, de acordo com o último levantamento da Anvisa, 0,4% dos médicos brasileiros prescrevem Cannabis para os seus pacientes.
Por isso, a Cannabis e Saúde possui uma plataforma com mais de 150 médicos com experiência em tratamento canabinoide, que realizam atendimentos de forma presencial e remota, nas mais diversas áreas.
E-book Autismo e Cannabis Medicinal
Com base nas questões relevantes sobre o autismo e a Cannabis Medicinal, desenvolvemos um e-book completo sobre o tema, abordando as principais características da doença e suas possíveis causas.
Além disso, por meio deste material você terá acesso a estudos clínicos que comprovam a eficácia do tratamento da Cannabis.
Conclusão
O TEA diz respeito a um espectro de distúrbios neurais que possuem manifestações muito heterogêneas, o que torna o tratamento individualizado como a principal saída para o problema.
Embora acometa cerca de 1% da população mundial, ainda não existem medicamentos ou tratamentos para reverter a desordem neural.
Entretanto, o diagnóstico precoce e tratamento adequado podem minimizar as manifestações do transtorno.
O uso de extratos à base da planta Cannabis no tratamento do autismo são autorizados pela ANVISA e, para isso, devem contar com uma receita médica especial.
Esta receita pode ser obtida através de médicos que já estejam habituados a atender pacientes portadores de autismo e que conheça sobre os benefícios do CBD na melhora dos sintomas desse transtorno.