Estima-se que entre 3% e 5% da população mundial já experimentou a Cannabis pelo menos uma vez, com a maior parte desse uso sendo recreativo. Dentre os usuários frequentes, pode surgir o que é chamado de síndrome de hiperêmese por canabinoide (SHC).
A síndrome de hiperêmese por canabinoide é uma condição que provoca dor abdominal, náuseas e vômitos em pessoas que consomem Cannabis de forma excessiva durante um longo período.
Os primeiros casos desta síndrome foram identificados em 2003 por pesquisadores australianos, que observaram sintomas semelhantes em 10 pacientes, associando-os ao uso abusivo da planta.
Curiosamente, esses episódios não respondem bem a antieméticos convencionais, mas podem ter sua gravidade atenuada através de um banho quente.
Quer saber mais sobre a síndrome de hiperêmese por canabinoide? Então, acompanhe a leitura abaixo:
- O que é síndrome de hiperêmese por canabinoide?
- Quando a síndrome de hiperêmese por canabinoide pode ocorrer?
- Quais são os sintomas da síndrome de hiperêmese por canabinoide?
- Quanto tempo dura a síndrome de hiperêmese por canabinoide?
- Como é feito o tratamento da síndrome de hiperêmese por canabinoide?
- É possível prevenir a síndrome de hiperêmese por canabinoide?
- Onde iniciar um tratamento seguro com a Cannabis medicinal?
O que é síndrome de hiperêmese por canabinoide?
A síndrome da hiperêmese por canabinoide (SHC) é uma condição rara na qual um paciente apresenta náuseas, vômitos e dor abdominal cíclicos após usar Cannabis por muito tempo e em doses muito altas.
Esse distúrbio é caracterizado por:
- Uso anterior de Cannabis, antes do início das crises;
- Um padrão cíclico de hiperêmese a cada poucas semanas, momento em que o paciente ainda está usando Cannabis;
- Resolução dos sintomas após a cessação do uso da Cannabis.
Os sintomas característicos da SHC incluem dor abdominal e a necessidade de vomitar repetidamente, que ocorrem de forma intermitente.
A presença de receptores nos sistemas neurológicos e gastrointestinais, pelos quais a Cannabis exerce sua ação, torna surpreendente que essa substância, utilizada como antiemético, possa também desencadear episódios de vômito.
A teoria é que a síndrome da hiperêmese por canabinoide ocorre por meio da estimulação excessiva dos receptores CB1, resultando em desregulação do controle natural do organismo sobre náuseas e vômitos.
O tetrahidrocanabinol (THC), o componente psicoativo da Cannabis, exerce um efeito regulador no apetite e na sensação de náusea.
Entretanto, com a exposição contínua, o corpo pode desenvolver uma espécie de hipersensibilidade a esses compostos, levando à ativação excessiva de vias que controlam o vômito.
A náusea intensa e a compulsão de vômito podem criar um ciclo vicioso, onde o desejo de aliviar esses sintomas leva à utilização contínua de Cannabis, agravando a situação.
Curiosamente, muitos afetados relatam que o calor, como em banhos quentes, atenua temporariamente os sintomas, fazendo com que essa estratégia se torne uma rotina durante as crises.
Quando a síndrome de hiperêmese por canabinoide pode ocorrer?
A síndrome de hiperêmese por canabinoide, apesar de ser rara, surge após períodos de uso contínuo de Cannabis rica em THC, geralmente em indivíduos que adotam a planta como parte de sua rotina diária e a consomem em quantidades muito altas.
Não é comum em pessoas que fazem uso de canabinoides com acompanhamento médico, buscando alívio para condições como dor crônica, ansiedade ou problemas gastrointestinais.
O padrão de uso também influencia a ocorrência; muitos usuários que fumam ou vaporizam estão mais vulneráveis ao desenvolvimento da condição.
É possível que a sensibilidade individual também influencie. Algumas pessoas, mesmo com hábitos frequentes de consumo, não desenvolvem a SHC, enquanto outras reagem de forma adversa ao uso agudo de Cannabis.
Curiosamente, essa síndrome pode aparecer após anos de uso sem incidentes. A mudança na forma de consumo, como a transição para produtos com concentrações mais altas de THC, pode ser uma das razões para isso.
Quais são os sintomas da síndrome de hiperêmese por canabinoide?
Quando o cérebro detecta estímulos prejudiciais, como cheiro desagradável ou uma lembrança angustiante, há uma ativação da área postrema, que desencadeia a estimulação vagal.
Esse processo neuroendócrino provoca uma série de reações, como a salivação, o fechamento da glote e o retroperistaltismo que empurra o conteúdo do intestino delgado de volta para o estômago.
Isso, por sua vez, leva à contração dos músculos estomacais e abdominais, resultando na expulsão do vômito.
Como o trato gastrointestinal possui receptores canabinoides e outras substâncias que podem influenciar o ato de vomitar, o uso excessivo e desregulado da Cannabis pode afetá-los, provocando os seguintes sintomas:
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Náuseas e vômitos cíclicos
A síndrome de hiperêmese por canabinoide se caracteriza pela ocorrência de náuseas e vômitos que surgem em episódios cíclicos, impactando profundamente a vida dos indivíduos afetados.
O tetrahidrocanabinol (THC) atua nos receptores canabinoides do cérebro, especialmente os tipos CB1 e CB2. Esses receptores estão presentes em regiões que regulam a sensação de vômito, como o núcleo do trato solitário.
A ativação dos receptores CB1 na área postrema tem influência direta no reflexo de vômito.
Em usuários crônicos, essa ativação pode levar à dessensibilização dos receptores, fazendo com que o corpo reaja de maneira exagerada a estímulos que normalmente não provocam náusea.
Além disso, a disfunção no sistema endocanabinoide afeta a motilidade gastrointestinal, contribuindo para uma sensação persistente de náusea, seguida de episódios de vômito.
A frequência das crises varia, mas muitas vezes, as crises de vômitos podem chegar a ocorrer entre 14 a 15 vezes por dia.
À medida que a situação se agrava, o desejo de consumir alimentos e bebidas diminui, uma vez que qualquer ingestão frequentemente resulta em nova onda de náuseas.
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Dor abdominal
O uso excessivo de Cannabis, especialmente em formas que contêm altas concentrações de THC, altera o funcionamento normal do trato gastrointestinal.
Essa modificação se dá principalmente pela interação do THC com os receptores CB1 presentes no intestino, que auxiliam na regulação da motilidade intestinal e na percepção da dor.
Quando este receptor é ativado em excesso, ocorre uma diminuição da motilidade intestinal.
Essa diminuição provoca um atraso na passagem de alimentos pelo trato digestivo, levando à distensão abdominal e, consequentemente, à dor.
O corpo reage a essa distensão gerando uma resposta inflamatória, que ativa nervos sensoriais no intestino, causando uma sensação de dor abdominal aguda.
Adicionalmente, o estado emocional do indivíduo também influencia a percepção da dor. Durante os episódios de náusea e vômito, a ansiedade aumenta, o que intensifica o desconforto.
O sistema nervoso autônomo, que regula as funções involuntárias do corpo, entra em modo de alerta, resultando em uma tensão muscular generalizada, que afeta ainda mais a região abdominal.
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Desidratação
A desidratação é uma consequência dos episódios de vômito experimentados na síndrome de hiperêmese por canabinoide.
A perda de fluidos se intensifica com a frequência e a gravidade dos vômitos, levando o corpo a um estado crítico de desequilíbrio hídrico.
Essa situação se agrava com a aversão à ingestão de líquidos durante as crises, uma vez que o desconforto pode impedir qualquer tentativa de hidratação.
Os efeitos da desidratação se manifestam em sintomas como fadiga extrema, boca seca e, em casos severos, problemas mais sérios que afetam a saúde geral.
Ademais, o hormônio antidiurético, também conhecido como vasopressina, é liberado em resposta ao estresse hídrico.
A liberação desse hormônio busca conservar água nos rins, mas essa resposta pode não ser suficiente para compensar a perda significativa de fluidos durante os episódios de vômito.
Assim, o corpo entra em um estado de desidratação que também afeta a eficiência dos rins na excreção de resíduos.
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Agitação e ansiedade
Agitação e ansiedade frequentemente acompanham a síndrome de hiperêmese por canabinoide.
A incerteza sobre a próxima crise gera um estado de alerta constante, onde a mente parece não descansar. Essa inquietação é alimentada pela frustração de viver em um ciclo de sintomas desgastantes.
Com isso, o sistema nervoso autônomo, responsável pela resposta ao estresse, ativa o sistema simpático, elevando a frequência cardíaca e a pressão arterial.
A sensação de perda de controle é outro fator causador da ansiedade na síndrome de hiperêmese por canabinoide.
O desejo de aliviar os sintomas muitas vezes colide com a incapacidade de prever as crises, fazendo com o que o indivíduo fique sempre ansioso.
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Perda de peso
Quando o corpo passa por ciclos repetidos de vômito, a aversão à comida se torna comum.
Do mesmo modo, o sistema endocanabinoide, que regula o apetite e a saciedade, é afetado negativamente pela síndrome.
Embora o uso de Cannabis normalmente estimule o apetite, em casos de hiperêmese, essa regulação se torna disfuncional.
O cérebro, ao perceber a sensação de náusea, inibe o desejo de se alimentar, resultando em um balanço calórico negativo.
E conforme a ingestão de nutrientes diminui, o corpo começa a utilizar suas reservas de gordura e massa muscular para suprir a energia necessária, ocasionando em perda de peso.
A perda de peso pode levar a fraqueza muscular, diminuição da resistência e problemas de imunidade, criando um ciclo onde a saúde geral é deteriorada.
Portanto, a perda de peso na síndrome de hiperêmese por canabinoide representa um aspecto crítico da condição que precisa ser manejado o quanto antes.
Quanto tempo dura a síndrome de hiperêmese por canabinoide?
Para muitos, os sintomas da síndrome de hiperêmese por canabinoide surgem após um uso prolongado de Cannabis.
O corpo, ao se adaptar à presença contínua da substância, pode alterar suas respostas fisiológicas.
Ao interromper o uso de Cannabis, os indivíduos começam a perceber uma melhora nos sintomas. A recuperação não ocorre de forma instantânea; pode levar semanas para que o corpo retome seu funcionamento normal.
Os sintomas podem ser revertidos durante o uso da Cannabis?
Para alguns indivíduos, o uso continuado da Cannabis contribui para um ciclo contínuo de náuseas e vômitos.
Essa condição se origina em uma adaptação do organismo, que começa a responder de forma adversa aos canabinoides, afetando diretamente o sistema gastrointestinal.
A fisiologia do corpo humano é adaptável, e uma vez que os canabinoides não estão mais presentes em excesso, o organismo começa a restaurar seu equilíbrio, permitindo que a pessoa recupere a saúde e o bem-estar.
Como é feito o tratamento da síndrome de hiperêmese por canabinoide?
Controlar a síndrome de hiperêmese por canabinoide é um grande desafio, em grande parte devido à resistência dos sintomas aos tratamentos antieméticos convencionais, como a metoclopramida.
Portanto, o manejo inicial frequentemente envolve a descontinuação do uso de Cannabis, mas o manejo dos sintomas ainda é necessário.
Recentemente, a literatura médica tem explorado outras abordagens terapêuticas. Benzodiazepínicos em curto prazo, por exemplo, têm sido utilizados para ajudar a controlar a ansiedade e o desconforto abdominal.
Em relação ao controle a longo prazo, antidepressivos tricíclicos, além de sua função como estabilizadores de humor, atuam como antagonistas dos receptores de serotonina e podem ajudar a reduzir a náusea.
Antiepilépticos, como o levetiracetam, e antipsicóticos, como o haloperidol, também têm sido mencionados em estudos de caso. Esses medicamentos atuam nos receptores de dopamina D2 e D3, ajudando a diminuir a êmese.
Do mesmo modo, antagonistas da serotonina, como dolasetron e granisetron, têm mostrado eficácia variável, dependendo da condição do paciente.
Medicações com efeitos anticolinérgicos também podem ser utilizadas, embora sua eficácia seja limitada no contexto do tratamento da dor abdominal intensa, uma queixa comum entre os pacientes.
Quando a síndrome se torna severa, a administração intravenosa de fluidos e eletrólitos é frequentemente necessária para evitar a desidratação.
É possível prevenir a síndrome de hiperêmese por canabinoide?
O uso controlado de Cannabis, em que a dosagem e a frequência são monitoradas, diminui a probabilidade de desenvolvimento da síndrome.
Limitar a quantidade e a intensidade do consumo ajuda a evitar que o corpo se adapte de maneira desfavorável aos canabinoides, prevenindo a manifestação de sintomas indesejados.
Para aqueles com histórico de problemas gastrointestinais ou de saúde mental, é ainda mais relevante que a utilização da Cannabis seja feita apenas com acompanhamento médico.
Onde iniciar um tratamento seguro com a Cannabis medicinal?
O aumento de evidências científicas favoráveis a respeito dos benefícios da Cannabis expandiu a busca por esta abordagem terapêutica entre pacientes com diferentes condições de saúde.
Embora o uso da Cannabis para tratamento seja seguro e conte com a aprovação legal da Anvisa, ainda há poucos profissionais prescritores que possam atender a esta demanda.
Devido a esses fatores, pode ser desafiador encontrar um médico prescritor de tratamento à base de Cannabis.
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Conclusão
A síndrome de hiperêmese por canabinoide é uma condição complexa, muitas vezes subdiagnosticada, que afeta usuários crônicos de Cannabis.
Seu impacto na qualidade de vida é inegável, e o manejo dos sintomas desafia tanto pacientes quanto profissionais de saúde.
O reconhecimento dos fatores que contribuem para a SHC, assim como as práticas de uso responsável, auxilia na prevenção do seu desenvolvimento e mitigação dos riscos associados.
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