A terceira edição do Seminário Internacional: Cannabis Medicinal Um olhar para o Futuro, no Rio de Janeiro, reuniu especialistas e convidados para falar sobre a Cannabis, pensando principalmente na saúde pública, pesquisa, regulação e acesso ao medicamento. O primeiro dia foi recheado de debates interessantes no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
O evento é organizado pela Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está sendo transmitido pelo canal do YouTube da associação, os vídeos ficarão disponíveis em breve.
Fiocruz investindo em pesquisas científicas sobre Cannabis
Foi logo na abertura do evento que foi apontado como deve ser o futuro da Cannabis no país: fruto de muita pesquisa. A Fiocruz anunciou que vai investir na pesquisa do uso medicinal da planta em parceria com a Apepi, assim como fazem outras instituições como a Unicamp, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico.
Nas associações de pacientes é feito um acompanhamento de grande parte do processo que vai desde o cultivo das plantas até a orientação da terapia junto com os associados, esses dados são preciosos para os investigadores.
Com a proposta de debater a regulação, não compareceu a reguladora. Apesar de ter sido convidada, a Anvisa não enviou nenhum representante para o seminário. A agência é vinculada ao Ministério da Saúde, assim como a Fiocruz, que é uma das organizadoras do encontro.
Uma presença não anunciada foi a de Sofia Langenbach, que inspirou e motivou a criação da Apepi. Um filme sobre a trajetória dela está sendo feito e aconteceram filmagens durante o evento.
Sidarta Ribeiro faz paralelo entre a Cannabis e a capoeira
Se fosse um festival de música, Sidarta seria um dos headliners. O neurocientista era um dos depoimentos mais aguardados do dia e lotou o auditório. Ele falou da importância da Cannabis para medicina do século em que vivemos.
“A maconha está para a medicina do século XXI como os antibióticos estiveram para a medicina do século XX. Uma revolução que não pode ser parada, não pode ser ignorada, precisa ser acompanhada. O Brasil precisa entrar no século XXI e a maconha medicinal é uma realidade.” disse o neurocientista para a repórter Manuela Borges no nosso Instagram.
Ele lembrou que a capoeira foi criminalizada no passado e hoje em dia é uma dos maiores símbolos da cultura brasileira, e a Cannabis deve seguir o mesmo caminho. A experiência ficou completa quando todos foram convidados a fazer uma roda de capoeira onde estava presente o próprio Sidarta.
Duas salas, muitas perspectivas
São dois auditórios com seminários simultâneos, os debates que aconteceram na Sala B trataram de temas pertinentes a quem se interessa em cultivar o próprio medicamento, mostrando desafios e possibilidades na pesquisa, cultivo e extração. Já na Sala A os depoimentos estavam voltados para a relação que nós humanos temos com a Cannabis e como ela pode ser melhorada no Brasil.
Agronomia e os desafios do cultivo no Brasil
Na mesa sobre Agronomia e os desafios do cultivo no Brasil participaram os agrônomos Alex Pimentel e Laura Espósito, o gestor de cultivo Raphael Meduza e o empresário Marcelo Pinhel. Foi importante falar sobre o tema do cultivo, já que com a decisão do STJ de permitir o autocultivo para fins medicinais, muitos podem ter se empolgado com a possibilidade de plantar o próprio medicamento. Temas como a nutrição, preparação do ambiente de cultivo e seleção genética foram mencionados.
Laura Espósito fez um estudo, que está disponível gratuitamente, analisando as características fitoquímicas de plantas de Cannabis e comentou sobre a identificação de um canabinoide em plantas macho. Alex Pimentel, que é agrônomo da associação Abrace Esperança, falou sobre os desafios regulamentares que são característicos do cultivo de Cannabis. Também alertou que nutrientes sintéticos vão fazer com que os medicamentos feitos a partir dessas plantas pode conter impurezas.
Extração, análise e produção de medicamentos à base de Cannabis
Esse tema é fundamental na etapa após a colheita. Os canabinoides precisam ser extraídos e o medicamento precisa ser analisado minuciosamente para que cause a resposta terapêutica adequada nos pacientes. João Gabriel já falou sobre seu trabalho aqui no Cannabis & Saúde e deu um depoimento técnico sobre o processo de descarboxilação.
Os outros participantes do seminário foram professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Luiz da Costa e Priscila Gava. O primeiro atua em cooperação com a Apepi no controle de produção e de qualidade dos óleos que a associação produz, ele mostrou resultados de análises de alguns produtos que foram feitos na universidade. Já Priscila lembrou que as resoluções da Anvisa limitam as vias de administração e a forma dos medicamentos, diminuindo as possibilidades de tratamentos no país, por enquanto.
Tivemos também mesas com os temas Inovação e fomento à pesquisa; Usos tradicionais da Cannabis: uma longa história na humanidade; Cannabis, farmácia viva e aspectos regulatórios e A economia da Cannabis e sua relação com sustentabilidade, ESG e ODS.
A evento continua e você acompanha tudo por aqui e também nas redes sociais do Cannabis & Saúde, vão rolar mais palestras e o anúncio dos três trabalhos acadêmicos escolhidos para receber o prêmio Elisaldo Carlini.