Rosana Takako Ide encontrou na Cannabis a peça que faltava em sua medicina integrativa
A médica Rosana Takako Ide sempre foi uma pioneira. Quando decidiu por se especializar em geriatria, no início da década de 90, a especialidade mal havia chegado ao País.
Fez residência em medicina preventiva, mas teve de viajar para o Japão para se aprofundar na medicina que escolhera. “Eu queria algo diferente, que fosse novo. A geriatria me encantou por ser um trabalho multidisciplinar, porque acreditava e ainda acredito nisso”, lembra a geriatra.
De volta ao Brasil, Takako seguiu a especialidade que sempre sonhou, tornando-se membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Um belo dia, porém, sua inquietação retornou.
“Em 98, me deparei com uma situação que me mudou. Um dia, ao final do expediente, percebi que tinha prescrito anti-inflamatório para todos idosos que atendi”, conta. “Ali me bateu. Foi a primeira tomada de consciência que tive. Tem alguma coisa errada. Mês que vem o idoso vai voltar, porque eles têm dores, e vou só prescrever um outro anti-inflamatório, de outra marca.”
Em busca de alternativas
Ela sentiu que precisava encontrar alternativas. Buscou na acupuntura, mas, após três anos de formação, sentiu que precisava de mais. “O professor era de uma linha muito racionalista. Não acreditava que as emoções influenciam na saúde e aquilo abatia torto dentro de mim.”
Buscou uma alternativa e, ainda dentro da acupuntura, buscou quem trabalhasse uma linha diferente. “O professor dizia sobre a relação das emoções com as doenças e falava de meditação. Foi aí que comecei a meditar e vi que fazia toda a diferença. Mudou minha vida.”
Sua experiência levou à uma iniciativa visionária para aquele ano 2000. “Eu me empenhei para fazer parte de um grupo que visava levar a medicina chinesa para o serviço público”, diz a geriatra.
“Fiquei um tempo na coordenação do centro de saúde do Tucuruvi e lá ensinava médicos. Implantei um centro que tinha ioga, sala de meditação, acupuntura… A gente fez a primeira sala de meditação em um hospital público na América Latina.”
“Era uma coisa variada. Na época, a gente já fazia práticas integrativas, embora não tivesse esse nome”, continuou. “Hoje é uma área reconhecida com diversas áreas de atuação no cuidado da saúde. Esse nome começou a ser usado em 2005, mas a gente já fazia.”
Transformação pessoal
No entanto, o quebra-cabeças de sua formação ainda estava longe de estar completo. Se aprofundou na ioga, modificou sua alimentação, adotando uma dieta vegana e, no ano de 2005, com o nascimento de sua filha, decidiu se aprofundar ainda mais na questão.
“Cheguei na Ayurveda, a medicina indiana. Recebi um panfleto que falava de rejuvenescimento, limpeza, fitoterapia, tratamento para idosos e pensei: nossa, tem tudo a ver comigo”, relata.
“A Ayurveda fala que cada um é um. Cada ser humano tem as tendências, mas cada um funciona de um jeito. Ali começou a fazer sentido para mim. Porque um anti-inflamatório funcionava para mim, mas o mesmo não funcionava para outros.”
Foi quando decidiu deixar o serviço público e criou um espaço em que poderia aplicar a medicina integrativa com todo seu potencial. “Criei o instituto Satya, com uma visão holística do ser humano. Trabalho o corpo físico, a mente, energia e o espiritual.
Mas ainda faltavam outras peças. Se formou em terapia neural e agora cursa nutrologia para embasar seu projeto de livro que relaciona a alimentação aos estados de consciência. Tanta formação e especialização que quase deixou de completar o quebra cabeça.
Tratamentos com Cannabis
“Em 2015, teve o primeiro congresso do Brasil sobre Cannabis. Recebi o chamado, mas era tanta coisa que estudo. Mais uma coisa e deixei de lado”, lembra.
“Mas, em 2019, aconteceu um fato bem interessante. Na mesma semana, diversos pacientes e amigas vieram me falar de Cannabis. Um era geriátrico, outro com dor, outra com ansiedade. Foram chegando e falando: ‘nossa, Rosana, é tão bom. Se você soubesse’. E aquilo me chamou atenção”, prosseguiu.
“Eu trabalho muito com sincronicidade. Eu aprendi que se você não sabe o próximo passo, veja a sincronicidade. Eu falei, será? Confesso que eu ainda tinha um pouco de preconceito.”
Seu julgamento começou a mudar quando ganhou um vidrinho do óleo e se colocou como a primeira paciente. “Eu comecei e foi uma coisa instantânea. Parece que num clique de dedos em me sentia bem. Falei : gente!”
Primeiros pacientes
Dois casos, porém, não deixaram dúvida de que essa ferramenta terapêutica poderia ser bastante útil. “O pai de uma amiga, que estava dentro de um centro geriátrico, com um grau de Alzheimer agressivo, sem comer, batendo nas enfermeiras. Eu fui avaliá-lo e dei umas gotinhas. Ele simplesmente mudou. Ficou calmo, passou a interagir, a comer. Foi incrível.”
Em seguida, um episódio ainda mais surpreendente. “O pai de um amigo estava na UTI, perto de fazer a passagem. Os médicos tinham chamado ele para se despedir do pai, que ia morrer em horas”, conta a geriatra.
“Eu fui para o hospital para ver ele. Eu tava com o vidrinho do óleo. Eu falei, olha, posso dar umas gotas para seu pai, que se ele for, vai bem, vai mais calmo.”
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Pegou uma gota, colocou na boca do paciente e aplicou um pouco também sobre a pele também e foi embora. Passou uma semana e nada do amigo entrar em contato para contar como tinha sido a passagem do pai.
“Eu liguei perguntando como é que foi e ele fala: ‘você não acredita. Ele saiu daquele estado. Os médicos estão querendo levar para o quarto já, mas não sabem o que aconteceu”, relata Takako.
“A única coisa diferente foi o óleo de Cannabis que tinha dado. Mas será que é possível? Será que esse negócio é tão poderoso assim? Continuei dando o óleo, foi melhorando, teve alta. Foi morrer um ano mais tarde quando já tinha chegado a hora dele. Ai vi que esse negócio é poderoso mesmo. Deixa eu estudar isso.”
Médica prescritora de Cannabis
Há cerca de dois anos e meio a geriatra é prescritora de Cannabis medicinal, mas acredita que ainda há muito para aprender. “Sou uma jovem como terapeuta canábica. Tenho prescrito para uma grande parte dos pacientes e o resultado que faz você acreditar no potencial do tratamento com Cannabis.”
“Por enquanto é só terapia canábica e eu já vejo dentro das práticas integrativas. Para mim isso é claro. Só que eu sinto que a Cannabis vai virar uma especialidade médica, onde cada especialidade pode trabalhar com a Cannabis em neuro, geriatria, psiquiatria. A Cannabis pode se tornar um grande programa médico.”
Sua experiência como pioneira mostra que há coisas que algumas tendências são irreversíveis. Assim como quando ingressou na acupuntura era discriminada por médicos que hoje, 20 anos depois, utilizam da técnica, será com os canabinoides.
“A Cannabis veio para ficar. Não tem como retroceder. independente da política, já está aí. Se a política for inteligente, vai saber usar da melhor forma essa medicina. A única questão é o paciente, tem as barreiras financeiras e, em mínimos casos, alguns ainda tem um preconceito.”
Aos 55 anos, acredita que o tempo vai mudar de vez o panorama. “A Cannabis é um grande instrumento nesse momento que a gente passa por tanto sofrimento, em diversos graus”, concluiu. “Entendo a Cannabis como a corda que Deus jogou para a gente. Para poder se segurar nesse momento difícil que a humanidade está passando.”