Uma noite de exageros marcou a vida de Vinícius Major, de 27 anos. Ainda aos 16 anos, um porre culminou em coma alcoólico, agravado por uma série de convulsões. “Os médicos falaram que, apesar da bebida causar vários sintomas, não é comum que desperte múltiplas convulsões.”
Com a experiência, Vinícius parou de beber e seguiu sua vida. Até que, poucos meses depois, sua manhã foi interrompida com mais uma convulsão. “O neurologista prescreveu ácido valpróico, um anticonvulsivante, para ver se dava uma segurada.”
Alguns meses depois, mais uma convulsão. “A neurologista decidiu aumentar a dose do medicamento. Eu estava no terceiro colegial e as convulsões seguiram a cada seis meses.”
“Mas, quando entrei na faculdade, o padrão das convulsões mudou. Cheguei a ter convulsões a cada oito dias. Tinha uma pela manhã, da mesma forma, mas passava o dia inteiro tendo convulsões.”
“Eu já estava tomando dose alta de remédio e, apesar das convulsões serem brandas, eu apagava e tinha alguns espasmos, não conseguia controlar. Vinham com frequência cada vez maior e se tornaram insustentáveis.”
Tratamento ilegal
Em 2016, o Brasil ainda começava a discutir o uso da Cannabis medicinal, em um movimento puxado principalmente por mães de crianças com epilepsia, e a notícia chegou aos ouvidos de Vinícius.
“Na época, não tinha tanta divulgação em relação ao tratamento e, então, comecei a me aventurar no mundo canábico. Comecei a apresentar melhora, apesar de que, no início, o que fazia era fumar prensado.”
Seguiu fumando maconha e tomando os antidepressivos, mas, com tímida melhora na frequência das convulsões, decidiu correr o risco e abandonar o tratamento alopático convencional.
“Não estava dando. Parecia que eu acordava todo santo dia com uma ressaca, como se tivesse tomado duas garrafas de pinga. Me arrastava para minhas atividades e era difícil manter qualquer rotina tomando o remédio.”
“Eu tive acesso a flores da Cannabis e, largado o remédio e fumando, eu consegui me estabilizar. De 2018 para 2019, eu consegui ficar um ano sem ter convulsões. Foi quando eu tive a certeza de que a Cannabis poderia me ajudar.”
Um tratamento legal para as convulsões
Logo, as convulsões voltaram. Embora bem mais espaçadas, com intervalos de até 8 meses, seguiam o padrão de durar um dia inteiro. “Eram, pelo menos, três convulsões ao longo do dia. Muitas vezes chegava até de madrugada com convulsões violentas e tinha que ser levado ao hospital, para que tomasse ácido valpróico na veia.”
Já durante a pandemia, com a proliferação de lives, certo dia se deparou com uma da psiquiatra Ana Hounie, um dos principais nomes da Cannabis medicinal no Brasil. Em outra, o músico Marcelo D2 contava como o canabidiol o havia ajudado a se curar de uma lesão ortopédica.
Foi quando Vinicius soube que a Cannabis medicinal já havia avançado no Brasil e muitos médicos sérios já a utilizavam como alternativa de tratamento, principalmente em casos refratários, como o seu.
“Eu já tinha acompanhamento com neurologistas, mas, sempre que entrava na questão de maconha, eles diziam que era droga, que não tinha comprovação científica, que eu poderia morrer se tomasse. Pensava que estava indo contra a Medicina, até que, com a live, eu vi que havia médicos no Brasil querendo ajudar.”
O controle das convulsões
Buscou, então, um médico prescritor de Cannabis medicinal. Deu início ao tratamento com o óleo de Cannabis medicinal, mas tinha um problema. Anos de uso de Cannabis fumada, sem acompanhamento médico adequado, se desenvolveu em uso crônico. “É muito difícil você simplesmente se desvincular do tratamento irregular e tomar somente o óleo.”
Foram seis meses em um processo de adaptação, ajuste e desmame, até que, em fevereiro de 2021, começou a fazer o tratamento de forma correta e, assim, colher os resultados. “Faz um ano e seis meses que eu estou sem convulsões.”
“Sinto bastante diferença entre você tomar o óleo e fumar. No meu caso, que tenho epilepsia, o óleo é perfeito. É como se fosse um complemento, que eu tomo diariamente e nem sinto.”
“Eu só sinto quando eu estou perdendo o controle da consciência, no começo do estado convulsivo, e eu consigo prever o que vai acontecer e me controlar. Vou até um canto, mais próximo do chão, que, se acontecer, vai ser com o mínimo de danos.”
O retorno
Com o controle das convulsões, pôde voltar à faculdade, interrompida pela doença, e seguir com a vida normalmente, mas com pequenas diferenças. “Terminei a graduação em Engenharia de Materiais e agora faço mestrado, cuja pesquisa tem um tema canábico.”
“A ideia é desenvolver materiais voltados para a aplicação em canabinoides, como spray, adesivos, e até óleos com nanoestruturas, que conseguem aumentar a biodisponibilidade dos canabinoides, e poder aproveitá-los melhor no corpo humano. Eu mergulhei de cabeça nessa área.”
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A prescrição de um profissional da saúde capacitado é a única forma de acesso à Cannabis medicinal de maneira legal no Brasil.
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