Quando começou a perceber que havia perdido a sensibilidade em algumas partes do corpo, Vanessa Raquel Wagner, com pouco mais de 30 anos, já sabia do que se tratava: hanseníase.
O estado de Mato Grosso é a região do País com a maior incidência da doença e, sabendo da importância do tratamento precoce, logo seguiu para uma unidade especializada. Esse, no entanto, marcou o início de seu sofrimento.
“Comecei o tratamento para hanseníase, que é uma poliquimioterapia. No terceiro dia, eu comecei a sentir dor. No quinto, eu voltei para a médica porque eu já não me aguentava.”
Sequelas da hanseníase
De acordo com Wagner, cerca de 5% das pessoas em tratamento para hanseníase desenvolvem uma sequela em que a doença desencadeia uma inflamação nos nervos de todo o corpo, neurite, causando intensa dor.
“Eu tive que entrar com várias medicações. O corticoide, mesmo em dose máxima, não aliviava as dores. Eu ficava extremamente dopada. Durante o dia, como as dores também eram agudas, eu não conseguia fazer nada. Ficava praticamente acamada.”
“Teve um período que eu tomava amitriptilina, pregabalina e duloxetina, além de outras medicações para controle da dor. Tinha dias que eu tomava mais de 15 comprimidos, e isso vai gerando um monte de desgaste. Vai ferrando seu estômago.”
“É muito efeito colateral. Soma tudo, um interfere no outro, mas a pior sensação durante todo o processo é de ficar dopada. Eu não conseguia fazer coisas para melhorar meu quadro, com atividade física, e perdi muita massa muscular. Foi gerando vários atrofiamentos.”
Mesmo diante muito sofrimento, Wagner concluiu o tratamento e se livrou da hanseníase. No entanto, as sequelas permanecem. “Como passei muito tempo com dor crônica, os neurônios passam a mandar informação como se qualquer estímulo mínimo de dor fosse aguda.”
“Por que não tenta canabidiol?”
“Fui no psiquiatra, fiz acompanhamento com psicólogo, para aprender a lidar com a dor. Todos os lugares que ia, me explicavam que era uma sequela da hanseníase que eu teria que me acostumar com a dor para o resto da vida.”
Até que um colega psiquiatra lhe deu uma sugestão. “Você já tentou tanta coisa, por que não tenta o canabidiol? Temos que tentar o que tiver como alternativa.”
Ele, então, indicou uma conhecida: a também psiquiatra Karolyne Metello. Mas, um dia antes da consulta, quase desistiu. “Teve uma reportagem no Fantástico sobre canabidiol e eu quase desisti. Pelos valores que eles citavam na reportagem, não daria para arcar.”
O tratamento com Cannabis para a sequela da hanseníase
Compareceu mesmo assim e não se arrepende. Na consulta, Metello explicou que o preço do tratamento depende da dose necessária e, há sete meses, começou o tratamento. “A gente começou com doses baixas e a primeira coisa que melhorou foi o sono.”
“Eu consegui dormir a noite toda. Isso é um fator importante e com as outras medicações eu acordava várias vezes durante a noite porque começava a doer. Eu não conseguia ter uma noite regular de sono e com o canabidiol, já no primeiro mês, eu voltei a dormir a noite inteira e não acordar dopada.”
Com as dores, a melhora veio no terceiro mês. “Foi mais ou menos quando deu uma estabilizada. Comecei a voltar a fazer as coisas da casa, como lavar uma louça, sem sentir dor. Eu não conseguia ficar muito tempo fazendo as atividades mais simples, e passei a fazer.”
Com a melhora, aumentou ainda mais a dose do canabidiol enquanto reduzia outros medicamentos. “A gente esperou um período de estabilização e retirou os outros. Antes eu gastava mais do que eu gasto hoje com o canabidiol, só que teve um período que tive que pagar as duas coisas.”
“O resultado é estimulante, mas ainda vejo dificuldade de acessibilidade para as pessoas.”
“Coisas simples que voltei a fazer”
“Ainda não estou na condição de antes da doença. Não cheguei ao nível de voltar a ter o ritmo e qualidade de vida que tinha. Mas, dos momentos mais delicados de crise para hoje, eu vejo uma melhora, de pelo menos, uns 80%.”
“Hoje estou em um processo de reabilitação, com fisioterapia e pilates. Com o canabidiol eu consigo ficar acordada, não fico dopada como as outras medicações deixavam, e eu consigo fazer atividade física para recuperar a massa muscular e controlar melhor as dores.”
“Hoje eu consigo ter convivência social. Sair para tomar um café com um amigo era uma coisa que eu não tinha vontade porque tudo incomodava. Ficar muito tempo sentada em determinado lugar. Coisas simples que voltei a fazer.”
Vanessa segue afastada do trabalho como assistente social. “Ainda não consegui voltar a trabalhar e estudar no ritmo que tinha antes. Essa parte ainda falta.”
Preconceito limitante
Depois de dois anos de hanseníase, Vanessa celebra ter superado o próprio preconceito para poder voltar a sonhar com a recuperação completa de sua qualidade de vida.
“Mesmo sendo uma pessoa extremamente esclarecida na área de saúde mental, mesmo sabendo do benefício da Cannabis para várias doenças, a primeira coisa que eu pensava era que se usasse o óleo iria ter os mesmos efeitos que quem fuma. Que ia ficar lesada e era um receio que tinha.”
“Por essas questões, eu tive preconceito no início, mas foi incrível quando eu comecei a tomar. Percebi que é muito limitante isso. A gente escuta constantemente as pessoas falarem mal e você acaba não sabendo de uma possibilidade de tratamento.”
“Não é só por falta de informação, como no meu caso. Eu sabia que era algo que realmente funcionava, já tinha lido muita coisa sobre o assunto, já tinha estudado na área da saúde, e mesmo assim fiquei com um certo pé atrás.”
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