A neurologista Marcela Agostinho explica como a Cannabis medicinal beneficia seus pacientes com dor crônica fibromialgia e Alzheimer
Não foi só o paciente que foi “salvo” no primeiro contato da médica Marcela Agostinho com a Cannabis medicinal. Neurologista com especialização em neurofisiologia com ênfase no exame eletroneuromiografia, Agostinho havia escutado pouco sobre medicina canabinoide em sua formação. Sabia que existia, mas não aprendeu a administrar nem muitos detalhes sobre como funcionava.
Sendo assim, quando uma paciente sofrendo com dores intensas na coluna após uma cirurgia de hérnia de disco chegou aos seus cuidados, o caminho foi o convencional. “Eu olhei a prescrição dela e já estava com vários opioides, Tramal, morfina. Coloquei antidepressivo. Anticonvulsivante, que trata dor também. Colocamos sedativos. Ela começou a fazer acupuntura no hospital, mas nada adiantava. Só piorava”, lembra.
“Eu fiquei pensando o que que eu poderia acrescentar na na terapia daquela paciente, aí me deu uma luz”, continuou. “Isso foi há uns três anos atrás. Eu nunca tinha prescrito canabidiol e não era muito comentado. Eram bem poucas pessoas que falavam e sabia manejar.”
Introduziu o tratamento com óleo de Cannabis e, finalmente, encontrou algo que deu resultado. “Foi uma experiência fantástica. Uma coisa que ninguém tinha visto antes. A família da paciente ficou impressionada.”
“Ela não estava nem saindo da cama. Estava restrita ao leito de tanta dor. Andava com a ajuda das pessoas. Só levantava com a ajuda e ela melhorou. Com uns 15 dias ela já era outra pessoa.”
Com 30 dias de tratamento, a paciente voltou ao consultório de Agostinho e a melhora era visível em seus movimentos e aparência. “O que é mais interessante é que ela não usa cronicamente. Ela usou três meses e nunca mais precisou. Trabalha normal, faz tudo.”
“Ou seja, foi uma medicação que tirou dessa crise pós-operatório. várias pessoas perguntam se tem que usar a vida toda. Nesse caso é um caso muito bem-sucedido porque melhorou muito com pouco tempo e nunca mais precisou. Aliás, até sumiu do consultório.”
Logo, a notícia se espalhou entre seus colegas. “O médico da coluna dela ficou meu fã depois disso. Ele manda diversos pacientes para mim porque ele estava muito apreensivo. Havia feito a cirurgia e as dores ficaram ainda piores. A família estava dizendo que a cirurgia não havia dado certo, mas era uma crise do pós-operatório que a Cannabis resolveu.”
Outras patologias
Após dar fim ao problema de médico e paciente, Agostinho partiu em busca de mais informações sobre o medicamento e ampliou as experiências positivas. “A demência de Alzheimer eu também trato bastante no consultório. Eu uso naqueles pacientes com agitação, agressividade, que estão ansiosos e querem sair de casa por tudo. O canabidiol ajuda a manter o comportamento mais controlado.”
“Tem muita procura para fibromialgia também. Estou muito focada nisso, fiz umas lives sobre o assunto em meu Instagram e, por ter tido alguns casos de sucesso, muita gente me procura para fibro.”
Segundo Agostinho, a diferença da Cannabis para outros medicamentos é a atuação sobre o sistema endocanabinoide. “Ela age nos receptores canabinoides, que são receptores específicos, e não tem outra medicação que faz isso. Muitas vezes, você está fazendo uma abordagem e ocupando todos os outros receptores, mas não estão sendo estimulados de forma que seja benéfica ao organismo”, explica.
“Eu acho que que o grande benefício é quando você tem uma saturação de todos os outros receptores de ou de todos os outros sistemas de neurotransmissores. Muitas vezes o paciente vem usando aí antidepressivo ou ansiolítico por muitos anos e os receptores já estão completamente saturados. Aí você vem com essa medicação e age em outras vias, em outros receptores, de forma que tem o melhor resultado.”
A neurologista defende que os médicos devem sempre levar a Cannabis em consideração, principalmente em casos de dores crônicas. “ Às vezes, não adianta você ficar insistindo em opioide que só vai gerar dependência, tolerância. Aumentar na dose, colocando vários tipos de opioide, gerando um paciente dependente.”
Preconceito
No entanto, ela afirma que, antes de tentar a Cannabis, experimenta os tratamentos mais convencionais por terem mais evidências científicas que sustentem o uso. Uma situação que deve mudar, conforme novos estudo forem realizados, o preconceito diminuir e a regulamentação permitir a queda no preço do medicamento.
“Muita gente dá risada, fala que é maconha. Ainda tem esse preconceito no consultório. A gente tem que explicar que é uma medicação, que utiliza-se apenas uma parte da planta. Que são só as substâncias que são interessantes para o tratamento. Então tudo você tem que explicar de forma muito minuciosa. Muitos médicos também têm preconceito tb. Manda paciente para mim porque não prescreve. Acham que é uma coisa que não se sabe ao certo se é bom, sendo que já sabemos que é.”
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