Marcos Prandine só conheceu o sistema endocanabinoide com quase 40 anos de medicina. Hoje já acumula 900 pacientes em terapia canábica.
Aos 14 anos, o médico Marcos Prandine já tinha certeza dos rumos que iria seguir. Com vocação para as ciências biológicas, se formou em medicina e, ainda no final do curso, pensou em se especializar em neurologia. “Você praticamente acaba estudando o corpo inteiro. Tem interação com todo o organismo.”
O desejo de cuidar da saúde integral dos pacientes permaneceu, mas pensar em passar o dia dentro de um consultório o assustou. “Eu sou uma pessoa que tem muita energia. Só no consultório, eu iria sofrer. Uma parte minha tinha essa necessidade e acabei optando por neurocirurgia.”
Já atuando, passou a atender muitas crianças, embora, no início da década de 1980, ainda não existisse a especialização em neuropediatria. O que mais o atraía era a possibilidade de trabalhar com manifestações genéticas neurológicas, como em crises epilépticas de difícil controle e autismo, um assunto então incipiente. “Fiquei muitos anos trabalhando nessa área, mas depois foi uma coisa que ficou parada.”
Retornou algumas décadas depois, atuando junto ao Elo21, um Centro Avançado de Genética e Saúde Integrativa com foco na qualidade de vida de pessoas e famílias com T21 (Trissomia do cromossomo 21, relacionado à Síndrome de Down) e condições genéticas raras.
“É o grupo mais forte em São Paulo no estudo de doenças genéticas. Nesses estudos, começamos a nos deparar com crianças com várias alterações genéticas com crises convulsivas de difícil controle e que a associação das drogas normais não estava sendo suficiente para a redução da quantidade e frequência das crises. Aí a gente começou a falar de terapia canábica.”
Início na terapia canábica
O uso do tratamento canabinoide nos pacientes só se tornou realidade em 2018, graças à fisioterapeuta, consultora em Cannabis medicinal e coordenadora clínica de processos de saúde, Ana Gabriela Batista, que ministrou uma aula no instituto sobre a terapia canábica.
“Me pareceu muito interessante, porque nunca na minha formação se falou sobre sistema endocanabinoide. Eu tenho conversado com colegas recém formados e, até quatro anos atrás, ainda não se falava. Só os mais novos que agora tem um leve contato com o tema.”
Desde então, Prandine desenvolveu laços de amizade e interesse científico em comum e, juntos, formaram uma equipe para atender pacientes com manifestações neurológicas, psiquiátricas, ginecológicas e imunodeficiências.
“Começamos a ampliar e já temos quase 900 pacientes que atendemos nesse tempo todo. Foi assim que comecei a desenvolver esse meu braço canábico e tem sido muito bom. A gente até brinca que algumas coisas parecem mágica. Você vê uma mudança radical no paciente.”
“Não é um remédio milagroso”
Apesar das aparências, Prandine ressalta que não se trata de algo milagroso. “Não é uma solução para todas as manifestações porque o sistema endocanabinoide é único. Ele é pessoal, personalizado”, diz.
“Você vê, por exemplo, doentes numa fase demencial muito intensa, começa a terapia e melhora muito. O autocuidado, a ir ao banheiro sozinho, a pedir para se arrumar, solicitar a refeição. Em outras pessoas que nem estão em um grau tão avançado, não têm a mesma melhora e ficam muito mais em um patamar de estabilização. O que já é uma coisa muito boa diante a tendência de uma progressão contínua.”
Com isso em vista, o médico afirma que cada paciente vai demandar uma abordagem diferente. “Estabelecemos uma linha de pensamento fisiopatológico e funcional. Procuramos ver o paciente como um todo, entendendo a função metabólica de vários sistemas e a gente observa que existe um bom resultado.”
Como exemplo desses bons resultados, Prandine cita uma criança de seis anos com Síndrome de Dravet. “É uma crise elétrica muito intensa e dificílimo controle. A criança tomava uma bateria de medicamentos e mesmo assim estava tendo crise.”
“Estava sendo acompanhado por uma pediatra muito qualificada da Santa Casa e naquela época era muito recente o uso da terapia canábica. Nós tivemos a oportunidade de conversar com ela e explicar como seria, o nosso objetivo, deixando muito claro que a gente jamais iria interferir nas medicações que ela administrava”, continuou.
“Houve uma aceitação da família e depois de seis meses de tratamento, progressivamente essa criança foi reduzindo a quantidade das crises, a intensidade das crises e a forma da crise. Era uma crise muito clássica e dramática e virou uma crise muito leve, uma ausência muito simples, a ponto dos familiares chegarem a nunca mais precisar ir num pronto socorro de urgência para tomar medicação. Houve uma redução das substâncias químicas que estava usando e ficou muito bem e, seu desenvolvimento, que estava um pouco atrasado, voltou a ser o próprio para a idade.”
O médico também destaca os efeitos positivos da Cannabis medicinal na dor, como em casos de enxaqueca. “O fitoterápico de Cannabis medicinal provoca uma interpretação diferente da dor, amenizando os efeitos deletérios. Não provoca um alívio direto da dor, mas essa interpretação diferente se manifesta pela maior qualidade de vida da pessoa.”
O futuro da terapia canábica
Com todo o conhecimento sobre os benefícios da Cannabis, o médico acredita que é questão de tempo para o sistema endocanabinoide se consolidar como especialidade médica. “Se nós fomos constituídos para ter esse sistema dentro de nós, que é um sistema de coordenação, equilíbrio e homeostase, estimular pode gerar uma harmonia maior no organismo”, finaliza.
“Hoje em dia, talvez três ou quatro por cento dos médicos conhecem essa terapia. Mas, com certeza, será parte da base curricular de todas as Universidades. Os médicos terão essa especialidade dentro da área de fisiologia e, com certeza, será uma especialidade muito bem estruturada e difundida.”
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