O médico Marcelo Pereira relata suas experiências e prevê que os fitocanabinoides ainda vão revolucionar a medicina
Quando ainda era estudante de psicologia, Marcelo Pereira já sentia uma forte inclinação pela neurologia. A paixão foi tanta que acabou abandonando o curso após 3 anos e meio de estudos para ingressar na faculdade de medicina. Lá, se encontrou — durante a graduação realizou diversos estágios e cursos na área da neurologia, desenvolvendo assim um “currículo em paralelo” dentro da faculdade. E foi também ainda na graduação que, durante um estágio na Fundação de Neurologia e Neurocirurgia, de Salvador, conheceu o canabidiol.
Isso foi em 2007, quando o uso do medicamento ainda era incipiente no Brasil. Por intermédio de associações e pacientes, recebia óleos de canabidiol que usava no ambulatório para epilepsia. “Tive contato, mas na época ainda havia pouca informação. Sabíamos que era usado no tratamento de epilepsia, mas basicamente só isso.”
Ainda assim, ele diz que o efeito dos medicamentos à base de Cannabis impressionavam. “Aquilo foi muito marcante pra mim”, conta o médico, que mais tarde se especializou em neurocirurgia. “Na graduação não se falava nada sobre canabidiol. Eu lia alguns artigos, via em livros, mas não tínhamos acesso ao óleo de forma fácil. Então essa experiência ficou na gaveta.”
Terminada sua residência em neurocirurgia, Pereira seguiu sua vida profissional como tantos outros médicos, mas começou a perceber os limites da alopatia. “Isso é uma grande frustração na neurologia. Você tem muito pouco recurso terapêutico para as grandes doenças neurológicas, e geralmente com efeitos colaterais bem significativos. Quando você vai estudar a fundo os medicamentos de primeira linha, percebe que existem muitas lacunas nos tratamentos.”
De acordo com o médico, os avanços realizados pelos medicamentos alopáticos são incontestáveis, mas a Cannabis medicinal ajuda a complementar alguns tratamentos, oferecendo uma alternativa de qualidade para os pacientes.
Cannabis medicinal na prática
Um dos casos relatados por Pereira ilustra bem essa situação. Uma paciente sofria com enxaqueca com aura, um caso específico de cefaléia em que o uso coincidente de anticoncepcionais pode ser muito perigoso. No entanto, a mulher também sofria de endometriose — uma inflamação provocada pelo crescimento de tecido uterino fora do útero. Em seus períodos de menstruação, a mulher era acometida por fortes dores na região pélvica — e o uso de anticoncepcionais era uma das recomendações para aliviar os sintomas da doença.
Perdida entre uma recomendação e outra, a paciente passou muito tempo convivendo com ambas enfermidades, sem conseguir um tratamento adequado. Foi aí que o médico Marcelo Pereira percebeu que o canabidiol poderia preencher uma das lacunas deixadas pelos medicamentos alopáticos.
“O canabidiol tem duas funções, ajuda tanto a conter inflamações quanto a aliviar a dor, então encaixou perfeitamente no quadro clínico dela. É um exemplo muito peculiar do efeito positivo que o canabidiol pode ter no organismo.”
Outro caso relatado por Pereira que demonstra uma abordagem interessante da medicina canábica é o de um paciente com Parkinson, com uso de Prolopa, medicamento alopático de primeira linha no tratamento da doença. No entanto, o remédio era utilizado pelo paciente havia muito tempo, configurando um “uso crônico”.
A medicação já não tinha os efeitos desejados, e o paciente apresentava uma forte discinesia — tremores musculares involuntários. Com isso, o paciente sofria colateralmente com distúrbios de sono, o que agravava ainda mais seu quadro geral.
“Com o canabidiol ele passou a dormir melhor, ter um sono reparador”, lembra Pereira. “Com isso conseguimos diminuir a dosagem do Prolopa, aliviando os efeitos colaterais, melhorando a discinesia do paciente.”
Esse uso combinado, observando todo o quadro do paciente, é um dos pontos que o médico gosta de enfatizar. “O adoecimento crônico geralmente produz ansiedade, que resulta em insônia, tremores, mal-estar. Isso só piora as condições do paciente. Com o canabidiol conseguimos controlar essa ansiedade, e com isso ajudar indiretamente outras patologias.”
Para Pereira, os fitocanabinoides já podem ser considerados medicamentos de primeira linha no tratamento de ansiedade e epilepsia moderados. Em casos mais graves, a Cannabis medicinal pode entrar como coadjuvante, para complementar a terapia — muitas vezes aliviando sintomas e ajudando o paciente a reduzir doses de medicamentos alopáticos mais agressivos. Esse também é o caso de tratamentos de Alzheimer, Parkinson, dores crônicas e dores oncológicas.
Uma esperança
Certamente ainda há muito a ser explorado na área da Cannabis medicinal. Um dos campos de estudo que mais enche o médico de esperança é o uso de fitocanabinoides na prevenção de doenças neurodegenerativas. “Essa ainda vai ser a grande descoberta em termos de janela de tratamento”, diz Pereira, fazendo referência ao termo médico que designa o período em que uma enfermidade pode ser tratada preventivamente.
“Tem um monte de artigos que tratam desse tema: com o canabidiol poderia ajudar a evitar o desencadeamento de morte neuronal, que são característicos de Parkinson e Alzheimer”, explica. “Quando isso for descoberto, confirmado, vai trazer benefícios para milhões de pessoas.”
Uma forma de chegar lá é por meio de uma maior conscientização da sociedade dos benefícios da Cannabis medicinal. A conta é simples: quanto mais as pessoas conhecerem a Cannabis medicinal, mais médicos vão prescrever, mais pacientes vão utilizar, e mais pesquisas serão feitas nas universidades.
“As pessoas precisam de informação. Muita gente relaciona os fitocanabinoides com a planta da maconha. Acham que é uma droga, que a pessoa vai sair de si, que vai ficar viciada. Isso não existe. Quando o óleo é produzido, a quantidade de THC, que é a substância psicoativa da planta, é ínfima.”
Ele usa sua experiência clínica como base. “Eu prescrevo o canabidiol, então eu vejo os efeitos colaterais que acontecem, e eles são mínimos. Quando a pessoa é muito sensível, ela pode ter sonolência, ou dor de cabeça, mas isso se resolve diminuindo a dose. Os efeitos colaterais são os menores possíveis.”
Para o neurocirurgião, os fitocanabinoides já são uma realidade na medicina — e a tendência é de crescimento: mais médicos prescrevendo, mais estudos, mais pacientes beneficiados. “O uso de Cannabis medicinal é seguro, praticamente isento de efeitos colaterais e pode tratar as mais diversas patologias”, resume o médico. “A Cannabis medicinal chegou, e é um caminho sem volta.”
Se você está em busca de um médico para iniciar o seu tratamento com Cannabis medicinal, acesse agora a nossa plataforma de agendamento de consultas!