A especialização em fisiatria e medicina da família, além da prescrição de Cannabis medicinal, são consequências diretas de escolhas que, segundo a médica Lia Steinberg, estavam fora de seu controle.
“Não fui eu que escolhi a medicina, foi a medicina que me escolheu. Eu só vejo sentido na vida enquanto tenho impacto positivo na vida das outras pessoas.”
Formada há 34 anos pela Escola Paulista de Medicina, a história de Steinberg na medicina começou ainda muito jovem. “Desde os nove anos que eu tenho enxaqueca crônica, desde os 15 anos eu tenho dor ciática, situação que se agravou bastante durante minha graduação.”
Professor influente
Sua condição só melhorou após ser submetida a tratamentos bem especializados, que incluíram três cirurgias na coluna e o implante de um neuroestimulador, que é uma bomba de infusão de morfina.
Tudo isso só foi possível, porém, com uma ajuda bem especial. “Eu sou aluna do professor (Elisaldo) Carlini. Ele me ajudou muito pessoalmente, quando precisei de medicações para dor que não tinha no Brasil.”
“Graças a ele eu consegui ter acesso a coisas que eu precisava e, desde aquele tempo, a gente já conhecia a pesquisa de Cannabis para epilepsia refratária. Sempre me intrigava como essa pesquisa não tinha ido para frente.”
Medicina física e reabilitação
Sua trajetória a levou à fisiatria. “Eu me interessava muito pelas patologias da neurologia, da reumatologia, da ortopedia, mas sempre frustrada porque essas especialidades se dedicam muito ao diagnóstico e possuem poucas opções terapêuticas para realmente melhorar a vida das pessoas com problemas graves.”
“Eu consegui completar o curso e nada mais natural do que eu buscar ajudar as pessoas com problemas com os quais eu já tinha bastante experiência. Eu me encontrei na fisiatria. No processo de reabilitação que busca estimular o potencial mais profundo da pessoa, que encontra em si o motivo dela viver e superar os obstáculos.”
A Cannabis voltou a cruzar o caminho de Steinberg ainda na década de 90. “Tive bastante influência no esporte paralímpico e tive alguns atletas muito bons que abandonaram o esporte em nível internacional pela necessidade de usar Cannabis como alívio tanto da dor quanto da espasticidade, no caso de lesados medulares.”
O horizonte da medicina de família
Em 2002, decidiu dar uma guinada em sua carreira e migrou para a medicina de família. “Entendi que o processo de reabilitação era apenas uma pequena parte da medicina. Eu estava interessada em todo o ciclo da prevenção e principalmente da promoção da saúde. Empoderar as pessoas para o autocuidado.”
“Fiquei 18 anos na medicina da família em uma comunidade na região de Campo Limpo, em São Paulo, e a toda hora eu me deparava com alguém contando que tinha conseguido alívio de dor com a maconha.”
“Apesar de ter relatos de pacientes já bem antigos sobre os seus benefícios, eu sempre me abstive da discussão. Até o momento em que passou a estar disponível no nosso receituário, mas eu não fiquei muito interessada devido às dificuldades para a pessoa conseguir tratamento.”
“Até que veio a pandemia e me deparei com muitos casos de pessoas me pedindo ajuda para a Covid longa, com pessoas totalmente incapacitadas. Estudando Covid longa, cheguei de novo ao sistema endocanabinoide.”
Paciente de Cannabis
Em 2020, Steinberg decidiu que havia chegado a hora de mergulhar na medicina canabinoide. “Eu mesma comecei a me tratar com canabidiol, sob orientação médica, e realmente melhorou muito minha qualidade de vida.”
“Foi a minha possibilidade de continuar trabalhando apesar de vários problemas crônicos graves. Na ocasião, eu me deparava com sequelas do tratamento do câncer, com uma polineuropatia, e graças à Cannabis eu nunca tive problemas muito graves de dor.”
Cannabis e a medicina de família
Desde então, é prescritora de Cannabis medicinal. “É um alívio saber que produtos derivados de Cannabis passam a fazer parte oficialmente das nossas ferramentas para tratamento de pessoas com problemas graves ou incapacitantes. Uma planta que faz uma diferença enorme na vida dessas pessoas e é uma satisfação inenarrável ser a pessoa que intermedia essa relação.”
“Principalmente por ser também uma ferramenta de empoderamento para a pessoa se tratar. Ela precisa aprender a se conhecer e perceber os efeitos adversos e os benefícios. Só ela pode realmente ajustar a dose da medicação.”
De acordo com Steinberg, uma das vantagens é poder reduzir a dose de outros medicamentos. “A gente tem conseguido se livrar de tratamentos que deixam bastante efeitos adversos e que a gente mal sabe o que pode acontecer a longo prazo, como anticonvulsivantes, sedativos e ansiolíticos.”
Nova motivação
“É uma farmácia dentro de uma planta. São mais de cem substâncias terapêuticas presentes, que podem ter mil e uma utilidades. Muitas vezes a gente prescreve para o sono e a pessoa tem uma melhora da tendinite, por exemplo.”
“O resultado é muito expressivo. Mesmo sem saber que a pessoa tá em tratamento, todo mundo percebe que tem alguma coisa de diferente.”
“Chama atenção como muda a disposição para seguir outras medidas não medicamentosas do tratamento. Pessoas que a gente insiste por anos para fazer academia, começam a melhorar o autocuidado com a planta.”
“Não é necessariamente um remédio que a pessoa vai ter que usar para sempre, principalmente quando ela adere às outras medidas de modificação do estilo de vida.”
“Como fisiatra e médica de família, eu não faço distinção em relação à patologia. Trato todas as faixas etárias e todos os tipos de patologia, tanto numa especialidade quanto na outra. O que importa é o cuidado centrado na pessoa. A gente precisa sempre estar atento à necessidade da pessoa.”
“Minha satisfação com o meu trabalho aumentou muito com a Cannabis. Eu só quero trabalhar. Não consigo recusar paciente porque a gente saber que a pessoa pode melhorar com uma simples receita. Deu um novo lugar na minha vida. Uma nova motivação.”
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