O sonho de criança de Karolyne Fernandes Metello sempre foi a medicina. Já na faculdade, porém, a depressão quase o interrompeu. “Eu ainda não tinha o diagnóstico para transtorno bipolar e entrei numa fase em que fiquei bem mal. Nesse resgate próprio, eu escolhi a psiquiatria.”
Se formou em medicina e deu início à pós-graduação em psiquiatria, enquanto cuidava da própria saúde. “Eu comecei como diversos alopáticos e melhorava um pouquinho, mas passava um tempo e não fazia mais efeito. Eu quase tentei suicídio e nesse momento fui atrás de terapias alternativas.”
Pesquisou e invariavelmente se deparava com três alternativas. “Sempre me falavam de algum remédio que eu já tinha usado, Cannabis e estimulação magnética, que foi o que eu não fiz. Fiquei com a Cannabis logo de cara.”
Começou a questionar aos colegas e uma fazia o uso para o controle da ansiedade. “Ela falou: Karol, isso é o futuro! e eu comecei a ler. Aqui em Cuiabá não tinha nenhum médico que prescrevia. Fui ao meu psiquiatra e ele foi super contra.”
“Em teoria, paciente bipolar não pode usar Cannabis. Eu falei que queria tentar, apesar de que eu tive psicose com a Cannabis quando eu fumei. Em teoria, não poderia mesmo, mas fui persistente.”
Tratamento bipolar
“Mesmo não prescrevendo, meu psiquiatra me deu uma super base para desmamar os remédios por conta própria. Eu tinha um pouco de receio, mas fui estudar mais sobre a Cannabis e tomei coragem.”
“Nos primeiros quatro meses, eu usei isolado, mas não tive resposta. Depois, comecei o óleo full spectrum e comecei a sentir melhoras no meu humor, os pensamentos ansiosos cessaram. Na questão do transtorno bipolar, eu comecei a perceber que as fases eram muito mais tranquilas. Não tinha mais tanta compulsão. Era tudo muito controlado. A Cannabis me deixou bem mais racional.”
“Depois de um tempo, eu percebi que só faltava tirar o antipsicótico. Eu nunca dormi bem, tentei um óleo balanceado de um para um com o THC e evolui super bem e comecei a dormir. Com uns nove meses de tratamento, eu tirei os remédios com a orientação do meu médico.”
Com seu sucesso, seguiu para os primeiros pacientes. “Minha avó foi logo de cara. Ela sentiu aumentar a ansiedade, mas com o tempo foi diminuindo. Minha mãe tem hérnia de disco também, super melhorou com o óleo”
“Meu namorado toma alopático para dormir. Ele treina muito na academia e eu falei para tomar a Cannabis. Ele está começando a dormir e os parceiros de treino dele estão todos se lesionando enquanto o cara está super bem, aumentando a carga. Eles foram minhas cobaias. Foi quando decidi estudar mais a Cannabis.”
“O maior estudo é o dia-a-dia. A gente perde o medo. Muitos médicos aqui de Cuiabá, que ainda é muito pequena e não tem muitos médicos prescritores, temem muito o THC. Eu falo que não precisa ter medo. Que é analgésico, anti-inflamatório, ajuda a dormir. Eles mandam o paciente para mim porque eu, na teoria, não poderia usar e uso, e eles ficam mais confiantes.”
Primeiro paciente
“Meu primeiro paciente de Cannabis foi há um ano e meio, com autismo. Comecei a perceber uma melhora na impulsividade, agressividade, déficit de atenção. Depois disso, insônia refratária, que começaram a usar o óleo e não precisavam mais de Zolpidem.”
Aí, não parou mais. “Na teoria, eu não queria atender pacientes idosos, porque tenho um apego grande, mas eles tem muitas dores, muitas queixas, Alzheimer, Parkinson, a resposta dos idosos é muito mais rápida, e comecei a prescrever para eles.”
“Não foi uma coisa programada. O paciente ligava, perguntava se atendia tal patologia, minha secretária dizia que não, mas ele queria tentar. Eu não prometo, mas, se quer tentar, vamos tentar. A teoria era atender só psiquiatria porque é o que eu gosto de fazer, mas hoje sai um pouco desse foco.”
“Minha visão como paciente é que a Cannabis te dá uma consciência corporal e psicológica fora do comum. Consegue perceber as diferenças do que está acontecendo e, conforme o ajuste de dose – e não precisa colocar uma superdose- vai acompanhando sua evolução.”
“Você vai acompanhando junto com o paciente como está evoluindo e qual a resposta dele. Se tiver um possível efeito colateral, consegue controlar porque a dose aumentou gradualmente e isso é mágico.”
“O sistema endocanabinoide se entrelaça com os outros sistemas. Esse ajuste de medicação, você pode reduzir os alopáticos, por exemplo, na medida em que aumenta os fitocanabinoides.”
“Temos uma maior noção fisiológica quando a gente passa a entender o sistema endocanabinoide e a importância dele, dos receptores, sobre os outros sistemas. Consegue até minimizar efeitos colaterais de outros remédios.”
Detalhadamente bipolar
Além das patologias e sintomas dos pacientes, Metello ainda precisa lidar com o preconceito na capital do Mato Grosso. “Pacientes são mais tranquilos. Eles gostam muito de entender o que a gente está fazendo. A consulta é basicamente uma aula para paciente que não tem noção nenhuma, exceto quando chegam, por exemplo, de algum congresso que participei.”
“Em Cuiabá tem muito preconceito, mas acho que tem porque não conhece, porque ninguém próximo precisou. Tem preconceito e não sabe nem por quê, não sabe nem o fundamento de onde foi originado esse preconceito.”
“Quando vêm falar alguma coisa, sou super explicativa. Para as pessoas que são preconceituosas, a gente tem que explicar detalhadamente. A Cannabis não veio para tirar outros alopáticos, outros profissionais, ela veio para somar.”
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