Ao ajudar no cuidado de seu avô doente, o médico especialista em medicina de família e comunidade Gustavo Villen Chami decidiu a profissão que iria seguir. Ao chegar à faculdade, no entanto, tudo perdeu o sentido.
“Foi bem difícil. Muitas crises. Sensação de peixe fora d’água. Tinha dor de barriga de vez em quando só de pensar em ir para o hospital. Toda uma dinâmica em que eu não me sentia adequado. Me sentia como se estivesse doente. Que não dava conta.”
Com muita determinação, decidiu que concluiria o curso mesmo se decidisse seguir por outro rumo em seguida. Formado, quis dar uma chance para a medicina.
“Se não for agora, aquela sensação de ansiedade vai se consolidar e vai virar só um diploma na parede”, pensou na época. “Vou dar pelo menos uma oportunidade e tem que ser onde eu possa fazer o menor estrago possível.”
Modelo de profissional
O posto de saúde da cidade de Monte Belo do Sul, na Serra Gaúcha, com 2.696 habitantes, foi seu destino. “Foi uma experiência fantástica para mim. Ao entrar no consultório com uma outra pessoa, comecei a perceber que tinham mais coisas na atividade do que o currículo na faculdade de medicina aborda.”
“Eu tinha muita insegurança, mas não tinha para onde correr. O responsável era eu. Compartilhava minhas dúvidas e inseguranças. Super constrangido de precisar buscar informação em um livro ou no Google na frente do paciente e não saber tudo de bate-pronto.”
“Eu me sentia incapaz, mas a população me dava o feedback de que nunca tinham tido um médico tão interessado. Eles me consideravam muito competente e a relação foi se construindo. Eu fui me descobrindo e me formando médico nesse contexto.”
Novos aprendizados
No ano de 2013, porém, decidiu embarcar em uma nova experiência. “Entrei para o serviço militar como médico e me voluntariei para ir à Amazônia, em São Gabriel da Cachoeira, onde o Brasil faz fronteira com a Colômbia.
“Foi uma viagem. Sair da Serra Gaúcha, em que atendia uma população de descendentes italianos colonos produtores de vinho, viajar milhares de quilômetros e para ir para para fronteira atender a população indígena.”
“Os diagnósticos não são os mesmos. Percebi que a cultura, como as pessoas se organizam, os hábitos de vida, tem muito a ver com a forma que a gente se relacionava e os processos de adoecimento específicos.”
Visando complementar uma formação obtida na prática, ao final do serviço militar, se inscreveu na residência em medicina de família e comunidade. “Descobrir uma série de competências muito parecidas com as coisas que eu fazia no posto de saúde.”
Medicina de família e comunidade
“Essa história de pegar informação na frente do paciente durante a consulta, que eu chamava de gambiarra, na residência eu recebia a nota por isso. Chama estudo imediato. Uma série de dinâmicas de manejo de agenda, de comunicação, de formação de vínculo, no papel de coordenação de cuidados.”
“Atender o paciente como um ser complexo. Não como uma máquina que vai consertar. Incluir sua história e entender que são processos que se passam em todas as esferas do corpo, mente e social .”
“Tem um ser social que sofre estresse dependendo do contexto que está inserido. Mesmo que tenha um problema orgânico, como uma hérnia de disco, a parte de conviver com o problema acaba sendo tão importante de ser abordado e cuidado quanto a própria doença.”
“Há o tratamento da doença, o cuidado com os sintomas e o cuidado com a pessoa que está doente. São três esferas do cuidado, com abordagens específicas para ter um resultado melhor em todas elas.”
Início na terapia canábica
Finda a residência, passou a atender pacientes vinculados a planos de saúde corporativos, que cada vez mais apostam na figura do médico de família para organizar a trilha de cuidado do paciente.
Ainda assim, já no final da residência, um outro tema começou a ganhar espaço em sua formação. “Meu trabalho de conclusão de curso da residência foi uma breve revisão de literatura sobre as possibilidades de aplicação de canabinoides.”
Nesse período, se aproximou do médico Paulo Fleury, uma referência em Cannabis medicinal, e seu grupo de terapeutas canábicos. “Durante dois anos, eu recebia pacientes vez ou outra, pontualmente propunha para um paciente que acompanhava, mas, até 2021, não era algo muito proeminente na minha atividade clínica.”
Os fios soltos de sua formação se uniram quando iniciou uma pós-graduação em cuidados integrativos. “Comecei a entrar em contato com outras formas de enxergar os cuidados com a saúde. “O que é saúde? O que é a doença? Qual é o papel profissional que assiste alguém enfermo, em sofrimento ou ao longo da vida?”
Velho novo mundo
“Entrei em contato com a medicina tradicional chinesa, ayurveda, antroposofia, homeopatia, Reiki. Várias racionalidades, que eu não estava ali para me tornar um especialista, mas me trouxeram mais humildade no que a gente utiliza nos pros cuidados de saúde.”
“Nosso modelo médico está atrelado à nossa cultura e tem as limitações de como a gente enxerga o mundo. Explica de alguma maneira algumas doenças, tem propostas de tratamento e atingem alguns resultados. Para algumas condições, é o melhor modelo, para outras, a gente patina. Muitas vezes causa dano na pessoa e tem poucas respostas.”
“O arsenal médico alopático parte do princípio da guerra. Vamos combater a doença. A batalha contra o câncer. Estamos lutando contra a depressão. Bloqueio uma última manifestação.”
“Vou bloquear a ansiedade, mas existe toda uma cadeia de eventos acontecendo que estará com sua manifestação reprimida. A pessoa melhora daquela queixa, mas ela estoura em algum outro lugar.”
“Ai vai buscar um profissional de outra área, que vai tratar como algo isolado também e, assim, se mantém um cuidado de saúde desorganizado, desintegrado, fidelizado no consumo de exames, medicamentos, consultas.”
“É um mercado. O médico diz que remédio eu tenho que tomar. Se não melhorar, eu troco de médico. É uma abordagem de poção mágica em que eu preciso que a pessoa seja paciente mesmo. Passiva.”
Reequilíbrio na terapia canábica
“Na medicina de família, o método clínico é centrado na pessoa. É convidar a pessoa a participar do processo de tomada de decisão sobre os seus próprios cuidados.”
Nesse propósito, a Cannabis medicinal tornou- se uma poderosa aliada. “A evidência científica, o modelo biomédico, ainda não respalda ou respalda parcialmente a terapia canábica, até porque ela vem de uma lógica muito mais integral.”
“Eu vejo a Cannabis como um pró-reequilíbrio e não um anti-doença. A terapia canábica casa muito bem com a medicina de família e comunidade pois traduz no biológico esse modelo.”
Cuidado participativo na medicina de família e comunidade
“Pessoas diferentes precisam de abordagens diferentes. Eu utilizo muito da lógica do sistema endocanabinoide justamente para trazer a importância de aprender a cuidar do paciente com o próprio paciente.”
“O sistema endocanabinoide, além de ser muito complexo, é muito individual. Me parece muito lógico seguir o modelo de compreender o que está acontecendo a partir da observação, e vincular esse raciocínio sobre como está convivendo ou tratando os problemas de saúde.”
“A terapia canábica me mantém como um iniciante a cada pessoa que eu recebo. Tenho ideias por onde começar, mas vou ter que interpretar as respostas e lapidando a prescrição de acordo com o que a pessoa vai me ensinando.”
“A pessoa passa a ser muito importante. Ela que vai trazer todo o conteúdo teórico que a gente vai se basear para todas as decisão de de condução da terapia.”
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O profissional integra a plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde, que conta com mais de 250 médicos, dentistas e fisioterapeutas com experiência na utilização da terapia canábica em seu arsenal.