Aos 23 anos, Guilherme segue em busca de um tratamento que cuide dos sintomas do Transtorno Global do Desenvolvimento, em uma jornada vivida intensamente por sua mãe, Eliane Conegundes Ribeiro, quando ele havia completado apelas um ano e meio de vida e foi chamada para conversar com a coordenadora do berçário do filho.
“Ele estava com atraso no desenvolvimento. Não andava sozinho, não tinha desenvolvido a fala e, a partir dessa constatação, começou a investigação.”
Foi descartado qualquer problema decorrente da gestação e a conclusão que o atraso era algo que poderia ser resolvido com fisioterapia e fonoaudiologia. A princípio, deu certo.
“Começou a andar o diálogo. Demorou um pouquinho, mas ele começou a desenvolver sua fala. Quando foi para a escola que começou o problema de verdade.”
“No berçário era só brincar e já tinha algumas dificuldades. Na fase da pré-escola começaram as dificuldades. Enquanto a maioria estava ali já estava caminhando para uma alfabetização, ele não estava. Continuamos com o acompanhamento com uma neuropediatra e ela deu um diagnóstico de déficit de atenção.”
Primeiros remédios
O diagnóstico não convenceu Eliane. O comportamento do filho era diferente da descrição de crianças com TDAH, mas, confiando na médica, deu início ao tratamento sugerido.
“Ele começou com a Ritalina e foi um terror. Quando acabava o efeito da Ritalina era uma tragédia para o estado de nervos dele. Para fazer tarefa, quebrava o lápis, mordia, arranhava a gente.”
Aos cinco anos de idade, Guilherme começou o tratamento com risperidona. “Não trouxe a calma. Não trouxe aquilo que a gente esperava de melhora e continuamos naquela polêmica. Ele dava muito problema na escola. Às vezes, chutava a carteira, a professora, porque não se sentia acolhido.”
O diagnóstico de Transtorno Global do Desenvolvimento
A busca seguia e, aos 8 anos de idade, enfim descobriram o que estava acontecendo com Guilherme. “Passamos por um neuropediatra, ele fez alguns questionamentos, pediu uma avaliação neuropsicológica e nos deu o diagnóstico de Transtorno Global do Desenvolvimento que estaria dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA).”
Mudou a patologia, não o tratamento com risperidona. Insatisfeita com os resultados, buscou outro médico que alertou para a possibilidade do medicamento alterar a produção de prolactina, um hormônio produzido pela hipófise. Um exame comprovou a alteração.
“Na época estava surgindo o aripiprazol, uma medicação cara e inacessível, mas o médico conseguiu e me deu. Ele já tinha 11 anos e ele ficou muito bem. Teve um bom rendimento na escola, ficou tranquilo. Depois ele começou a não dormir nem comer por conta da medicação.”
E volta a busca por um tratamento para o Transtorno Global do Desenvolvimento. Começou a tomar anticonvulsivante, pois os exames demonstraram potencial para epilepsia, embora nunca tenha apresentado uma crise.
Os medicamentos e seus efeitos colaterais
Conforme a idade avançava, ia aumentando as tentativas para melhorar a qualidade de vida de Guilherme. “Nunca com um resultado satisfatório.”
“Eu fui em uma médica muito bem conceituada e ela passou o Depakote. Eram quatro medicações, mas o Depakote levou ele a uma irritabilidade extrema, a ponto de quebrar as coisas dentro de casa de tão transtornado que ficava.”
“Ai trocava a medicação e procurava outro médico, e outro médico. Tudo que você pensar nessa área a gente tentou. Eles prescreviam tudo e eu nem lembro o nome de todas as medicações. Eu acredito que ele já tomou em torno de 40 a 50 medicações durante todo o tempo de vida dele.”
A última alternativa
Guilherme já estava com 22 anos e, mesmo com dezenas de tentativas, vivia na busca por um equilíbrio entre a irritabilidade extrema e os efeitos colaterais dos alopáticos.
“Eu fui ao médico e falei, ‘olha, eu não tenho mais condições de suportar as crises. Eu tenho lido sobre Cannabis, tenho visto mães falar sobre no Facebook, estão tendo bons resultados e quero tentar. Não suporto mais o que tenho vivido’.”
“Já ficou bem claro que, para ele, os psicotrópicos prescritos não trazem benefício no longo prazo. Traz uma melhora, mas nunca deu uma tranquilidade. Gasta dinheiro, usa medicação, mas tá sempre assim. Quando reclama com o médico, fala para aumentar a dose. Tudo quer aumentar a dose.’
“Trocava de remédio e ia ficando cada vez pior. Quando eu decidi pelo óleo de Cannabis, eu falei daqui a pouco não tem mais nada inteiro dentro de casa. Quebra a porta, amassa a geladeira. As coisas vão quebrando, a medicação que está deixando ele desse jeito, e quer dar uma dose ainda maior?”
A Cannabis no tratamento de Transtorno Global do Desenvolvimento
No final de dezembro de 2021, adicionou a Cannabis medicinal à lista de remédios. “Foi uma mudança da água para o vinho. Sabe quando está passando uma tempestade e acalma de uma vez? Foi desse jeito.
“Realmente acalmou bastante as crises. As agressões se tornaram praticamente inexistentes. Passou a dormir bem e ficou muito tranquilo, só que o óleo acabou.”
“A transportadora desviou meu pedido e ele ficou quase dois meses sem a Cannabis. Ele permaneceu um mês e meio tranquilo, do mesmo jeito que ele estava quando estava tomando óleo, depois começou a se agitar novamente.”
50%
Logo o óleo chegou e retomou o tratamento da mesma forma que estava fazendo antes. Nove gotas pela manhã, nove à noite, do mesmo medicamento, com a mesma composição de canabinoides, da mesma fabricante.
“Essa segunda tentativa já não foi tão acertada como a primeira. Eu não sei o que que mudou. Ele melhorou, mas não teve o benefício igual foi da primeira vez.”
“Na primeira, foi igual quando você tá com muita dor de cabeça toma um analgésico e a dor passa. Foi como tirar com as mãos.”
Guilherme está há mais de seis meses em tratamento contínuo com a Cannabis medicinal.
“Não trouxe toda a melhora que a gente esperava, mas ainda está sob controle. Se comparado com antes de usar o óleo, nós temos um resultado de 50% de conquista. Estamos fazendo consultas e tentando ajustar a dosagem atrás dos outros 50%.”
A ilusão
Uma busca pelo tratamento do Transtorno Global do Desenvolvimento segue com seus percalços. “Uma crise que ele teve em agosto foi uma tentativa de potencializar o óleo com naltrexona. Eu achei que eu ia ter que internar. Foi uma coisa louca que nunca vi na minha vida. Um surto de ficar com o olho vidrado.”
Interrompeu a naltrexona, e hoje toma Fenergan, que ajuda no combate à irritação, risperidona e o óleo de Cannabis. Eliane acredita que os outros 50% estão na retirada dos medicamentos alopáticos.
“Eu acredito que sim, a Cannabis resolve, ajuda. Eu não sei se vai ser possível ficar só com o óleo de Cannabis, que eu não vejo nenhum efeito colateral. Já encontrei um médico que disse que é possível e outro que me falou que não, que é ilusão.”
“Mas, de qualquer forma, tem um efeito que a medicação tradicional não dá. A Cannabis dá um benefício que outra não dá. Seja associada com outro remédio ou não, vai continuar com a Cannabis e não pretendo parar.”
Único arrependimento
“A minha dificuldade é encontrar um profissional que realmente compreenda a particularidade do paciente. Que consiga me orientar, porque eu tô usando o óleo e, por mais que ele seja benéfico, não vai trazer o benefício que poderia dar.”
“Conseguir ajustar a dosagem para não precisar de nenhuma medicação alopática. Por isso é importante procurar um médico que não tem só o CRM para prescrever, mas aquele que realmente estuda e entende a Cannabis, porque vai começar com toda a segurança.”
“O conselho que eu dou para quem tem receio do tratamento com Cannabis é que estude, leia a respeito, veja os depoimentos de quem já está usando. Que olhe para quantos tipos de doença a Cannabis tem sido prescrita. Não só no Brasil, mas nos países mais desenvolvidos também, onde já está em uso há muito tempo.”
“Eu só me arrependo de não ter ido atrás da Cannabis antes. Me arrependo mesmo.”
Agende sua consulta
Pela plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde você pode escolher entre mais de 200 profissionais de saúde com experiência na prescrição de Cannabis medicinal, aquele que melhor se encaixa com seu quadro e condição.
Pelo sistema de busca, é possível selecionar por especialidade, patologia, preço, plano de saúde e modalidade de atendimento – presencial ou telemedicina.