Ao remontar os motivos que levaram à psiquiatria, Éder Morais retorna à infância. Sua avó, líder religiosa de um centro espírita, lidava muito com o sentimento humano e isso deixou marcas. “Eu era criança e ficava assistindo essas grandes lições que minha avó me deu durante um período da minha vida.”
Uma experiência que fez Morais desenvolver uma habilidade fundamental na profissão. “Eu tenho uma facilidade muito grande de ouvir as pessoas. Sempre vinham conversar comigo sobre essas questões de sentimentos. Eu tenho uma escuta muito ativa, gosto de ouvir histórias, e acho que um bom psiquiatra tem que ser um bom ouvidor de histórias.”
O caminho, no entanto, não foi linear. Morais percorreu outras rotas na medicina até chegar à especialidade.
“A cirurgia que me atraía muito, mas eu me decepcionei um pouco com a especialidade. Fui rever na terapia e foi fantástico. A possibilidade de me conhecer muito melhor e conseguir entender o quanto a psiquiatria fazia sentido para mim. Entrei nesse mundo e é uma paixão. Não consigo me ver fazendo outra coisa.”
Psiquiatria e Cannabis
O local escolhido para fazer a especialização, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, ajudou a formatar sua trajetória. “Estava em um local que estudava muito o canabidiol. Em uma conversa com um docente, vi que estava publicando um artigo sobre o canabidiol, vi que ele tinha várias publicações e comecei a me interessar. Vi que era um campo gigante de estudo.”
A USP Ribeirão é a instituição com o maior volume de pesquisas científicas sobre a Cannabis medicinal no mundo. “Eu achei fantástico. É uma molécula que tem toda uma questão sociocultural. Foi a oportunidade de entrar nessa área, fui estudando cada vez mais e descobri trabalhos com outras substâncias psicoativas, que eram muito estudadas nas décadas de 1970, 1980, e agora está voltando.”
“A psiquiatria deu uma limitada na década da década de 2000 pra cá no ponto de vista farmacológico do tratamento de vários transtornos psiquiátricos e essas substâncias estão ganhando um espaço muito grande nas ciências.”
O que mais o impressionou foi justamente o potencial de tratamento em casos em que a medicação convencional não entregava resultados. “Em casos refratários, na maioria das vezes a pessoa fica num limbo, sem muita expectativa de melhora, e cria-se um estigma no paciente e seus familiares.”
“Eu pensei que poderia, pelo menos, melhorar algo naquilo que não se esperava melhorar nada e me entusiasmou para estudar a Cannabis.”
Casos de sucesso
Um de seus primeiros pacientes com canabinoide trouxe a certeza de seu caminho. “Um caso de de Transtorno obsessivo Compulsivo muito grave. Ele conta que, para cruzar o corredor da sua casa até o banheiro, tinha que fazer uma série de 15 rituais. Eram quase 8 horas por dia praticando um comportamento compulsivo e um sofrimento absurdo.”
“Com o uso do canabidiol, ele teve uma resposta fantástica. Chegou a chorar no meu consultório, eu fiquei muito emocionado. Pela primeira vez em dez anos ele pode ir ao banheiro sem nenhum tipo de ritual. Me motivou 100 vezes a estudar mais pois era um caso que já usava medicação em dose alta e já não tinha muita esperança.”
Desde então, trata principalmente TOC, ansiedade, insônia, depressão, esquizofrenia e TEA. “Transtornos muito graves e que não respondem à medicação e tem uma indicação muito clara de uso de canabidiol.”
“Já atendi pacientes que não querem de jeito nenhum usar antidepressivo. Tem vários efeitos colaterais que podem acontecer e, nesses casos, eu prescrevo canabidiol sem problemas, mas tem que estar bem claro entre eu e o paciente que estamos optando por algo que pode melhorar muito, mas com a ressalva que não podemos fazer de forma deliberada.”
“É importante ter a ideia de que existe um número baixo de estudos, mas, aparentemente, o canabidiol tem uma resposta muito melhor do que os antidepressivos na parte dos efeitos colaterais. Os efeitos colaterais do canabidiol são pouco documentados, mas são mais raros do que se você usar o antidepressivo.”
Futuro promissor
Contudo, Morais acredita que cada vez mais o canabidiol vai ganhar espaço dentro da psiquiatria. “O primeiro motivo é que a farmacologia na psiquiatria deu uma estacionada. Nos últimos 20 anos, poucos medicamentos foram desenvolvidos. A gente usa o que foi desenvolvido na década de 90 e até hoje é a primeira linha de tratamento.”
“O segundo ponto é que os estudos iniciais com canabidiol trazem uma esperança muito grande de melhora dos pacientes.”
“Eu tenho grande esperança de poder prescrever canabidiol cada vez mais de forma totalmente científica, baseado em evidências, sem ficar naquela panaceia de que trata tudo e não trata nada. Cria-se um preconceito em relação a isso.”
Ciências contra o preconceito na psiquiatria
“Pela falta de informação, cria-se um conceito geralmente pouco flexível. Uma opinião baseada em um conceito pré-existente. Quando você não tem informação suficiente para poder esclarecer melhor esse conceito, mantém aquele preconceito.”
“O que me deixa incomodado nessa parte do preconceito é o aspecto sociocultural da droga em si. Esse precisa ser combatido. Uma ideia de que é uma substância condenada, errada, sendo que há muitas substâncias que são utilizadas na medicina e podem ser droga também.”
Para dar sua contribuição à pesquisa, o psiquiatra está em fase de conclusão de sua tese de mestrado em que relata a experiência com seu paciente com TOC.
“Eu recebi na semana passada a notícia de que meu projeto foi aprovado no Congresso Europeu de Psiquiatria e em março vou apresentar esse trabalho com resultados parciais. Estou muito otimista e com uma expectativa muito grande para o futuro.”
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