Infectologista, trabalhando em hospital, não era raro que a médica Camilla Choairy de Almeida se deparasse com algum paciente idoso em tratamento com Cannabis medicinal. “Eu sempre achei muito interessante, mas eu achei que não tinha relação com a minha área, pois eram, a maioria, idosos com demência.”
O tempo passou e, em 2021, a médica teve seu primeiro filho. Para conciliar a dupla jornada, a nova mãe passou a trabalhar com auditoria para um plano de saúde. “Eu fazia a anamnese por ligação ou vídeo para saber se podia autorizar o tratamento para o paciente sem que ele saia de casa.”
Entre as perguntas de rotina, estava os medicamentos que o paciente tomava. “Eu comecei a ter mais contato com a Cannabis, pois tinha muitos pacientes idosos, mas também bastante transtorno do espectro autista. Comecei a ver pacientes com diversos diagnósticos fazendo uso da Cannabis.”
A infectologista e a Cannabis
“Eu comecei a pesquisar e achei uma área muito interessante. Não era uma área restrita. Eu achei que era uma boa para eu para eu incorporar na minha especialidade e também abrir um leque para poder tratar pacientes que não fossem da minha área.”
Mesmo como infectologista, a aplicação da Cannabis é ampla. “Vi que tinha estudos com HIV, com infecções, com doenças autoimunes.”
Se aprofundou nos estudos, fez pós-graduação e, há pouco mais de um ano, começou a prescrever. “A gente começa com os amigos. O filho de um, com dez anos e transtorno do espectro autista, estava regredindo na fala, no aprendizado e o pai veio comentar comigo.”
“A gente começou o tratamento e, com um mês, o pai veio falar da melhora absurda. Na segunda consulta, estava conversando comigo, tinha voltado a brincar com as outras crianças. A professora falou que estava conseguindo se concentrar mais, fazia o que era pedido. Foi uma melhora muito grande.”
Além das fronteiras da infectologista
Além das condições relacionadas à sua vertente infectologista, ansiedade, autismo e Alzheimer são as condições mais comuns em seu consultório.
“Quando os pacientes estão usando medicações alopáticas tradicionais, eles se referem com uma melhora parcial dos sintomas. A evolução da doença é mais lenta, mas ele só piora. Com a Cannabis, as crianças evoluem positivamente na fala, comportamento, socialização. No Alzheimer, você vê que, pelo menos, estabiliza. Não evolui para uma piora.”
Para a infectologista, a Cannabis mudou mais que a qualidade de vida dos seus pacientes. “Entender o sistema endocanabinoide foi um divisor de águas. Na faculdade, em nenhum momento foi falado sobre ele, que tem a função de regular o funcionamento de todos os outros. Não tinha nem noção da existência dele.”
Transformação tamanha que não se abstém de compartilhar detalhadamente seu conhecimento mesmo diante dos colegas mais preconceituosos. “A gente vê que tem muito preconceito misturado com curiosidade e eu explico para que a pessoa possa entender. Acho legal porque ajuda a difundir o conhecimento sobre o tratamento.”
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