Diante da escolha sobre qual especialidade seguir, a médica Anna Carolina Nogueira optou por ortopedia. Seria um caminho que a permitiria resolver de forma eficiente as queixas de seus pacientes. Mas tinha um entrave: a dor.
“Quando comecei a conhecer a ortopedia, vi que o problema que menos se resolvia era a dor crônica. Pacientes pós-traumáticos com amputação que tinham dor de membro fantasma. Paciente com problema de coluna que eu passava remédio, passava fisioterapia, e não resolvia nada.”
“Aquilo me incomodava. A dor é sempre muito menosprezada. Quantas vezes eu não escutei que o paciente vai ter que conviver com a dor? Isso me irritava.”
Ao fim da especialização, era a hora de optar por qual subespecialização iria seguir. “Fui trabalhar e fiquei pensando. Comecei a fazer pediatria, mas essa coisa da dor continuou me incomodando. “falei ‘quer saber, vou fazer uma pós em dor’. Fui ver o que tinha no mercado e vi que quem fazia era basicamente anestesista.”
Um novo rumo na ortopedia
Enquanto não chegava a qualquer conclusão, decidiu estudar. Passou a frequentar congressos, eventos, e todo lugar em que poderia absorver alguma informação. “Estudando por conta própria me veio essa questão do tratamento com Cannabis. Uma farmacêutica organizou um jantar com uma aula sobre a Cannabis medicinal e desde aquele dia esse é meu caminho.”
Há cerca de três anos, Anna Carolina redefiniu sua trajetória. Focou seus estudos no funcionamento do sistema endocanabinoide e as indicações de Cannabis medicinal. “De lá para cá, já é outro mundo. Quando comecei era caríssimo. O paciente tinha que ter uma grana.”
“Hoje tem muita opção de remédio, de preço. Tem de tudo: aula, podcast, curso, pós-graduação vinculada à faculdade, mil coisas. Nesse tempo, fui fazendo tudo o que aparecia. Viajei para os Estados Unidos para ver como era por lá.”
Primeira prescrição
Até que a péssima qualidade de vida de uma paciente lhe deu coragem para dar início à prescrição. “Ela tem uma síndrome reumatológica super complicada de tratar. Não é uma fibromialgia comum. Ela tinha muita dificuldade de fazer as suas atividades diárias.”
“Ela dizia: ‘Tô chata. Não aguento mais. Estou com dificuldade de me relacionar com meus amigos, meu parceiro, minha família. A dor está me incomodando muito.’ Comecei morrendo de medo e, depois de uma semana, ela me mandou uma mensagem: ‘Tive uma noite inteira de sono.’”
Na consulta de retorno, contou que, pela primeira vez, saiu sozinha e foi ao shopping comprar um presente de Natal para sua neta. “Ela foi desconfiada, mas não sentiu dor. Foi um movimento de independência muito grande.”
A bem-sucedida primeira experiência lhe entregou certeza sobre seu caminho. No boca-a-boca, passou a acumular pacientes em busca de tratamento com Cannabis medicinal. “Me apaixonei, fiquei e continuei.”
Um outro jeito de fazer ortopedia
Suas indicações mais comuns são para o tratamento de lombalgia (dor nas costas), para pacientes reumatológicos, com fibromialgia e pós-traumáticos. “Muito porque sou ortopedista, mas acaba sempre caindo em casos de ansiedade e depressão leve.”
Seu novo caminho lhe levou a transformar sua prática médica e atualmente está cursando uma pós-graduação em medicina funcional integrativa para aprimorar seu atendimento clínico.
“A Cannabis muda o tipo de atendimento do médico. Quem se propõe a estudar e prescrever Cannabis medicinal, não é um médico focado só na queixa do paciente. Se vou atender um paciente com dor, eu pergunto como se alimenta, hábitos de vida, sono, relações, tudo.”
Ortopedia integral
“Eu pego um paciente com dor nas costas, mas, na verdade, o que estava incomodando ele era que não estava dormindo, não estava produzindo no trabalho, não tinha mais relação sexual. Eu consigo tratar tudo isso com Cannabis e, assim, a dor vira uma coisa insignificante.”
“São pacientes carentes de um tratamento resolutivo. A formação médica é muito fechada na parte física do paciente e acaba menosprezando um pouco as outras queixas.”
“Quando você entra no mundo da Cannabis, você tem que entender o paciente de uma forma global. Tem que saber se está tudo bem na sua vida, se está com um processo de ansiedade e depressão. Mesmo que não seja nada diagnosticado pelo psiquiatra, mas sintomas que podem incomodar.”
“Eu demoro o triplo do tempo de uma consulta de ortopedia normal. Eu quero entender o dia-a-dia daquele paciente, o que ele precisa melhorar e até onde eu consigo ir com a Cannabis. Não quero vender uma coisa que eu não vou conseguir resolver.”
Efeitos adversos
Ao longo do tempo, a experiência tem sido positiva, principalmente se comparado com outros medicamentos para dor. “Nunca tive que suspender o tratamento com Cannabis por efeito colateral até hoje.”
“O mais comum é diarreia no início e, em alguns casos que tenho que usar um pouco mais de THC, eles se queixam que começou a aumentar a frequência dos sonhos, mas ainda acordam descansados.”
“Começamos em dose baixa e vamos titulando devagarzinho, então são pouquíssimos casos em que algo realmente incomodou o paciente.”
Sem milagre
Mesmo com as evidências clínicas da melhora da qualidade de vida de seus pacientes, Anna Carolina conta que muitos de seus colegas questionam sua opção por prescrever Cannabis.
“Venho de um ambiente muito machista, que é a ortopedia. Um ambiente onde os professores são antigos e, como a medicina canabinoide não é uma matéria de grade curricular da faculdade de medicina, eles viram os olhos. Diz que é óleo essencial, homeopatia.”
Nada que a faça questionar sua escolha de caminho. “A gente ainda vai descobrir muita coisa. É uma planta muito rica que atua em um sistema muito grande do nosso corpo. Ela dá a possibilidade da gente seguir por vários caminhos.”
“Mas não funciona para tudo, infelizmente. A gente tem que tomar bastante cuidado pois tem muito paciente que vem achando que vai resolver a vida, todos os problemas, só que, como todos os remédios, está tratando os sintomas, não a causa.”
“Se o paciente tem uma ansiedade generalizada, uma depressão, a gente está lá para ajudar na parte física, no sintoma. A parte psicológica é com o paciente. Não é uma coisa milagrosa.”
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