A endometriose foi descrita cientificamente pela primeira vez em 1860, pelo austríaco Carl Freiherr von Rokitansky. Já passaram mais de um século e meio e, mesmo assim, nada impediu que Alessandra dos Santos passasse mais da metade de sua vida sem saber o que havia de errado com seu ciclo menstrual.
“ Em primeiro lugar, eu nunca fiquei menstruada, sempre fiquei doente. Consequentemente,eu ficava de cama, tomava remédio, tinha febre, fluxo intenso. Isso transcorreu durante minha vida inteira. Minha mãe sempre me levava aos médicos e aquilo era tratado como se fosse normal. Eu era muito pequenininha, muito magrinha, sensível, e era esse o diagnóstico.”
“Fiquei menstruada a primeira vez com 15 anos de idade e sofri muito na minha adolescência. Por isso, minha juventude foi muito difícil. No entanto, na fase adulta, começou a ficar pior.”
Posteriormente, já adulta, ela passou a buscar, sem sucesso, alguma explicação para o seu sofrimento. “Assim, comecei a buscar alguma resposta, porque sempre achei que aquilo não era uma coisa normal. Não podia ser.”
Calmaria e tempestade
Até que, em 2007, ela engravidou do seu primeiro filho. Com a interrupção da menstruação, veio o alívio. ”Se eu soubesse que era tão bom, eu tinha tido um filho por ano. Não ficar menstruada foi maravilhoso.”
“Mais ou menos oito meses depois que ele nasceu, parou de mamar no peito e meu ciclo ficou normal. Começou o inferno na minha vida. O que era ruim, piorou 200 por cento.”
Então, tentou todas as formas de anticoncepcional, na tentativa de interromper a menstruação, sem sucesso, enquanto seguia em busca de alguma resposta. “Em resumo, sofri esse tempo todo e meu diagnóstico de endometriose só saiu em 2015.”
Alessandra, hoje aos 48 anos, ficou dos 15 aos 40 anos sem qualquer direcionamento sobre qual patologia lidou a maior parte de sua vida. “ Até pouco tempo atrás, não se falava de endometriose. Por isso, eu não sabia dessa doença. Ninguém nunca chegou até mim e disse que eu poderia ter endometriose.”
No ano seguinte, Alessandra foi submetida a uma histerectomia para a retirada do útero, comprometido pela doença. Com a agressiva cirurgia, decidiu buscar mais qualidade de vida, em Florianópolis (SC). “
Eu não tinha mais ciclo menstrual, pois não tinha útero, e passei a curtir para caramba. Surfava, andava de skate, coisas que não conseguia fazer durante a juventude. Eu nasci de novo.”
Controle da endometriose
No entanto, logo uma dorzinha surgiu no lado esquerdo de seu abdômen. “A endometriose voltou, se é que algum dia ela saiu. Só que ela pegou o intestino.”
Por causa disso, foi submetida a uma cirurgia que retirou 10 centímetros de seu intestino. ”Foi uma cirurgia muito pesada. Tive que fazer uma dieta. Já sou uma mulher pequena e cheguei a pesar 45 quilos.”
Era só o começo. Depois disso, foram mais oito cirurgias. “Volta, pega o ovário e eu perco ovário. Toda vez que me abre para cirurgia, vê que tem placas gigantescas de endometriose. Atualmente, eu tenho dor neuropática crônica, porque a doença lesionou os nervos da minha região pélvica.”
“Em outras palavras, tenho dor 24 horas por dia. Tentei muita medicação, todos os antidepressivos, anticonvulsivantes, gabapentina, pregabalina, carbamazepina, até que cheguei na metadona e morfina.”
“Pouco depois, estava tomando morfina diariamente, que é a última instância medicamentosa. Logo após, começou a dar outras coisas. Meu fígado, estômago, minha pele, meu cabelo, as medicações acabaram comigo.”
“Por fim, eu estava praticamente viciada em morfina, e o médico decidiu implantar na minha coluna um aparelhinho que se chama neuroestimulador medular, que é como o choquinho da fisioterapia, direto onde tenho dor, para inibir um pouco. Aliviou 30% da dor. Pouquíssimo, perto da complexidade que foi a cirurgia.”
Cannabis para endometriose
Em duma: era sua última opção. “Eu era uma pessoa muito prec,onceituosa com quem fumava maconha. A pessoa que fazia uso recreativo da planta e eu não sabia. Essencialmente, eu não tinha o conhecimento que eu tenho hoje.”
No entanto, uma placa do neuroestimulador saiu do lugar e teve que ser submetida a mais uma cirurgia para posicioná-la. Cansada, decidiu deixar seu preconceito de lado e dar uma chance ao óleo de Cannabis. “Foi a mágica que aconteceu na minha vida.”
“Não alivia a minha dor como eu gostaria, mas me relaxa, consigo dormir, fico menos depressiva. Eu tinha muito pensamento suicida, inclusive, e ela me centra.”
O início, porém, não foi fácil. “Fui largando aos poucos aquelas medicações psiquiátricas e a morfina e dando a vez ali para o óleo de Cannabis.”
Enquanto isso, tinha dificuldade para se adaptar às doses altas de THC, indicado em casos de dores crônicas intensas. “Comecei a me retrair socialmente. Já era, em função da dor, e fiquei mais ainda. Principalmente, não aliviava a dor e eu ficava chapada e não gostava da sensação.”
Passou cerca de um ano em busca de um óleo de Cannabis, sempre adquirido junto à associações de pacientes, e uma dose que conseguisse entregar uma melhora de qualidade de vida, sem efeitos adversos. “Foi uma barreira bem grande para mim, mas eu persisti.”
Óleo e dose certos
Há um ano, encontrou a combinação ideal. “Eu ainda tenho um problema de mobilidade, em função da minha dor. Antes, eu precisava da bengala para caminhar até dentro de casa. Atualmente, eu vou na praia caminhar todos os dias e já não preciso mais usar bengala. Vi que melhorou bastante o meu condicionamento físico.”
“Eu vejo que a Cannabis melhorou mais na questão do meu emocional que na dor propriamente dita. Na dor, eu não achei uma efetividade tão grande – pelo menos, não como eu gostaria.”
“Mas, emocionalmente, eu durmo muito melhor, como melhor. Sou uma pessoa mais centrada para tomar as minhas decisões. Antes, eu era uma pessoa que escutava um problema, já ficava toda angustiada e nervosa. Hoje em dia, não. Sou uma pessoa mais pacífica e tranquila.”
“Não consigo mais ficar sem. Eu coloco no meu orçamento: água, luz e o óleo da Cannabis. É uma coisa que já faz parte da minha vida.”
“Eu ainda tenho crises de dor a cada sete dias, mais ou menos. É tão forte que tenho uma espécie de epilepsia. O meu médico me instruiu a comprar um vaporizador para esses momentos de crise. Não consigo ingerir o óleo, porque vomito, então vaporizo.”
“De tudo, a única coisa negativa para falar são os valores. Eu tomo óleo de CBD e THC separado. Se fosse custear o valor, não teria condições. Eu compro com preço social de uma associação.”
É mágico
Diante da dificuldade, ela busca se aprofundar no tema, para ajudar quem também precisa de tratamento com Cannabis. “Já faz dois anos que sou paciente canábica e me apaixonei tanto pela área, pelo benefício que me traz, pelo alívio, que resolvi ampliar mais meus conhecimentos e entrei de cabeça.”
“Fiz o curso da Unifesp, estou fazendo uma pós-graduação em Cannabis medicinal, e tô cada vez mais apaixonada. Tanto para o meu tratamento quanto para outras pessoas. O alívio que traz para as pessoas e o quanto isso é mágico. O quanto é bom ter acesso à Cannabis medicinal.”
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