De acordo com pesquisa, 42% dos pacientes de câncer de mama nos EUA buscam a Cannabis para alívio dos sintomas, mas 39% sequer consultam os médicos antes de se automedicarem
Um estudo, publicado em outubro de 2021, revelou que quatro em cada 10 pacientes com câncer de mama nos Estados Unidos usam a cannabis para alívio dos sintomas e aumento da qualidade de vida durante o tratamento. A pesquisa envolveu o organismo sem fins lucrativos norte-americano Breastcancer.org, o Instituto Lankenau de Pesquisa Médica na Pensilvânia, o Centro de Pesquisa em Saúde Populacional da Pensilvânia, a Oncologia Médica da Universidade do Texas Health San Antonio, o Instituto Lundquist de Inovação Biomédica na Harbor-UCLA Medical Center na Califórnia e o Departamento de Psiquiatria da Universidade Columbia Irving Medical Center em Nova Iorque.
O levantamento, realizado entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, contou com a participação de 612 pacientes (605 mulheres, cinco homens e dois sem identificação) cadastrados na base de dados nacional dos Estados Unidos. Os requisitos eram: estar acima de 18 anos, residir em território norte-americano e ter mais de cinco anos de diagnóstico. De forma online e anônima, os participantes, tiveram que responder à 47 perguntas elaboradas por oncologistas.
Além da idade, sexo, região, tempo de tratamento, estágio atual da doença e medicamentos ministrados, estavam o porquê do uso da Cannabis medicinal, a forma e os produtos usados, bem como a fonte de informações dos usuários. O objetivo foi conhecer as razões, o tempo de uso, a satisfação com os dados encontrados, as percepções de segurança com o produto e se há diálogo sobre a Cannabis entre pacientes e médicos.
A pesquisa revelou que 42% (257 do total) fazem uso da Cannabis como tratamento para gerenciar sintomas comuns aos pacientes de câncer de mama como dor, ansiedade, insônia e náusea. Destes, 79% iniciaram a medicação com as propriedades medicinais da planta ao longo do tratamento convencional que incluía terapias sistêmicas, radiação e cirurgia.
O que chama a atenção é o alto número de pacientes que começa a usar a Cannabis para tratamento oncológico sem orientação médica. De acordo com a pesquisa, a grande maioria busca informações sobre o medicamento na internet, com amigos e familiares. No questionário, ao responder se estavam à vontade para discutir o assunto com seus médicos, um em cada três admitiu desconforto para tratar o tema com seu oncologista e 39% não abordaram o uso do fitofármaco com seus médicos, mesmo fazendo interação medicamentosa com outras drogas.
Alívio dos sintomas
Dentre os que relataram fazer uso da Cannabis, 78% afirmaram utilizar o medicamento para reduzir a dor, 70% para tratar insônia, 57% para reduzir o nível de ansiedade, 51% para controle do estresse e 46% para minimizar náuseas e vômitos. Nesta parcela, 75% afirmaram que o medicamento à base de canabinoides é extremamente eficaz e outros 57% disseram não achar outra forma de tratar os sintomas.
O interessante é que, de acordo com os dados, quanto mais jovem o paciente maior a percepção dos benefícios advindos da planta. Dos que responderam à pesquisa, 86% dos doentes com menos de 50 anos relataram ganhos com o uso da Cannabis. Para os enfermos entre 50 e 65 anos, o índice cai para 72% e para quem tem mais de 66 anos a percepção de melhora estaciona em 62%.
O levantamento ainda mostra que metade dos pacientes que utiliza a Cannabis para fins médicos acredita que a planta pode ser usada para tratar o próprio câncer e não apenas reduzir os efeitos colaterais. De acordo com o estudo, três em cada quatro acreditam que os compostos naturais são melhores do que outras drogas químicas. Outros 70% acreditam que o tratamento com a Cannabis medicinal é seguro. Por outro lado, os pacientes admitem desconhecer o risco de contaminação dos produtos, não sabem dizer a diferença entre os fármacos e fitoterápicos, bem como os riscos de interação medicamentosa.
A pesquisa também mapeou os produtos e as formas de ministrar os remédios pelos pacientes de câncer. Dos que reconheceram usar a Cannabis, 70% informaram utilizar através de produtos comestíveis, 65% de forma líquida (óleos), 51% na versão fumada, 46% de forma tópica e 45% por meio de vaporizadores.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que os medicamentos à base de Cannabis ainda sofrem uma série de limitações, seja pelo estigma social ou pelo status de ilegalidade. O estudo destaca outro dado significativo: um desconhecimento acerca da Cannabis para fins medicinais entre o próprio meio médico e cita uma pesquisa realizada com 400 oncologistas norte-americanos, na qual 70% dos especialistas não se sentem preparados para discutir ou recomendar o uso de canabinoides para seus pacientes.
Isso significa dizer que é latente a necessidade de aprofundar os estudos acerca das propriedades medicinais da maconha, bem como melhorar o processo de informação e formação dos profissionais de saúde para o tema possa evoluir e proporcionar maior qualidade de vida e segurança dos pacientes.
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