Soluções mantém todos canabinoides da planta, além de terpenos e flavonoides: entenda por que esse efeito é importante
Na final de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a primeira autorização para uma empresa brasileira produzir um derivado de Cannabis. O produto é um fitofármaco de canabidiol isolado fabricado pela paranaense Prati-Donaduzzi. A mesma empresa também está desenvolvendo um CBD sintético, projeto ainda sem prazo de conclusão.
Além do CBD da Prati, está disponível nas farmácias brasileiras o Mevatyl, com dois fitofármacos associados, THC e CBD. Ele é indicado contra a esclerose múltipla. Ambos custam mais de R$ 2 mil – porém, este é outro assunto. Já entre os sintéticos, existem produtos como o Dronabinol, uma forma sintetizada de THC, ainda não registrado no Brasil,, indicado para estimular o apetite e combater a apneia noturna. Tanto os fitofármacos quanto os sintéticos são compostos isolados, sendo os primeiros a partir de uma planta, e os segundos, em laboratório.
Essas duas categorias se assemelham bastante, ao mesmo tempo em que se distanciam dos óleos fitoterápicos, que são aqueles que se obtém usando apenas matérias-primas vegetais, conforme explica o neurocientista Dr. Fabrício Pamplona, farmacologista especializado em canabinoides.
“Quando você fala de fitofármaco, isolado, um CBD isolado versus um CBD sintético, em princípio não é para haver uma grande diferença a não ser o perfil de impurezas. A principal discussão é quando você considera um fitoterápico versus um medicamento obtido a partir de insumos sintéticos, e aí a grande diferença é eles serem isolados ou não, estarem em associação com outros compostos”.
Os fitoterápicos, no entanto, ainda não estão disponíveis nas farmácias do Brasil. Por isso, o paciente precisa importá-los. Os óleos artesanais também pertenceriam teoricamente a essa categoria, caso fossem legalmente registrados e pudessem comprovar padronização. De qualquer forma, de acordo a atual regulamentação da Anvisa, todos os remédios vindos da planta pertencem a uma categoria à parte, a de “derivados de Cannabis”.
Na semana passada, uma matéria do portal Cannabis & Saúde explicou as diferenças entre os fitoterápicos, fitofármacos e sintéticos de Cannabis. Agora, vamos listar as vantagens das primeiras soluções.
Também chamados de full spectrum, os fitoterápicos mantém todos os canabinoides da planta, além de terpenos e flavonoides, condição que caracteriza o fitocomplexo da planta, que é o conjunto de substâncias que serão responsáveis pelo efeito terapêutico, conforme explica a neurologista Jackeline Barbosa, doutora em Ciências Médicas e especialista em desenvolvimento de fitoterápicos.
“Esse efeito terapêutico do fitocomplexo é chamado de efeito sinérgico, ou efeito comitiva, (do francês ou inglês: entourage) que nada mais é do que as moléculas de “mãos dadas” exercendo seu efeito quando estão em conjunto. Se você separa, não tem o equilíbrio da ação farmacológica. É uma das desvantagens de se isolar elementos do fitocomplexo”, explica.
“Comparado ao fitoterápico, é uma desvantagem que não se tenha esse efeito sinérgico. É a comparação entre uma orquestra e um solo. Um solo tem o seu papel, mas você não deve usar um músico com apenas um instrumento para ter o efeito de uma orquestra!”, ilustra a médica.
Já com relação ao artesanal, a desvantagem é que não existe controle de qualidade e padronização, explica Dra. Jackeline.
“A padronização é um parâmetro de qualidade para garantir que todas as vezes você vai ter uma mesma concentração daquele conjunto de substâncias por unidade terapêutica posológica. Num óleo padronizado, eu sei que cada vez que eu tomar uma determinada medida eu posso esperar o mesmo efeito, porque tenho um marcador que me serve de baliza”.
Conforme o psiquiatra Dr. Wilson Lessa, diretor da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis, a estimulação do nosso sistema endocanabinoide é melhor desempenhada quando utilizamos esse efeito comitiva, principalmente “de modo personalizado e harmônico para cada pessoa em sua demanda temporal específica”.
“CBD purificado de planta (fitofármaco) pode ser efetivo para o controle de crises epilépticas. Mas se esse CBD estivesse em um óleo de full-spectrum, os estudos demonstram que doses menores seriam tão efetivas quanto”, explica o médico.
“O CBD isolado funciona. Porém, quando em conjunto com outros fitocanabinoides, e eles são mais de 100, terpenos, que são os óleos essenciais, e os flavonoides, funciona ‘economicamente’. Ou seja, necessita de doses menores de CBD”, conclui o Dr. Lessa.
Já o neurocientista Fabrício Pamplona pondera que pode ser interessante separar o composto químico em determinadas plantas.
“Quando você fala de fitoterápico, tem os prós e contra de outras substâncias na mistura que é o fitocomplexo. Muitas vezes o fitocomplexo é benéfico, e portanto tem mais efeitos medicinais que a molécula isolada, o que nem sempre é o caso. A gente conhece plantas que têm compostos tóxicos, e você conseguir isolar o princípio ativo é muito interessante.
O cientista, contudo, pondera que no caso no caso da Cannabis a associação com outros canabinoides é benéfica: “pelo estudo de metanálise que eu fiz, muitas vezes a associação entre CBD e THC é bem-vinda!”
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