Vítima de atropelamento, com estresse pós-traumático, Caio Vieira encontrou tratamento na Cannabis, e agora amplia os benefícios a seus pacientes
Há tempos a Cannabis medicinal estava no radar do psiquiatra Caio José Antônio Vieira. Sempre atento às novidades de sua área, acompanhava animado as pesquisas realizadas na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), além de, vira e mexe, se deparava com pacientes em busca de tratamento canabinoide. Sobrava vontade de aprender sobre a prescrição, mas faltava tempo em sua atribulada vida de médico da pequena São Sebastião do Paraíso, no sul de Minas Gerais.
Até que a vida o obrigou a parar. Atleta amador, estava correndo na rua quando, em julho de 2020, foi atropelado por um carro. “Precisei fazer uma cirurgia ortopédica grande, que me dava bastante dor. Fiquei dois meses de repouso. Nesse período, eu não estava aguentando de dor.”
Tratamentos para dor
Com fratura na clavícula, teve que ser submetido a um enxerto ósseo. O procedimento resultou em uma complicação chamada capsulite adesiva, que travou seu ombro, acompanhado de muita dor. “Estava tendo que tomar Tramadol e, tá doido, eu não conseguia nem pensar. Me deixaram atônito, fora da realidade.”
Uma escolha ingrata: dor intensa ou os efeitos colaterais do medicamento? Seja qual fosse a opção, restava pouco espaço para qualidade de vida. “Eu não queria ficar parado. Decidi, então, ir atrás do canabidiol, já que não queria ficar tomando esses outros remédios.”
Cannabis e dor crônica
Pouco tempo depois que começou com o óleo, as dores pararam de incomodar tanto. Benefício que se estendeu, pois passou a dormir melhor e, principalmente, ajudou a controlar a ansiedade e o quadro de estresse pós-traumático que enfrentava desde o acidente.
Com as dores controladas e a mente funcionando melhor, apesar de ainda estar em repouso forçado, Caio entendeu que havia chegado a hora de se dedicar de uma vez por todas à Cannabis medicinal. “Sem condições de trabalhar, com uma limitação física importante, comecei a fazer cursos. Me tratava e estudava. Ano passado houve uma explosão de cursos, congressos, e fui fazendo”, conta.
Apesar de só ter retornado ao atendimento presencial em fevereiro de 2021, logo que pode começou trabalhar por telemedicina, e assistiu os benefícios da Cannabis também em seus pacientes.
“O que muda muito é o ganho de qualidade de vida. Paciente que trabalha com pensamento, criação, se queixa muito de não conseguir produzir, imaginar, quando está tomando antidepressivo, conta. “É muito normal a queixa de estar sem sentimentos. Com o canabidiol não. Os pacientes relatam muito que tem a melhora dos sintomas depressivos, mas continua sentindo. Consegue criar, produzir.”
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Médico prescritor
Em uma cidade pequena, logo começou ampliou o leque de patologias que cuidava, como dor crônica e tratamento paliativo em pacientes oncológicos. “O que marcam são as histórias dos pacientes poli refratários. Tem um caso de uma paciente com problema de coluna, uma escoliose bem grave congênita, e que já fez quatro, cinco cirurgias. Tomava Tramadol em dose máxima, já não respondia. Tinha que, às vezes, tomar morfina na veia. Era adolescente e não tinha vida, tadinha”, relata. “A gente controlou bem a dor dela. Não está tomando mais outros remédios, e voltou a ter qualidade de vida só com CBD.”
Nos poucos meses que atende presencialmente os pacientes de São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais, está surpreso com a recepção da população. “É uma cidade pequena, mas a aceitação está legal. bastante procura. Mas existe os dois lados da moeda”, pondera. “No meio médico, existem os conservadores que, sem informação, são ferrenhamente contra. Outros aceitam bem. Tenho alguns colegas que estão procurando se especializar.”
Entretanto, o psiquiatra faz questão de destacar que a Cannabis não se trata de uma panaceia. “O sistema endocanabinoide é muito amplo, principalmente quando fala em neuropsiquiatria, isso assusta um pouco eles. O pessoal ainda tem muito medo, principalmente do THC, ainda existe um medo”, afirma o médico, que trata cerca de 60% dos seus pacientes com Cannabis. “Acho que tende a aumentar a procura, mas tem casos que não dá para indicar. Pacientes que não respondem. Não vai sair tratando tudo que existe no mundo.”
Pelo menos para ele, a Cannabis segue auxiliando. Recuperado do acidente, retornou à vida de atleta. “Voltei a correr. Hoje eu faço tratamento preventivo de lesão com Cannabis. A recuperação muscular no pós treino é muito mais rápida que antes. Hoje em dia não entra mais anti-inflamatório no meu corpo”, defende o psiquiatra, que avisa:
“A Cannabis funciona muito bem, mas é importante vir junto mudanças em direção de um estilo de vida mais saudável. É importante melhorar a alimentação, fazer exercícios, para deixar o sistema endocanabinoide fazer o serviço dele no tratamento.”