O Conselho Americano de Laboratórios Independentes (ACIL, na sigla em inglês), entidade que representa laboratórios científicos e de testes comerciais nos EUA, promoveu uma série de análises em produtos derivados do cânhamo disponíveis no mercado para os consumidores norte-americanos.
De acordo com os resultados, divulgados em comunicado, a maioria dos produtos apresenta rotulagem inconsistente, contendo concentrações superiores a 0,3% de delta-9-THC. Além disso, alguns produtos apresentaram altos níveis de pesticidas e Certificados de Análises (COA) errados ou incompletos.
O relatório divulgado pela ACIL acende um alerta para os consumidores, que podem estar adquirindo produtos diferentes do esperado e se expondo involuntariamente a canabinoides com efeitos psicoativos e intoxicantes.
<0,3% de delta-9-THC
Fundada em 1937, a ACIL é uma renomada associação que reúne empresas especializadas na testagem e certificação de produtos, além de consultoria, pesquisa e desenvolvimento. Laboratórios membros da ACIL, todos com certificação ISO 17025, colaboraram para esta pesquisa sobre o mercado de produtos derivados do cânhamo nos EUA.
O método de análise envolveu a compra de produtos derivados do cânhamo disponíveis em lojas físicas e online. Esses itens incluíam óleos para uso oral, canetas vape, comestíveis, bebidas, flores ou cigarros pré-enrolados. Depois disso, os produtos foram submetidos a testes nos laboratórios da ACIL.
O objetivo principal do estudo era verificar a conformidade dos produtos com o limite legal de até 0,3% de concentração de delta-9-THC estabelecido pela Farm Bill de 2018. Além disso, os membros da ACIL compararam os testes realizados nos laboratórios participantes da associação com o laboratório de testes original de cada marca para identificar possíveis discrepâncias.
Farm Bill de 2018: um marco na indústria do cânhamo nos EUA
É importante destacar como funciona o mercado de produtos derivados do cânhamo nos EUA antes de analisarmos os resultados. Em 2018, entrou em vigor uma atualização da Farm Bill, um conjunto de regras sobre a agricultura que define o que pode ser cultivado, como deve ser esse cultivo e os padrões de qualidade necessários para garantir que essa produção não ofereça riscos à saúde das pessoas.
Uma das principais novidades da Farm Bill de 2018 foi a regulamentação do cultivo de cânhamo, uma variedade de Cannabis com baixos teores de delta-9-THC. Desse modo, abrindo caminho para sua utilização em diversas indústrias.
Ao mesmo tempo, a Farm Bill criou um mercado de canabidiol (CBD) até então inédito no país. Produtos feitos a partir do cânhamo ricos em CBD e com menos de 0,3% de delta-9-THC tornaram-se legais e amplamente disponíveis para os consumidores em lojas físicas e online. Esse limite para o canabinoide foi estabelecido para proteger o público de substâncias que podem desencadear efeitos psicoativos e intoxicantes, evitando que as pessoas passem por situações desafiadoras.
Essa nova legislação permitiu a comercialização de outros compostos produzidos naturalmente pela planta Cannabis e que têm efeitos psicoativos, como o delta-8-THC e o hexahidrocanabinol (HHC).
Essas análises são importantes para reforçar a confiança entre os produtores e consumidores. Além disso, fornecem um panorama de como o mercado de cânhamo está se desenvolvendo nos EUA, destacando estratégias que podemos adotar em outros lugares.
Os problemas observados no mercado de cânhamo nos EUA
As análises da ACIL identificaram uma série de problemas. Abaixo, os principais pontos a melhorar no mercado de cânhamo dos EUA, de acordo com a associação:
“1) Embora todos os produtos de cânhamo indiquem no rótulo que são ‘compatíveis com a Farm Bill’, muitos tendo um Certificado de Análise (COA) de laboratórios relatando níveis de delta-9-THC menores que 0,3%, 69% dos produtos testados não atendem ao requisito de <0,3% para cânhamo sob a Farm Bill de 2018.
2) Muitos produtores interpretam a Farm Bill como se referindo apenas ao próprio delta-9-THC, excluindo sua contraparte ácida THCA. Se o total de THC tolerado pela USDA (uma soma de delta-9-THC e THCA) for medido em relação ao requisito de 0,3% de THC, 81% dos produtos excedem os padrões legais. Essa falta de conformidade tem duas consequências principais:
a) Uma porcentagem ainda maior dos produtos testados são ilegais e não devem ser considerados cânhamo industrial ou derivados de cânhamo industrial.
b) Os consumidores estão sendo fraudados e levados a acreditar que estão comprando produtos legais e/ou não tóxicos quando esse não é o caso.3) Os consumidores estão consumindo produtos contaminados involuntariamente. Sete dos 48 produtos testados (15%) apresentaram níveis de pesticidas acima do esperado e, às vezes, até 600x os limites.
4) Alguns produtos foram rotulados incorretamente. Por exemplo, um produto rotulado como ‘THCA Flower Pre-roll’ continha apenas 1,8% de THCA, enquanto também continha 4,8% de delta-8 e 3,7% de delta-9 THC.
5) Alguns dos códigos QR estavam vinculados ao COA errado ou não conseguiam vincular o COA ao produto/lote específico, conforme exigido em muitos estados.
6) A maioria dos COAs de produtos exibe apenas testes para conteúdo de canabinoides e não tinha o escopo completo de testes exigido no mercado legal de Cannabis.
7) Os produtos também violam vários outros requisitos que são padrão na maioria dos mercados legais de Cannabis:
a) Falta de rotulagem do conteúdo de canabinoides,
b) Falta de restrição de idade (não era necessário mostrar a identidade ao comprar),
c) Falta de controle de lote,
d) Alguns rótulos de produtos indicavam que continham terpenos ou aditivos de sabor não derivados de plantas, que não puderam ser determinados como seguros, pois os ingredientes não estavam listados especificamente.”
Ainda há muito a fazer
O comunicado da ACIL com os resultados do estudo também apresentou algumas propostas para que o mercado de produtos derivados do cânhamo continue evoluindo nos EUA.
“Os resultados do estudo da ACIL indicam que o cenário atual não está atendendo aos requisitos legais da Farm Bill nem aos limites de teste exigidos pelo USDA (agência dos EUA para agricultura) para THC. Os dados do estudo de pesticidas indicam a necessidade de expandir os testes de produtos de cânhamo para garantir sua segurança. O estudo examinou apenas resíduos de pesticidas devido a restrições de tempo e recursos, não contaminação microbiana, metais, micotoxinas ou solventes residuais. Todos esses são necessários para mercados de Cannabis para uso médico e adulto regulamentados pelo estado.”
Produtos à base de Cannabis no Brasil
Aqui no Brasil, é possível adquirir produtos com Cannabis legalmente se você tiver uma prescrição médica. Você pode tratar dezenas de condições de saúde com a planta utilizando medicamentos com grau farmacêutico e testados por laboratórios independentes.
Se você quer iniciar um tratamento com Cannabis, o primeiro passo é acessar a nossa plataforma de agendamento e marcar uma consulta com um profissional da saúde experiente na prescrição de produtos derivados de canabinoides. Lá, você encontra mais de 300 opções de diversas especialidades, todos preparados para avaliar o seu caso e recomendar o melhor caminho. Marque já uma consulta!