Você sabia que o uso de moléculas da planta, como o CBD e o THC, associado a tratamentos considerados convencionais, pode ser uma nova maneira de encontrar melhores resultados terapêuticos? Estamos falando sobre a cooperação, com foco na saúde, que os fitocanabinoides podem trazer a tratamentos quando associados a abordagens convencionais.
CBD e THC associados a alopáticos pode trazer impactos positivos à saúde
“Efeitos sinérgicos”, é assim que o médico Dr. Ricardo Ferreira define esta atuação conjunta de fitocanabinoides como o THC e o CBD com tratamentos convencionais.
Segundo o médico, o efeito sinérgico não apenas complementa a terapêutica, mas, em muitos casos, potencializa os efeitos dos medicamentos tradicionais.
“O aspecto mais relevante dessa cooperação é a possibilidade de redução nas doses de fármacos, como opioides e anti-inflamatórios, o que diminui significativamente o risco de efeitos colaterais e eventos adversos”, explica Dr. Ricardo.
Ou seja, o uso de moléculas da planta, como o CBD e o THC, em conjunto com tratamentos convencionais, com medicamentos alopáticos, pode abrir novos caminhos para alcançar melhores resultados terapêuticos. E os fitocanabinoides têm mostrado uma ampla gama de efeitos terapêuticos, incluindo propriedades anti-inflamatórias, analgésicas, anticonvulsivantes e ansiolíticas.
“Os fitocanabinoides exercem suas funções principalmente por meio do sistema endocanabinoide, que regula processos fisiológicos importantes, incluindo a modulação da dor, controle da inflamação, relaxamento muscular, sono, fome e neuroproteção. Além disso, eles interagem com outros receptores, como TRPV1 e GPR55, ampliando suas funções na regulação da inflamação e da percepção da dor. Isso abre um espectro promissor para seu uso em diversas patologias, especialmente aquelas associadas à dor crônica e distúrbios neurológicos”, completa Dr. Ricardo.
A possível ação cooperativa entre fitocanabinoides e tratamentos tradicionais da medicina já é observada por profissionais da saúde
Os possíveis benefícios da ação cooperativa entre fitocanabinoides e tratamentos tradicionais da medicina já são observados por profissionais de saúde habilitados a prescrever Cannabis medicinal no Brasil – médicos e dentistas.
Dermatologia
Na área da dermatologia, a médica Dra. Viviane CCampos destaca o uso nos tratamentos para a psoríase, por exemplo, onde o CBD também pode promover o equilíbrio:
“No caso da psoríase o CBD funciona como homeostase, isso é fazer com que a célula funciona como ela deveria. E atua também como processo anti-inflamatório, sabemos que a psoríase ela tem um componente genético e um componente emocional, que geralmente é um gatilho. Uma célula normal que sairia da camada basal da epiderme para chegar na córnea, em uma pessoa normal, demora de 21 a 28 dias. Já na psoríase, por causa desse mecanismo todo atrapalhado, ele demora em torno de 7 e 8 dias. O CBD vai ajudar a diminuir o processo inflamatório e ajudar a restabelecer a velocidade de maturação dessa célula que está totalmente perdida”.
Saúde mental
Já no campo da saúde mental, o médico psiquiatra Dr. Alexandre Peixoto entende que o uso de produtos à base de Cannabis ajudam a aliviar sintomas de ansiedade e depressão.
“Na minha prática clínica, tenho observado a ação cooperativa dos fitocanabinoides em diversos tratamentos convencionais. A Cannabis medicinal, especialmente quando utilizada em sua forma integral, contém uma variedade de fitocanabinoides, terpenos e flavonoides que atuam sinergicamente, potencializando seus efeitos terapêuticos”.
Geriatria
Neste sentido, a médica geriatra Dra. Camila Sampaio Santos observa resultados relevantes na combinação de tratamentos convencionais com a terapia canabinoide em pacientes com diabetes e hipertensão:
“Observo uma redução dos níveis glicêmicos e da pressão arterial, sendo necessário ajustar (reduzir) a dose dos hipoglicemiantes e anti-hipertensivos. Destaco o caso de uma paciente diabética, ela iniciou tratamento com óleo de Cannabis balanceado (rico em THC e CBD) para tratamento de dor crônica (fibromialgia). Aos poucos a glicemia foi reduzindo e a medicação foi sendo ajustada, até a paciente conseguir suspender o medicamento para diabetes”.
Dor crônica
Ademais, um dos exemplos mais explorados desta possível ação cooperativa é o manejo da dor crônica. Segundo Dr. Ricardo, a união positiva é observada particularmente em pacientes com dor neuropática, caracterizada por sintomas como choques elétricos e queimação.
“Estudos indicam que a combinação de THC e CBD com opioides, como o Tramadol, resulta em um efeito analgésico potencializado. Isso permite a redução da dose de opioides, minimizando o risco de efeitos colaterais, como constipação, náuseas, tontura e sedação. Evidências sugerem que essa combinação pode reduzir em até 50% a necessidade de opioides, além de diminuir o tempo de uso, o que reduz a probabilidade de desenvolvimento de dependência“.
Além disso, já existem estudos que sugerem que essa combinação pode reduzir a dosagem necessária de certos medicamentos, diminuindo assim os efeitos colaterais e aumentando a adesão ao tratamento, como em casos de tratamentos oncológicos, por exemplo.
A importância da qualidade de vida em tratamentos oncológicos
“Os ficanabinoides, como CBD e THC, trazem uma grande importância para a qualidade de vida das pessoas que estão em tratamento oncológico”
Conforme o médico Dr. Rodrigo Eboli da Costa, a terapia canabinoide pode trazer força e qualidade de vida na batalha contra o câncer.
“Não dá para negar que o paciente com a dor melhorada, com a náusea melhor controlada e a ansiedade reduzida, vai ser um paciente que vai aguentar ser submetido a uma quimioterapia que por si só já traz efeitos colaterais. E aí ele tem uma melhor qualidade de vida, tolera mais a quimioterapia e essa quimioterapia vai ter mais sucesso no tratamento dele, então você impacta indiretamente no controle do Câncer, porque você melhora a adesão do paciente a esse tratamento agressivo”, destaca.
A constante expansão do uso clínico dos fitocanabinoides
No entanto, o uso clínico dos fitocanabinoides ainda está em expansão, com estudos contínuos para melhor entender seus efeitos e definir diretrizes de uso. Para o médico Dr. Felipe Neris é imprescindível entender como esta união pode impactar a vida das pessoas e a própria medicina.
“É importante considerar a Cannabis como um auxílio terapêutico, uma nova ferramenta, que pode vir em sinergia no tratamento. E isso consegue cada vez mais consolidar o uso de fitocanabinoides na Medicina. E a partir do momento que a gente começa a entender a sinergia entre Cannabis e alopáticos a gente consegue introduzir, de fato, na medicina tradicional, na medicina séria e baseada em evidências, o uso de uma medicação que só saiu da Medicina nos últimos 100 anos. Pois a Cannabis nos anos 30 era o terceiro componente mais presente na lista dos medicamentos prescritos nos Estados Unidos”.
A cooperação entre essas abordagens pode oferecer terapias mais personalizadas e eficazes. Porém, sempre com o devido acompanhamento profissional para garantir a segurança dos pacientes.
Além disso, Dr. Peixoto observa que esta é uma área promissora e em constante evolução. Com o aumento das pesquisas e a crescente aceitação legal dos fitocanabinoides, espera-se que sua integração aos tratamentos tradicionais da medicina se expanda.
“A sinergia entre os diferentes componentes da Cannabis medicinal, incluindo CBD, THC, CBG, THCv e CBN, oferece uma abordagem terapêutica mais holística e eficaz, especialmente em patologias complexas como TEA, TDAH, transtornos de ansiedade e transtorno de personalidade Borderline, Síndrome de Tourette, transtorno de humor”.
A tendência na medicina e os atuais estudos científicos
Neste sentido, a sinergia entre os fitocanabinoides e os alopáticos poderia otimizar a resposta terapêutica, proporcionando alívio mais rápido e eficaz dos sintomas.
“Um exemplo clínico que ilustra bem a cooperação entre fitocanabinoides e tratamentos convencionais é o manejo da fibromialgia, uma condição caracterizada por dor generalizada, fadiga e distúrbios do sono, cuja fisiopatologia é complexa e ainda não completamente elucidada. A fibromialgia é frequentemente de difícil manejo, com tratamentos convencionais, como antidepressivos, analgésicos e relaxantes musculares, oferecendo alívio limitado. Um estudo realizado por Habib e Artul (2018) demonstrou que pacientes com fibromialgia tratados com produtos à base de Cannabis contendo THC e CBD relataram uma melhora significativa na dor e qualidade de vida. Esse efeito pode ser atribuído à potencialização dos efeitos analgésicos, o que permitiu, em alguns casos, a redução ou até a suspensão de outros medicamentos”, informa Dr. Ricardo.
Ao explorar essa cooperação entre alopáticos e Cannabis, a medicina avança e conta com o potencial de melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes
“Entendo que colocar a Cannabis junto com alopáticos faz com que ela seja vista de uma maneira muito séria e criteriosa”, pontua Dr. Felipe.
Também neste sentido, Dr. Alexandre pontua que é fundamental continuar a pesquisa e a prática clínica para entender melhor esses mecanismos. O objetivo para o profissional é otimizar os tratamentos para cada paciente.
“Para além da psiquiatria e neurologia é sabido que temos receptores CB1 e CB2 em diversos tecidos corporais, de forma que a Cannabis medicinal pode ser usado como agonista na diabetes, dor crônica, náusea induzida por quimioterapia, cardiologia, reumatologia”.
O papel do Sistema Endocanabinoide para nossa saúde
Portanto, a resposta para esta cooperação que os fitocanabinoides podem estar realizando em tratamentos convencionais encontra-se na atuação do nosso Sistema Endocanabinoide, SEC. Esse sistema está envolvido na regulação de diversas funções fisiológicas e processos biológicos que são essenciais para a nossa saúde.
O SEC é fundamental para manter a homeostase no corpo, ou seja, o equilíbrio interno necessário para que o organismo funcione corretamente. Ele é composto principalmente por endocanabinoides (compostos produzidos pelo próprio corpo), receptores canabinoides (como CB1 e CB2) e enzimas que sintetizam e degradam esses compostos.
Principais Papéis do Sistema Endocanabinoide na Saúde
- Regulação do Humor e Ansiedade: O SEC influencia a liberação de neurotransmissores como serotonina e dopamina, que estão diretamente envolvidos no controle do humor, ansiedade e bem-estar emocional. Disfunções no SEC podem estar associadas a condições como depressão, burnout, ansiedade e transtornos do humor.
- Controle da Dor: O SEC desempenha um papel crucial no sistema de modulação da dor, ajudando a reduzir a percepção da dor e influenciando as vias neuronais associadas. Isso o torna um alvo de interesse no tratamento de condições dolorosas, como dores crônicas e neuropáticas.
- Resposta Inflamatória e Imune: Os receptores do SEC, especialmente o CB2, são abundantes no sistema imunológico e ajudam a regular a resposta inflamatória. Isso é essencial para evitar inflamações excessivas, que podem levar a doenças autoimunes ou crônicas.
- Regulação do Apetite e Metabolismo: O SEC influencia o apetite e o metabolismo energético, ajudando a regular o consumo de alimentos, o armazenamento de energia e o gasto calórico. É um componente importante na compreensão da obesidade e distúrbios metabólicos.
- Função Cognitiva e Memória: Os receptores CB1, presentes principalmente no sistema nervoso central, desempenham um papel na regulação da memória, aprendizado e funções cognitivas. Alterações no SEC podem estar associadas a transtornos como Alzheimer e outros déficits cognitivos.
- Saúde Cardiovascular: O SEC ajuda a regular a pressão arterial e a resposta cardiovascular ao estresse, contribuindo para a manutenção da saúde do coração e vasos sanguíneos.
- Regulação do Sono: O SEC é crucial para o ciclo sono-vigília, influenciando a qualidade e a quantidade do sono. Distúrbios no SEC podem estar associados a problemas de insônia ou distúrbios do sono.
Essas funções demonstram como o SEC é essencial para uma ampla gama de processos corporais, reforçando sua importância na manutenção da saúde e bem-estar.
𝗜𝗺𝗽𝗼𝗿𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲: O acesso legal à Cannabis medicinal no Brasil é permito mediante indicação e prescrição de um profissional de saúde habilitado. Caso você tenha interesse em iniciar um tratamento com canabinoides, consulte um profissional com experiência nessa abordagem terapêutica.