Até hoje a distrofia muscular representa um enigma para a ciência e um desafio para os pacientes e suas famílias. Caracterizada pela perda de massa muscular progressiva e comprometimento das funções motoras, essa condição impacta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos, limitando sua mobilidade e independência.
Cientistas de diversas áreas se unem para tentar compreender os mecanismos que desencadeiam a doença e também explorar as possibilidades para frear a sua progressão. Uma nova fronteira a ser explorada envolve o sistema endocanabinoide e sua influência na reparação e crescimento muscular.
Dois cientistas italianos, Viola Brugnatelli e Fabio Turco, se aprofundaram no potencial dos componentes da Cannabis para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar de pessoas com distrofia muscular. Eles realizaram uma revisão da literatura científica e os resultados são parte de um livro intitulado Principles of Clinical Cannabinology (Princípios de Canabinologia Clínica, na tradução livre).
O sistema endocanabinoide e a distrofia muscular
Para entender o potencial da Cannabis para pacientes com distrofia muscular, é essencial entender também o sistema endocanabinoide. Essa complexa rede de endocanabinoides, receptores e enzimas responsáveis pela síntese e degradação dessas moléculas é responsável por regular diversos processos fisiológicos no organismo.
No caso da distrofia muscular, o principal alvo seria o receptor CB1. Embora predomine no sistema nervoso central, também está presente no tecido muscular, onde ajudam a regular o fornecimento de energia influenciando no metabolismo. Após um exercício, sua função está relacionada à recuperação dos músculos.
Portanto, a estratégia investigada pelos pesquisadores italianos envolveria usar os compostos da Cannabis para modular o sistema endocanabinoide e manejar alguns sintomas da distrofia muscular.
A distrofia muscular
A distrofia muscular representa um conjunto de diferentes doenças hereditárias, mas que possuem algumas características em comum. Com a ausência ou a má formação de algumas proteínas fundamentais para o pleno funcionamento muscular, a pessoa vai perdendo os movimentos progressivamente. Entre os sintomas desafiadores, podemos destacar:
- limitação da mobilidade;
- espasmos musculares;
- dores crônicas.
Dezenas de condições estão dentro da categoria das distrofias musculares, mas existem 9 mais comuns:
- de Duchenne: acontece quando uma alteração genética leva a falta de uma proteína que mantém a integridade dos músculos;
- de Becker: semelhante à de Duchenne, porém mais branda;
- de Emery-Dreifuss: causa contraturas nos tendões e músculos do coração;
- congênita: quando ela está presente desde o nascimento ou primeira infância, causando também deformidades na coluna;
- distal: afeta os músculos das mãos, antebraços, pés e panturrilhas;
- de cinturas: afeta os músculos ao redor dos quadris;
- facio-escápulo-humeral: afeta principalmente a face, ombros e braços;
- miotônica: causa contrações musculares prolongadas;
- óculo-faríngea: afeta os músculos dos olhos e garganta.
O uso de Cannabis para tratar a distrofia muscular
Considerando os sintomas mais comuns dessa condição, é possível fazer uma relação com outras condições tratáveis com Cannabis e que têm efeitos similares. Para dores crônicas, a planta é uma ferramenta poderosíssima que pode substituir alguns remédios convencionais ou ajudar a diminuir a dose, reduzindo assim os efeitos colaterais.
Em condições que causam espasmos musculares, como a esclerose múltipla, a Cannabis também é uma opção reconhecidamente eficaz e segura.
No entanto, os pesquisadores italianos se apoiaram em estudos com Cannabis realizados em células e em pacientes diagnosticados com algum tipo de distrofia muscular. Essas análises encontraram bons resultados no uso de diversos canabinoides, com maior destaque para o canabidiol (CBD), canabidivarina (CBDV) e o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC). A eficácia dos canabinoides foi percebida na redução da dor e na redução dos espasmos musculares, diminuindo a necessidade de analgésicos convencionais.
Além disso, o CBD e o CBDV foram eficazes em reduzir a inflamação, ajudar na regeneração celular e, assim, frear a progressão da doença. Eles promovem a formação de miotubos nas células musculares, essenciais para a reparação. Por outro lado, produtos com diferentes proporções de THC e CBD também apresentaram bons resultados em testes clínicos, aliviando as dores e alguns sintomas gastrointestinais.
Embora os resultados sejam animadores, a ciência sobre o uso de produtos com Cannabis para tratar a distrofia muscular precisa avançar ainda mais. Desse modo será possível o desenvolvimento de terapias mais direcionadas e eficientes.
Iniciando um tratamento com Cannabis
Aqui no Brasil, o uso medicinal da Cannabis é possível desde que tenha a prescrição de um médico ou dentista. Esse é o tipo de profissional mais indicado para analisar o seu caso e recomendar o produto e dosagem mais adequados para você.
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