Há um tempo, li um livro de um autor, chamado Simon Sinek, a obra “Comece pelo Porquê”. Ele fala do “círculo dourado”, onde temos o “o que”, o “como” e, no centro, “o porquê”. E, em linhas gerais, o autor defende que para tudo que fazemos na vida, a primeira pergunta deveria ser essa: por que estou fazendo? E é esse o motivo dessa minha primeira coluna ser sobre o meu porquê, o motivo pelo qual iniciei a prescrição de derivados canabinoides.
Minha história com a prescrição de canabinoides está intimamente relacionada aos meus pacientes com Doença de Parkinson. Eu me formei neurologista em 2013 e, depois, fiz a especialização em Distúrbios do Movimento. Portanto, sempre tive muitos pacientes com Parkinson no meu dia a dia do consultório.
A demanda pelos fitocanabinoides, veio deles. Em 2018, alguns começaram a me perguntar sobre a terapia, a se interessar, alguns começaram a usar (por conta própria, produtos artesanais) e me incomodou demais não entender o que era aquilo, como funcionava, quais as interações e os benefícios.
Com isso, comecei a estudar, pesquisar, conversar com colegas que já prescreviam e um mundo novo se abriu.
Um mundo de uma beleza e complexidade que me deixou absolutamente encantada.
Meus porquês foram inicialmente a demanda dos pacientes, que eu consegui basear na ciência – que me leva ao segundo porquê de prescrever derivados canabinoides: a interação e resultado na modulação do nosso sistema endocanabinoide.
De 2018 para cá, são mais de 450 pacientes em seguimento
Passei a ver as melhoras, os desafios, os resultados no uso dessas moléculas tão especiais. Comecei a dar aula para outros colegas, no Brasil todo, com o objetivo de desmistificar a terapia, de levar as informações com base na ciência, nos diversos estudos que temos hoje em dia.
É importante lembrar que canabinoides não são a resolução para tudo, para todos, a molécula mágica, mas estão bem longe de ser a “última opção”. Pelo contrário, cada vez mais sabemos que podemos alcançar resultados melhores, em tratamento adjuvante, com modulação de vários sintomas, pelo efeito multimodal, redução de medicamentos com maior potencial de efeitos colaterais.
Prescrever canabinoides não mudou minha prática – mudou minha vida
Passei a conseguir enxergar as doenças e suas complexidades de uma maneira completamente diferente.
Por isso, finalizo com uma reflexão, principalmente para os colegas médicos: você está alinhado com o seu porquê? Com o que te move? A medicina que você faz hoje é a que você queria fazer? Responder essas perguntas, pode nos fazer olhar na direção certa e nos reconectarmos com a nossa essência enquanto médicos, independente do que você escolha prescrever.