Dando continuidade à série de reportagens que visa a responder perguntas frequentes que chegam aos consultórios de profissionais prescritores de Cannabis, convidamos o Dr. Felipe Neris Nora, CRM 25097, para, primeiramente, explicar: por que a prescrição de canabinoides é diferente para cada pessoa?
Além disso, Dr. Felipe esclarece:
- Por que não existe uma dose fixa de canabinodes para todas as pessoas?
- Por que pessoas com as mesmas patologias podem receber prescrições diferentes de fitocanabinoides?
- O que é a nanotecnologia nos produtos à base de Cannabis?
- E o sistema endocanabinoide?
“Primeiramente, cada um tem uma composição de sistema endocanabinoide. Digamos que você pode ter menos anandamida e mais 2-AG, por exemplo, se você tem estresse, uma doença crônica. E se for agudo, você pode ter menos anandamida e ainda não ter mais 2-AG, para fazer esta resposta compensatória. Além disso, tem também outro mecanismo do sistema endocanabinoide, que podem ser as enzimas que degradam os endocanabinoides. Tem gente que tem menos enzimas e as pessoas acabam tendo mais endocanabinoides”, destaca o médico.
Veja a entrevista completa com Dr. Felipe, sobre por que a prescrição de canabinoides é diferente para cada pessoa
O papel do sistema endocanabinoide no equilíbrio do corpo
Portanto, há uma individualidade no tratamento com fitocanabinoides. E quem é responsável por esta especificidade é o sistema endocanabinoide, que tem sido descrito como um dos sistemas bioquímicos mais complexos e relevantes do organismo humano.
De fato, ele atua em diferentes tecidos e órgãos, modulando as respostas imunológicas, a comunicação neural, a sinalização celular, entre muitos outros processos biológicos.
Por outro lado, ele desempenha papel importante no desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC), na plasticidade sináptica e na resposta a danos endógenos e ambientais.
O Sistema Endocanabinoide compreende uma vasta rede de sinais químicos e receptores celulares, que estão em todo o nosso cérebro e corpo.
“O sistema endocanabinoide é composto por receptores, sendo os mais citados o CB1 e CB2, os endocanabinoides ou ligantes endógenos, e as enzimas de degradação dos endocanabinoides, que formam o terceiro componente do nosso SEC. Poderíamos ter menos pessoas dependentes de Zolpidem e Rivotril e mais equilibradas, que é isso que o sistema endocanabinoide faz: traz equilíbrio ao corpo”, sinaliza Dr. Felipe.
Como saber a dose ideal de fitocanabinoides?
Em relação à dose prescrita, Dr. Felipe cita a prática “start slow e go slow”, ou seja, começar com uma dose baixa e ir progressivamente aumentando.
Segundo o médico, embora não exista receita de bolo, não é necessário a realização de um teste genético para compreender o desequilíbrio do sistema endocanabinoide. E nem para saber a quantidade exata de fitocanabinoides que devem ser consumidos por um paciente.
Logo, é o próprio paciente quem vai responder, de acordo com seu sistema endocanabinoide. Portanto, o acompanhamento médico é imprescindível no tratamento.
“Peço de dois a três meses para conhecer o paciente e as respostas”
“Faço um sistema: quando chega o óleo, o paciente me avisa e já respondo dúvidas. Então, começo o start slow e go slow por 7 dias e chego em uma dose de 25mg por dia. Depois disso, mantenho a dose por sete dias. Tenho o primeiro feedback dia 14, em relação ao início do uso do óleo e só então, faço o ajuste se necessário. Converso com ele no dia 21 do início do uso e faço um novo ajuste, se necessário. E no retorno, gratuito e em 30 dias, também faço outro ajuste. Pois aí, já sei como será a resposta. É a maneira que encontrei de achar a dose ideal de cada paciente. O Canabidiol tem esta propriedade de surpreender, nesta segunda ou terceira vez, o paciente já está se sentindo melhor”, detalha, sobre seus atendimentos.
Novos canabinoides e o impacto na saúde
Recentemente, o Dr. Felipe escreveu em sua coluna do portal Cannabis & Saúde sobre a importância da educação médica continuada e o CICMED. Em vista de sua participação na II Conferência Internacional de Cannabis Medicinal, o CICMED, o médico está atento ao desenvolvimento de pesquisas com novos canabinoides, sua aplicabilidade e impacto na saúde.
“Canabinoides como o CBG e o CBN estão sendo muito estudados. O CBG está sendo usado para a enxaqueca e o CBN está sendo usado como substância interessante para a indução do sono e você pode usar eles em associação”, destaca.
Segundo o profissional, estes canabinoides são substâncias seguras, que poderiam substituir alopáticos, para concentração e foco, como o Venvanse, por exemplo.
Nanotecnologia no desenvolvimento de produtos à base de Cannabis
Por fim, Dr. Felipe também observa com diligência o uso da nanotecnologia no desenvolvimento de produtos à base de Cannabis e o impacto positivo que pode causar em tratamentos com canabinoides.
“Podemos adicionar a nanotecnologia, a patir da qual usaríamos, teoricamente, doses quatro e cinco vezes menor. Você pega o início dos estudos, CBD isolado, teoricamente, você usa uma dose quatro vezes menor com o CBD full spectrum e, também teoricamente, você usa uma dose menor com o CBD com a nanotecnologia. Então, a gente caminha para uma direção, em que cada vez mais a gente consegue usar uma dose menor de fitocanabinoides, uma tecnologia mais avançada e com menos efeitos colaterais para os pacientes. E o custo benefício fica muito melhor. Mas claro que ainda precisamos de estudos. Estou falando de um ponto de vista muito otimista”, finaliza.
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A Cannabis pode viciar?
Esta é mais uma série de reportagens do portal Cannabis & Saúde, visando a esclarecer dúvidas habituais, que chegam aos consultórios de médicos e médicas que prescrevem canabinoides para distintas patologias. E para responder se a Cannabis pode viciar, convidamos recentemente o médico Dr. Ricardo Ferreira (CRM: 52706973), para falar sobre uma das dúvidas que, segundo ele, é muito frequente em seu consultório.
“Pode viciar, mas a chance é muito baixa. Se comparada ao álcool, à nicotina e a outros medicamentos, como benzodiazepínicos, os riscos são consideravelmente menores”, explicou Dr. Ferreira aqui.
Entende-se que esta pode ser uma das provas do quanto a educação e a informação são imprescindíveis, quando falamos na terapia canabinoide. Até porque muitas pessoas ainda não sabem que o uso da Cannabis para tratar distintas patologias, realizado com o acompanhamento médico correto, pode ser muitas vezes uma alternativa mais segura do que, por exemplo, o uso de benzodiazepínicos (diazepam e midazolam), álcool e nicotina.
Live: “Tudo o que você precisa saber sobre produtos de Cannabis”
Você sabe que a qualidade de um produto à base de Cannabis pode impactar seu tratamento? Entende como é possível identificar o melhor custo-benefício? Conhece os certificados necessários de um óleo, por exemplo? Se não sabe, está tudo bem! Nós já percebemos que ainda há muitas dúvidas na hora de escolher o produto ideal para o tratamento com Cannabis. Então, para responder estas perguntas, vamos realizar uma live especial: “Tudo o que você precisa saber sobre produtos de Cannabis”.
Nesta quarta-feira, a especialista Ana Gabriela Baptista vai compartilhar seu conhecimento como pesquisadora, consultora e perita em canabinoides, na live do próximo dia 16 de agosto, às 19h. Inscreva-se aqui.