Medicamentos poderiam custar até um quarto do preço, se a indústria farmacêutica importasse os insumos e formulasse os produtos aqui
“Daria para vender o produto a um quarto do valor, sem muita dificuldade com boa margem de lucro. Mas ninguém está prestando muita atenção”, afirma Lorenzo Rolim, engenheiro agrônomo e presidente da Associação Latino Americana de Cânhamo Industrial.
Na prática, em vez de pagar quase R$ 2500 pelo remédio de canabidiol à venda nas farmácias, seria possível pagar em torno de R$ 500. Mesmo com o dólar nas alturas.
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Não há mágica. O que as farmacêuticas poderiam fazer é trabalhar na elaboração do produto – em vez de comprá-los quase pronto. “No mercado internacional, você consegue pagar US$ 1 na grama do CBD. Com os impostos, ficaria US$ 3 ou US$ 4 por grama”, conta Rolim.
Por que escolher o produto mais caro? “Porque é chato atender às normas da Anvisa”, diz o engenheiro agrônomo. “É mais fácil pedir para o distribuidor enviar o produto pronto e só embalar. E aí a grama sobe para US$ 22. Falta abaixar a cabeça e trabalhar na formulação do produto aqui. Levaria de 6 a 8 meses para chegar às farmácias, mas precisamos fazer essa rota”, conclui.
A papelada exigida pela Anvisa vale para qualquer remédio fabricado aqui. Isso significa que seria necessário obter certificados de segurança e qualidade, realizar testes em laboratórios independentes, e produzir documentos sobre a metodologia desses testes.
Faltam profissionais
Não é só um problema da indústria. O mercado de Cannabis no Brasil ainda é recente – a Anvisa só publicou a regulamentação no fim do ano passado. Enquanto isso, no Canadá, a Cannabis medicinal tem quase duas décadas de história e legalidade.
Justamente por isso, as universidades ainda não oferecem cursos voltadas para o mercado de Cannabis – em nenhuma das áreas. Há algumas poucas exceções, como a Universidade Federal da Paraíba, que tem uma disciplina sobre os benefícios e a história da Cannabis medicinal, sistema endocanabinoide e regulamentação e voltada para os profissionais da saúde
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Rolim só mergulhou no mundo da Cannabis na Califórnia, 6 anos atrás. “Nunca tive aula sobre Cannabis na minha graduação”, conta. E isso reflete no desenvolvimento do mercado nacional. “Quando a gente a hora de montar a equipe, você não encontra profissionais com experiência. Precisa explicar o básico, como THC e CBD. E é um mercado com ótima oportunidade econômica.”
Só para se ter ideia, nos Estados Unidos, a preocupação é ver como manter os cursos de Cannabis em meio à pandemia, por conta da crescente demanda por profissionais. Recentemente, quatro universidades fecharam acordos com uma escola especializada em formação canábica para disponibilizar aulas virtuais.
Outra coisa não há dúvida: se a legislação permitisse o cultivo da planta em terras nacionais, os custos cairiam ainda mais. “O Brasil é um dos países mais atrasados da América Latina. Tentei diversas vezes trazer o Ministério da Agricultura para o debate sobre a indústria da Cannabis e eles sempre disseram que esse tema cabia à Anvisa”, relata Rolim.
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