Negacionismo é a atitude de negar ou não aceitar um fato comprovado, seja em contextos históricos, científicos ou acadêmicos. Muitas vezes, apesar da crescente base de evidências científicas que atestam os benefícios da Cannabis medicinal, ainda há pessoas e instituições que entendem, e até afirmam erroneamente, que não existem comprovações científicas sobre o possível potencial terapêutico dos fitocanabinoides – moléculas da Cannabis como o CBD e o THC.
Conversamos com a médica psiquiatra, Dra. Ana Paula Guljor, presidente da Abrasme – Associação Brasileira de Saúde Mental, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS) da FIOCRUZ, sobre a resistência em relação ao uso medicinal da Cannabis na área da saúde mental.
Para a profissional, a resistência ao reconhecimento do potencial terapêutico da Cannabis, por parte de indivíduos e instituições, levanta questionamentos profundos sobre as motivações subjacentes a essa postura. E a complexidade do tema exige uma análise criteriosa, que considere tanto os aspectos científicos quanto os fatores políticos e ideológicos que influenciam este diálogo no Brasil.
Nota técnica da Fiocruz aponta para as comprovações científicas e não deve ser esquecida no debate
A médica psiquiatra lança luz sobre essa problemática, destacando a existência de um robusto conjunto de pesquisas internacionais que comprovam diversos usos da Cannabis, impulsionadas pela descoberta do sistema endocanabinoide. “A nota técnica da FIOCRUZ traz evidências comprovadas sobre os diversos usos e sinaliza para algumas que ainda estão com fortes indícios, mas que possuem a necessidade de ampliar as pesquisas desse tipo populacional e mais amplas. Porque tem-se uma uma fala de que não existem pesquisas, mas existem e existem muitas pesquisas internacionais realizadas há décadas. E a cada momento elas vão ampliando o seu escopo de evidências comprovadas”, afirma a Dra. Guljor.
A nota técnica elaborada pela FIOCRUZ, como mencionado pela Dra. Guljor, apresenta evidências que desafiam a postura restritiva de entidades como a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM). Essa postura, segundo a especialista, beira o negacionismo científico, especialmente considerando o avanço do conhecimento sobre o sistema endocanabinoide e suas implicações para diversas áreas da medicina.
O Sistema endocanabinoide: Um marco no entendimento da terapia canabinoide
A descoberta do sistema endocanabinoide revolucionou o entendimento da ação da Cannabis no organismo humano, abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento de terapias inovadoras.
Segundo a médica, a presença de receptores endocanabinoides em diversos sistemas do corpo, como o digestivo, demonstra o potencial da Cannabis para modular uma ampla gama de processos fisiológicos, indo além do tratamento de condições específicas como epilepsia.
“A evolução das pesquisas científicas, com métodos cada vez mais aprimorados, promete ampliar ainda mais o escopo das aplicações terapêuticas da Cannabis”, pontua.
Uma discussão influenciada por perspectivas políticas?
Igualmente, Dra. Guljor ressalta que a resistência da ABP ao uso medicinal da Cannabis reflete uma disputa histórica com o campo antimanicomial, antiproibicionista e anti-racista. Essa disputa sugere que a discussão clínica não é neutra, mas influenciada por perspectivas políticas. Embora o debate político seja imprescindível, a defesa de uma ideologia não pode justificar a negação de evidências científicas sólidas. Principalmente quando estamos falando de um tratamento que pode impactar a qualidade de vida de muitas pessoas.
E, assim, o questionamento levantado pela Dra. Guljor sobre a postura da ABP e do CFM, entidades que deveriam defender a ciência e os interesses da classe médica, é pertinente e exige uma reflexão profunda.
“Levanta-se o questionamento sobre porquê que uma associação que busca a defesa da ciência se coloca de uma forma tão contundente contra a Cannabis? Ou quando vem a defender é restritiva?”, finaliza a especialista.
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