Uma pesquisa inédita da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) trouxe novas e importantes descobertas sobre os efeitos do canabidiol (CBD) no cérebro de camundongos.
O estudo, liderado pelo biólogo João Paulo Machado, é o primeiro a investigar detalhadamente as alterações moleculares no cérebro causadas pelo CBD.
Publicado na revista Acta Neuropsychiatrica, da Universidade de Cambridge, o trabalho identificou modificações significativas na expressão de aproximadamente 3 mil genes em neurônios do hipocampo após a administração da substância.
A pesquisa teve início em 2019, quando João Paulo Machado começou seus estudos de mestrado e, posteriormente, de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular e Morfofuncional. A motivação se deu inspirada pelo reconhecimento científico da eficácia do CBD na redução dos sintomas e na ocorrência de crises convulsivas em alguns tipos de epilepsia.
Para isso, foram utilizados dois grupos de camundongos. O primeiro grupo recebeu uma única dose de CBD. Já o segundo recebeu a mesma dose, porém, por sete dias consecutivos.
Em seguida, após concluir a análise, os pesquisadores observaram uma correlação entre a duração da administração de canabidiol e o número de genes afetados.
Nos camundongos que receberam CBD por um único dia, cerca de 300 genes mostraram alterações na expressão. Em contraste, no grupo que recebeu a substância por sete dias, foram identificadas modificações em 2.924 genes.
“Porém, isso não implica que doses menores não tenham efeitos comportamentais ou redução de sintomas. Nosso foco foi nos efeitos moleculares.” , alerta o pesquisador.
Pesquisa inédita da Unicamp e a ligação entre o CDB e a plasticidade neuronal
A pesquisa também sugere uma possível ligação entre o CBD e a economia de energia das células.
“Entre as funções mais afetadas pelos genes estavam aquelas relacionadas à produção de energia, além de alterações em genes envolvidos na plasticidade neuronal, que é o processo de formação de conexões entre neurônios”, destaca o estudo.
O professor André Vieira, coordenador do Lenc e orientador de João Paulo Machado, destacou para o Jornal da Instituição a importância do estudo: “Este trabalho é um marco para o nosso grupo de pesquisa e também para a compreensão que se tem sobre essa molécula na academia”, reflete.
Próximos Passos
Agora, o foco dos pesquisadores é analisar a parte superior do hipocampo para entender se os resultados observados se replicam em diferentes áreas do cérebro. Além disso, investigar se doses mais baixas de CBD também produzem efeitos semelhantes. Por fim, entender ainda por que há uma economia de energia nas células e quais podem ser seus benefícios.
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