Um crescimento rápido e contínuo. É assim que podemos resumir os dados apresentados pela Euromonitor sobre o mercado da Cannabis medicinal no Brasil.
Realizada por Rodrigo de Mattos, a pesquisa também indica que o perfil de quem compra produtos à base de Cannabis no Brasil vem se transformando à medida em que os tratamentos para a saúde mental com a planta conquistam espaços.
Ou seja, podemos interpretar que os tratamentos psiquiátricos para estresse, ansiedade e depressão por exemplo, tem alavancado o crescimento no Brasil do mercado da Cannabis.
Mas o grande impulso acontecerá mesmo através de um possível avanço legislativo no país.
Além disso, a pesquisa também situa a Cannabis como ponto central na tendência da busca de uma vida mais saudável com menos remédios.
“A tendência é que no Brasil o uso medicinal siga em alta”
Conversamos sobre a pesquisa e a perspectiva do mercado com exclusividade com Mattos, que é Analista de Pesquisa Sênior de bebidas, tabaco e Cannabis da Euromonitor, no escritório em São Paulo.
Chama muita atenção na pesquisa a forte expectativa de crescimento nos próximos anos da Cannabis medicinal no Brasil. Não restam dúvidas sobre esta tendência, certo?
“Exatamente, a gente não vê freio no crescimento da categoria de canais medicinal no Brasil. Inclusive, eu diria que tem fatos que podem acontecer para alavancar ainda mais o mercado. O primeiro deles seria o PL 399 ser aprovado. Então se você conseguir ter essa facilitação da produção local de cânhamo para Cannabis medicinal. E o entendimento que nós temos é que isso deve ajudar a baixar mais ainda o preço da Cannabis medicinal. E eu diria que assim democratizar o acesso para outros medicamentos”.
Mudança do perfil de quem usa produtos à base de Cannabis no Brasil
“Uma coisa que coloquei na apresentação é que muda muito o perfil do consumidor de Cannabis medicinal ao longo dos anos. Então a gente tinha pré-2019 quando foi o nosso ano inicial de pesquisa. Era um consumidor de Cannabis medicinal no Brasil que era muito focado na na criança, nos uso para controle de epilepsia de doenças neurológicas. E à medida que a legislação e a Anvisa foram se adaptando e permitindo a entrada de novos players e novos medicamentos mudou-se muito esse perfil.
Então agora a gente tem um perfil de cada vez mais uso da Cannabis medicinal associado ao tratamento de doenças mentais, como depressão e ansiedade. E tantas outras que podem ser usadas e doenças associadas à idade avançada como Alzheimer e Parkinson. E ainda tem o mercado de doenças neurológicas. Mas eu diria que no momento ele é o mercado mais caro que a gente tem. Por você precisar de concentrações maiores em produtos, ele acaba sendo um preço unitário muito maior”.
Em relação a América Latina, pois assim como no Brasil a região como um todo deve ter um crescimento acelerado. Como se traduziria esse crescimento acelerado? Apenas o uso sempre voltado para exclusivamente medicinal ou também para o uso adulto?
“Eu diria que existe um espaço para ambos. Você tem o mercado medicinal sim crescendo e também se profissionalizando nos outros países, não só no Brasil. Então você tem cada vez mais indústrias farmacêuticas investindo em Cannabis medicinal, como opção de insumo para os seus remédios. Porém também existem alguns países que estão explorando o uso adulto.
Uso adulto anda paralelo ao uso medicinal
“Só que o uso adulto tem alguns fatores interessantes, que não só o uso adulto tem, há uma outra categoria que a gente chama de CBD only. E é só adição de CBD nos produtos. E ambos tem um fator interessante que muitas vezes são produtos consumidos com viés medicinal. A pessoa vai consumir aquele produto quase como uma autoprescrição, porque ele entende os benefícios. Ele sente fazer bem. Então é um mercado que eu diria que anda paralelo ao medicinal”.
Uso adulto x uso medicinal
“É diferente da gente falar do uso adulto para indulgência e daí você veria muito mais opções de alto índice de THC. Então não é exatamente esse mercado que a gente vê se desenvolvendo, inclusive em questão legislativa.
A gente ainda vê que a legislação desses países ela tem restrito a quantidade de THC, entende o THC também como componente medicinal para alguns tratamentos, mas não é o foco da legislação por enquanto. Então o uso adulto indulgente a gente não vê crescendo tão rápido quanto o medicinal.
Neste momento de democratização e de expansão do uso da Cannabis medicinal para essas outras doenças. Então hoje em dia a gente vive numa sociedade que é muito fácil falar que uma quantidade significativa passa por ansiedade. Passa por depressão. E a Cannabis vem como remédio fitoterápico, inclusive natural que oferece uma opção então viável de tratamento para o brasileiro”.
Entre os insights da pesquisa, destaca-se o fato que a Cannabis está “abrindo caminhos”, é uma perspectiva que achei muito interessante. Com atenção para o mercado veterinário, cosméticos e bebidas. Sobre cosméticos aqui no Brasil: qual é a perspectiva para o mercado de cosméticos à base de Cannabis com CBG e CBD por exemplo?
“Sim. A gente tem uma aposta dentro do Euromonitor e eu diria que por enquanto é uma aposta. Mas é que o primeiro mercado fora do medicinal que vai utilizar os produtos ou componentes de CBD vai ser o mercado de produtos de beleza principalmente.
Tanto que já existem alguns remédios aprovados pela Anvisa para uso, como os dermocosméticos com o uso de CBD para tratar casos com ação anti-inflamatória, espinha, eczema, psoríase e por aí vai. Porém a gente já vê que no mercado brasileiro temos um dos países mais pungentes do mercado de beleza. Então já é um dos países que mais cresce e mais investe em inovação, inclusive veste inovação através de fitoterápicos. Então acho que falar não falar da Natura é errado, porque ela é uma grande empresa de fitoterápica de beleza do mundo. E ela consegue adaptar muito bem isso para a realidade brasileira. Além disso, a gente já tem alguns medicamentos no Brasil que são chamados de “Cannabis like” que não tem CBD, não tem nenhum componente, não usa Cannabis, mas eles fazem uma mímica do efeito da Cannabis no organismo. “CBD like” por exemplo. O produto surfa a onda da tendência da Cannabis nos produtos, mas não tem Cannabis”.
Salto para a Cannabis será muito curto
“Então a gente já tem um mercado sendo construído e assim explorando essa oportunidade com a Cannabis no mercado brasileiro, o salto para usar Cannabis vai ser muito curto. A única coisa que impede é a legislação. Para conseguir realmente explorar esses produtos com adição principalmente de CBD. Além disso, quando a gente olha o mercado veterinário a gente já vê que ele existe. E é interessante que estas duas categorias seguem o vácuo do mercado medicinal. Então elas são ou paralelas, ou é uma medicina veterinária então não deixa de ser mercado medicinal também. Mas eles abrem espaço para o consumidor brasileiro ficar mais suscetível a aceitar o uso da Cannabis em outros produtos”.
Cannabis abre novos mercados
“Então ela entra e expande o mercado. Ela dá conhecimento para o consumidor e depois entra no mercado de cosméticos. E por fim eu falei ali o mercado de bebidas, porque em nível brasileiro mas também nível mundial o mercado de bebidas tem se direcionado para ter preferência cada vez bebidas mais saudáveis. Inclusive a gente tem muito na visão holística da saúde do consumidor”.
Cannabis como ponto central na busca de uma vida mais saudável com menos remédios
“O consumidor cada vez menos quer consumir remédios para ser saudável. Ele quer que seu dia a dia e seus hábitos do dia a dia façam ele ser saudável. E o mercado de bebidas já tem explorado isso. Então não é difícil a gente cada vez mais encontrar bebidas com adição de vitaminas, bebidas com adição de colágeno e diversos outros componentes. Eu acho até interessante falar sobre o super coffee. É um produto de café que nunca foi um produto que chamou muita atenção no brasileiro, mas ele trouxe uma inovação muito grande ao adicionar diversos componentes que fazem bem para saúde, ou aceleram seu metabolismo e auxiliam as delegações que estão na moda. E ajudou a bombar uma categoria que não é popular entre os brasileiros”.
CBD nas bebidas: uma perspectiva possível
“Eu imagino que daqui uns anos quando a gente puder colocar CDD nas nossas bebidas isso vai ir de encontro ao que a gente chama das bebidas então de principalmente relaxamento que é uma tendência gigante fora do país e até mesmo dentro do Brasil. A gente já tem alguns expoentes disso. Entre 2020 e 2022 o mercado de chás cresceu bastante, principalmente o mercado de chás de ervas, inclusive camomilas e maracujá. O próprio uso da expansão da Maracugina e expansão da melatonina como remédios para auxiliar no relaxamento e auxiliar na hora de dormir também. E a gente vê o CBD entrando exatamente aí entrando: como opção de trazer saudabilidade a mais para as bebidas do futuro”, finalizou Mattos.
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