Aos 32 anos, Francislaine Assis não suportou as dores no corpo. As pernas mal respondiam e a tradutora de Libras, incapacitada até de caminhar, teve de abandonar o trabalho. Até porque, mesmo se recorresse à ajuda de uma cadeira de rodas, seria impossível desenvolver suas funções na escola: a dor era tanta que afetava também sua cognição – não conseguia sequer raciocinar e manter um diálogo por muito tempo.
Naquele ano, em 2011, após quatro meses intensos de sofrimento, Fran recebeu o diagnóstico de Agorafobia. Mas não era bem esse o problema. Somente em 2015 o médico descobriria a causa das dores: a fibromialgia – uma síndrome ainda sem cura que causa dores em todo o corpo, afeta a memória e o sono.
A partir de então, passou a tomar diariamente todos os medicamentos receitados pelos médicos, na esperança de conseguir melhora efetiva.
“Eram 13 comprimidos por dia, eu ficava dopada”, conta.
Tanto remédio lhe rendia alucinações. Certa vez, a filha chegou na cozinha e pegou a mãe em frente ao fogão, folheando um livro imaginário. Em outra situação, um carro quase a atropelou enquanto atravessava a rua desatenta.
E o pior: as dores permaneciam fortes e constantes, a insônia batia forte, as dificuldades cognitivas pioravam e os sinais da depressão apareciam com frequência.
Só teria alívio em 2018, após vencer os próprios preconceitos e aceitar o tratamento à base de Cannabis medicinal.
“Eu participo de grupos de discussão sobre fibromialgia desde 2011, mas sempre fui muito careta. Cansei de ouvir as pessoas falando ‘fumei maconha e tive um alívio’. Não dava bola, achava o pessoal muito louco”, lembra Fran.
Abriu mão do pré-julgamento após ver a médica americana Ginevra Liptan, diretora do “The Frida Center for Fibromyalgia”, um centro especializado no tratamento da doença, falar sobre a eficácia da Cannabis para pacientes com fibromialgia.
Pegou o caminho do Rio de Janeiro até São Paulo, onde havia marcado uma consulta com a neuro oncologista e médica funcional Paula Dall’Stella. Pouco tempo depois, após receber a autorização da Anvisa, importou os primeiros frascos de óleo de CBD.
A dor, contudo, não passou.
Mas o sono veio com tudo. E isso era importante, afinal, Fran passava dias sem dormir. “Era assustador, chegava a passar três, quatro dias sem dormir. E isso me dava dores de cabeça fortíssimas, não conseguia nem ouvir a voz das pessoas”, diz.
Dormiu até demais – a sonolência pode ser um dos efeitos colaterais de alguns óleos no começo do tratamento. Trocou o importado por outro rico em THC, fabricado por uma associação de pacientes de Cannabis medicinal.
“Fiquei surpresa. A primeira vez que usei eu estava com uma dor muito forte. Vinte minutos depois de usar o óleo, minha dor diminuiu uns 60%”, explica.
Há uma razão: o THC funciona melhor como analgésico do que outros canabinoides, como o CBD.
Aos 43 anos, Fran descartou todos os outros medicamentos. Além do óleo, usa pomadas produzidas com plantas de predominância de THC, faz inalação da erva e uso de supositórios, quando a dor bate mais forte que o normal.
Ainda que os remédios tenham surtido efeitos muito melhores do que os convencionais, Fran ainda precisa recorrer à cadeira de rodas – de maneira geral qualquer esforço costuma causar ainda mais dores.
Não só pela fibromialgia, a vida ainda lhe trouxe uma série de outras complicações. Ao longo dos anos, teve artrite após pegar chikungunya e recebeu os diagnósticos de uma série de outras doenças, como Síndrome do Túnel do Carpo, endometriose, entre outras.
A Cannabis trouxe outros efeitos positivos. Fran voltou a ter vontade de comer.
“É um benefício, porque tenho anorexia patológica. É difícil comer. Às vezes fico com enjoo o dia todo, mas quando uso o óleo consigo me alimentar”, relata a paciente.
A depressão também ficou para trás.
“Eu tomava Rivotril, mas nunca gostei. Hoje fico feliz quando uso o óleo. É uma alegria que há muito tempo eu não sentia, um prazer de viver. Cada vez que dou uma gargalhada parece que parte da dor também vai embora”, comemora.
O problema é fechar as contas no fim do mês. Se antes gastava pouco mais de R$ 300 com o coquetel de remédios, hoje Fran investe quase R$ 1,2 mil para conseguir os remédios. Se importasse, em vez de receber o óleo como sócia da associação, os gastos seriam ainda maiores.
Não à toa, virou ativista e luta pelo acesso mais democrático aos medicamentos.
“Vejo a dificuldade das pessoas. Pacientes com dor crônica muitas vezes estão desempregados ou afastados do emprego e não tem acesso ao óleo. É injusto, já que os remédios à base de cannabis fazem tanta diferença no alívio da dor”, finaliza.
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