Agla de Jesus viu sua dor crônica reduzir com a Cannabis, começou a dormir melhor, mas luta para manter o acesso ao medicamento
A esteticista Agla dos Reis de Jesus, 45, nunca imaginou que um dia iria usar Cannabis. Quando ainda era um bebê, seu irmão, na época com 20 anos, teve um surto esquizofrênico em um período de muita tensão, prestes a partir para um curso no exterior, e a maconha sempre recebeu a culpa.
Era essa a versão da mãe de Agla, que levou a família a desenvolver aversão à planta. Ela até tinha sua dose de razão, já que altas doses de THC podem desencadear surtos em pessoas com propensão à esquizofrenia.
Foi duro o tratamento, em uma intensa busca por um especialista que pudesse ajudar um caso psiquiátrico tão grave, 40 anos atrás. Desde então, o assunto virou tabu.
A chegada das dores
Com o tempo, foi a vez da própria Agla apresentar seus problemas de saúde. Nascida quando sua mãe já havia superado os 44 anos de vida, com uma medicina bem menos avançada, teve que passar por uma série de cirurgias, coluna, coração, laringe, até que pudesse seguir normalmente sua vida.
E deu certo. “Sou muito enérgica. Amo trabalhar. Trabalhei minha vida toda. Faço caminhada, pilates”, conta.
Há cerca de dez anos, porém, algo começou a incomodar Agla. Dores que nasciam na batata da perna esquerda e se estendiam até a sola do pé. Ela sempre pensou se tratar de varizes. Seu pai tinha, sua mãe tem, assim como ela.
Seguiu sua vida do jeito que deu, passando horas em pé no atendimento das clientes de seu salão estético. Há seis anos, a tarefa ficou mais difícil. “Quando eu fui no angiologista, ele falou que o problema maior não era só as varizes, era da coluna. Afeta o lado esquerdo. A perna, com muita queimação embaixo dos pés. Muita dor.”
No ortopedista, a saída era conviver com a dor ou uma cirurgia. “Eu não quis. Já soube de muitas pessoas que tiveram problemas depois da cirurgia. Quis não. Já fiz tanta.”
Tratamento tradicional para dor crônica
Sua opção foi tentar lidar com a dor, à base de medicamentos. “Ele passou um remédio, que ameniza muito. Só pode tomar um a cada três, quatro dias, porque é muito forte. Quando tomava, passava, mas voltava. E sou uma pessoa que não gosto muito de tá tomando remédio. Gosto de coisas naturais.”
O tratamento era um paliativo, que não impediu que há quatro anos tivesse que deixar o salão e ficar em casa. Até que há pouco mais de um ano, ficou sabendo que havia chegado um novo ortopedista em sua cidade, Itacaré. “Quer saber? vou lá. Essas dores estão acabando comigo.”
Curando o preconceito
Assim conheceu o médico Jimmy Fardin. “Ele viu meu raio x, falou que meu caso era muito grave. Ele falou: você confia em mim? Confio, doutor! Foi aí que conheci a Cannabis. Eu tinha resistência, por causa da minha mãe, mas confiei. Minhas filhas já falavam e eu concretizei com o dr. Jimmy. Ele estudou para isso.”
“Fez logo efeito. Principalmente na insônia, Como você dorme com dor, toda hora acorda. Quando passei a tomar, acabou a minha insônia e a dor automaticamente vai melhorando, o dia fica melhor, tudo fica melhor”, comemora. “Me senti muito bem. Eu amo a Cannabis. Não quero deixar, mas a questão é ter condição. A dor está bem leve. Só não está melhor porque eu não faço o uso todo dia. Uso quando está mais atacada.”
Uso de Cannabis para dor crônica
A Cannabis medicinal reduziu as dores de Agla, mas ela nunca pode saber se é possível se livrar de vez delas. “O dr. Jimmy me orientou, disse que meu caso é para pedir aposentadoria pelo INSS. Eu fiz o pedido, foi aprovado, mas não sei porque, só caiu um salário.”
Com o dinheiro que recebeu, investiu tudo no óleo de Cannabis. “O valor é alto para mim. Ainda tem um pouquinho só. Ontem estava com uma dor, aí tomei só um pouquinho. Com medo de acabar. Tomei a gotinha, e dormi toda a noite. Acordei hoje cedo”, conta. “Mas, conversando com vc, agora mesmo, estou com muita dor.”
Agora, Aglla briga para tentar regularizar sua aposentadoria para, assim, conseguir manter o tratamento. “Eu tô amando. Amo e amo mesmo. Só não tenho a condição. Deus vai me ajudar para que eu mantenha.”
Ela espera que, conseguindo o acesso regular à Cannabis, poderá voltar a praticar atividades físicas e trabalhar, com toda sua qualidade de vida de volta. E, assim, se tornar exemplo. “Eu aconselharia todo mundo a usar o medicamento da Cannabis. Mostrar minha experiência. É uma coisa muito boa. Sofro por não poder manter.”
“Falei para uma amiga e ela ficou super feliz. Ela tem problema sério de insônia. Como é que eu não vou indicar uma coisa dessas que me faz bem?”, continuou. “Estou muito feliz. Jamais pensei que um dia eu ia usar Cannabis, por causa da minha mãe, como eu cresci. Para mim é o melhor medicamento que existe para tudo. O povo tem uma resistência tão grande em uma coisa tão legal. Sou feliz hoje, depois que conheci esse medicamento.”