Com mieloma múltiplo e lesões na coluna, Valter de Souza deixou a cadeira de rodas com ajuda da Cannabis: “melhorei 80%”
Sentir dor não é bem uma novidade na vida do empresário Valter Cesar de Souza, com 62 anos. Convivendo com uma artrose na coluna há 15 anos, perdeu as contas das crises que teve de enfrentar ao longo da vida. Sempre a mesma coisa: a coluna trava, toma medicamentos para a dor e melhora, já à espera da próxima crise.
Em setembro de 2019, porém, a dor chegou para ficar. Dessa vez, nas costelas, no lado esquerdo do tronco. Buscou fisioterapia, analgésicos, e nada de melhorar. Entendeu que precisava de ajuda. Com um ortopedista veio o diagnóstico: mieloma múltiplo – um tipo de câncer nas células da medula óssea – com um tumor de cinco centímetros nas costelas.
Passou por cirurgia, quimioterapia, mas as dores só pioravam. “Eu sentia muitas dores. Nem no teclado eu conseguia digitar com tanta dor. A doença ataca as articulações e os ossos, e não conseguia nem me movimentar”, conta Souza. “Mesmo para caminhar, muita dificuldade.”
Uma nova luz: a Cannabis medicinal
Em busca de uma alternativa, foi pedir conselhos para uma amiga da família. Por sorte, a amiga se chamava Maria Teresa Rolim Jalbut Jacob, médica especialista em dor crônica. Foi quando recebeu a primeira indicação sobre os possíveis benefícios da Cannabis medicinal para sua condição.
“Resolvi consultar a hematologista, e comentei sobre a Cannabis”, conta. “A princípio ela não deu muita atenção. Acho que ela não tinha o conhecimento, e não queria contrariar ela e deixei para lá.”
No entanto, suas dores estavam prestes a piorar. Os repetidos esforços para levantar da cama, uma tarefa cada vez mais difícil, se somaram à fragilidade dos seus ossos, e provocou duas lesões na coluna, que acabou de vez com sua qualidade de vida.” Eu comecei a até a usar a cadeira de rodas para a quimio. Um sofrimento. Até para andar de carro, qualquer movimento que fazia, doía muito.”
Algo precisava ser feito. Voltou a falar com sua hematologista, que, sem muita opção de tratamento, aceitou dividir os cuidados do paciente: ela cuidaria do tratamento do câncer, enquanto a dra. Maria Teresa Jacob daria atenção exclusiva à sua dor, com o uso da Cannabis.
Os benefícios do tratamento com Cannabis
“Já faz três meses que estou fazendo o tratamento com a Cannabis, e, de lá para cá, é só melhora”, revela o empresário. “Da cadeira de rodas, passei para o andador e, depois, para a muleta. Até consigo andar sem muleta, mas eu sinto uma segurança maior. Eu não posso ter fratura nenhuma, então tenho que me cuidar.”
Com menos dores, passou a dormir melhor e, como consequência, seu humor também melhorou. A família também colheu os benefícios, já que conseguiu aliviar um pouco a tarefa de sua esposa, que se dedicava 24 horas ao seu cuidado. Também voltou a trabalhar. Mesmo em casa, agora consegue usar o computador e auxiliar seu filho, que assumiu sua empresa de confecções devido à doença.
Voltou a fazer fisioterapia, duas vezes por semana, e as dores que sente são as mesmas de qualquer pessoa que retorna à atividade física após um período parado. “Fiquei muito parado, perdi muita massa muscular. As dores que vem são musculares, do tempo sem exercício”, afirma. “Mas já comecei a pegar massa muscular. Então, em relação a minha qualidade de vida, estou bem.”
Cannabis Medicinal e quimioterapia
Já em relação ao câncer, embora o primeiro ciclo de quimioterapia não tenha obtido os resultados esperados, agora está em um novo ciclo: 32 seções de um tratamento para estimular seu sistema imunológico. Ao final, fará mais exames para descobrir como está a evolução da doença. Por enquanto, comemora estar se sentindo melhor.
“Em relação ao que comecei, a qualidade de vida melhorou uns 80%”, celebra. “Ficaram só essas dores musculares. Já estou caminhando sozinho, para quem estava em cadeira de rodas, é uma grande mudança.”
Os benefícios da Cannabis não param por aí. “Com quimioterapia, não tive queda de cabelo, nem problemas de alimentação”, diz. “Normalmente a pessoa tem muita ânsia de vômito, enjoo, e eu saio da quimioterapia com fome.”
Sua esperança é que, com a sequência do tratamento, siga no processo de recuperação. “É uma doença que não tem cura, mas a gente tem que entender que os problemas não acontecem somente com os outros. Todos somos suscetíveis à doenças e temos que ser otimistas”, conclui. “Não adianta fazer o tratamento se não tiver a fé que vou ser curado.”