Em busca de normalizar a Cannabis, empresa desenvolve chocolate com terpenos que remetem ao cheiro da planta, mas não contém partes da erva
A chegada da Páscoa, no dia 09 de abril, aquece o mercado de chocolates e doces em todo o país. A expectativa do setor é que nesse ano as vendas tenham um incremento de 15% em relação ao ano anterior e gere 7 mil e 900 vagas de trabalho temporário, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). Em 2022, 10 mil toneladas de ovos e produtos de Páscoa foram comercializados no Brasil, um volume 13% maior do que em 2021.
O levantamento da Abicab revela ainda que 440 itens de Páscoa serão colocados à venda no e-commerce e nos pontos de venda tradicionais, sendo 163 novidades, como os ovos de Páscoa terpenados da ChocoGrower. A quantidade de lançamentos para a data festiva é a maior desde 2015 quando a Abicab deu início a esse tipo de levantamento.
Chocolates com terpenos?
Para quem ainda não sabe, os terpenos são micropartículas que conferem às plantas e frutas aromas e sabores característicos. Assim como o limão e o manjericão, a Cannabis também possui terpenos que proporcionam à planta um cheirinho todo especial. Estudos já têm comprovado que essas moléculas contribuem para potencializar os efeitos terapêuticos e medicinais da erva.
No Brasil, ainda não é permitido utilizar nenhuma parte da Cannabis na produção de comestíveis, mas algumas empresas buscam na natureza terpenos que remetem ao gosto e cheiro da Cannabis para inserir nos alimentos, numa tentativa de normalizar as possibilidades de utilização da Cannabis no mercado brasileiro.
Educação e quebra de preconceito
Juliana Braga, que cuida da gestão comercial e do marketing da ChocoGrower, explica que o chocolate da empresa é diferenciado por não se tratar de manteiga hidrogenada. “Nós já chegamos com o know-how de uma fábrica de chocolate com 20 anos de história. Estamos desenvolvendo um produto com óleo essencial e 100% cacau. A ideia é trabalhar conscientizando as pessoas sobre as propriedades medicinais da Cannabis. Precisamos levar essa mensagem. As pessoas precisam ter acesso à informação”, defende a comunicadora.
Marcelo Caputo, que é o dono da empresa, explica que o público-alvo da ChocoGrower é quem aprecia o uso adulto da planta, muito embora o objetivo da empresa também é o de ‘furar a bolha’, ou seja, atingir outras pessoas que desconhecem as propriedades terapêuticas planta. “Como mestre chocolateiro quis desenvolver uma linha para os jardineiros, para os growers e maconheiros que curtem produtos de qualidade”, defende Caputo.
Atraídos pela alta de consumo nessa época do ano, a ChocoGrower lança uma linha especial para a Páscoa. “Queremos aproveitar a Páscoa para lançar a marca, mas a ideia é atender pedidos personalizados, como trufas em caixas de madeira, buds terpenadas e vários tipos de chocolates com óleos essenciais variados”, adianta Caputo.
Chocolate e os endocanabinoides
O cacau é uma fruta conhecida por estimular a produção da Anandamida no cérebro. Essa substância é um neurotransmissor produzida pelo próprio corpo, conhecida como a molécula da felicidade e se assemelha com a estrutura química do tetrahidrocanabinol (THC), a principal molécula psicoativa da Cannabis. Uma das funções da Anandamida é a regulação das funções fisiológicas e psicológicas do corpo, como explica o doutor José Wilson.
“Anandamida em sânscrito significa êxtase, felicidade suprema. É também nome de um endocanabinoide com grande afinidade pelo receptor CB1. Um receptor canabinoide presente em abundância no sistema nervoso central, que modula humor, apetite, memória, entre outras funções cognitivas”, detalha o médico.
Segundo o especialista, quando terpenos são adicionados aos chocolates, a produção da Anandamida é ainda mais eficiente. “O limoneno, por exemplo, é um terpeno abundante na Cannabis, e comprovadamente aumenta os níveis de Anandamida no corpo. Se o chocolate já traz felicidade, enriquecido com terpenos ainda mais”, conclui doutor José Wilson.
Chocolate sinônimo de alegria