No encontro da última terça-feira, 29, do Clinical Trials – THC & CBD Products, Jaime Ozi apresentou os produtos e a estrutura da OnixCann, bem como o convidado da noite: Jonathan Grunfeld, CMO da MGC Pharma. Desde 2010, o médico israelense especializado em neuro-oncologia pela Anderson Cancer Center dá ênfase ao uso de Cannabis no tratamento oncológico. Ele fez uma extensa explicação da importância do THC e outros canabinoides e terpenos nos tratamentos, suas aplicações, dificuldades e ainda deu dicas práticas para médicos prescritores.
Durante a conversa, Grunfeld respondeu a perguntas do Dr. Cid Gusmão, CMO do CanTeraMed que fundou o Centro de Combate ao Câncer, contribuiu para criação da plataforma Cantera de Tratamento de Cannabis, Big Data e Analytics e é membro da Academia de Medicina de São Paulo, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, da American Society of Clinical Oncology, entre outras.
Dificuldades com o THC
Grunfeld iniciou sua fala lembrando que o THC é o canabinoide que teve mais dificuldades para o avanço dos estudos por todo o mundo, e que o maior obstáculo foi mais cultural e legal do que médico.
Ele lamenta que os estudos sobre Cannabis não caminharam na mesma velocidade que os demais produtos da indústria farmacêutica. Seu exemplo é um artigo de 130 anos atrás, escrito por Russell Reynolds, médico da rainha da Inglaterra, no qual este relatava os benefícios da Cannabis. Apesar de mais de um século ter se passado, “não progredimos muito mais que isso”, ele arremata.
O israelense acumulou extensa experiência com Cannabis como neuro-oncologista e cuidados paliativos. Nela os pacientes neurológicos provaram responder bem ao tratamento com canabinoides de uma forma que não dá para conseguir com outros tratamentos.
Para as condições que tratava, a grande concentração de THC era fundamental nos pacientes que não respondiam tão bem com o CBD isolado.
Grunfeld apontou algumas indicações para uso com alto THC como estenose espinhal cervical, uso tópico para psoríase, artrite e artrose. Ainda em casos que são desafios médicos por não terem resposta a tratamentos tradicionais como estresse, prurido, insônia refratária, vício em benzodiazepínicos, efeitos colaterais de esteróides, intimidade.
Falando sobre medicamentos com concentração fixa de canabinoides isolados, Grunfeld apontou vantagens e desvantagens:
Vantagens
– Mais consistentes, facilitando a prescrição e posologia;
– Qualquer outro médico vai entender o tratamento feito;
– Mais fácil de estudar o avanço do paciente por ser mais consistente;
– Facilidade para pesquisas clínicas.
Desvantagens
– Efeito entourage reduzido;
– Concorrência de boas formulações reguladas industrialmente;
– Ideologia natural versus fabricado, onde o efeito entourage é mais presente.
Dicas práticas a médicos prescritores:
– Confiança vem da experiência, mas há tranquilidade porque tem poucos e leves efeitos;
– Comunicação essencial – porque ainda há poucas pesquisas. É crítico ter um follow up intenso com o paciente, que facilita ajustes;
– Flexibilidade – Os resultados são sempre imprevisíveis, pois o paciente toma outros medicamentos, o que potencializa o efeito;
– Persistência – É possível substituir doses, tipos, marcas, formulações. Não se deve desistir do tratamento;
– Antecipação – Em geral, a tolerância é boa. Mesmo que o paciente tenha efeitos ruins, estes tendem a diminuir. Há também o nocebo – quando os pacientes não estão confortáveis por usar Cannabis pelo estigma de droga, têm uma expectativa desfavorável e por isso podem vivenciar efeitos negativos;
– Evitar erros de dosagem – pacientes que não seguem a posologia recomendada: Grunfeld recomenda colocar a gota no dedo e esfregar o óleo na parte interior das bochechas, evitando a ingestão;
– Adaptar dosagem à rotina da pessoa: mais THC para a noite porque ajuda a dormir.
Uma advertência especial que foi dada é o cuidado no tratamento concomitante com antidepressivos. Para Grunfeld, é importante ficar atento ao paciente, observando os efeitos colaterais. Por exemplo, ele pode ficar mais agitado ou os idosos podem ter alucinações. A solução é simples: diminuir a dose do antidepressivo.
Entrevista com Grunfeld:
Dr Cid Gusmão: Qual o futuro da pesquisa em Cannabis?
Johnathan Grunfeld: Usar mais de dois canabinoides já é um avanço. Mas o controle deve existir para análise racional e o mundo está caminhando nessa direção. A MGC já começou um estudo clínico em demência e existem planos concretos para muitos outros estudos clínicos. Alguns destes começarão a sair na literatura científica. Não é só encontrar a combinação certa, de dois, três ou mais canabinóides. Há também a forma de administrar. Nano formulações serão mais consistentes e precisas para a posologia.
CG: Nos dê mais dicas práticas sobre as diferenças de tratamento de pessoa para pessoa. Alguns usam mais de um óleo para facilitar a titulação [método usado para determinar a concentração de uma solução], o que o senhor acha disso?
JG: Em Israel fazemos produtos para o dia e para a noite. A fisiologia de cada indivíduo é diferente para períodos diferentes do dia. Há doenças que mudam de dia e de noite. Depende da indicação, do indivíduo, período do trabalho, hábitos. Nem sempre é fácil entender o que o paciente reporta e a forma da entrega também pode afetar o tratamento.
CG: Como é feita a coleta de informações em Israel?
JG: Por muito tempo havia oito diferentes empresas com extratos com variantes diferentes, onde a titulação e adaptação era pessoal. Por causa da grande variedade e dificuldade de informação dos pacientes, os dados foram perdidos. Agora há produtos com concentração precisa, o que será mais fácil de coletar e produzir uma framework. Assim se terá uma posologia inicial mais precisa para ajustes posteriores.
Pergunta do público: Comente sobre o tratamento de diabetes e vício.
JG: Os resultados são consistentes. O Full spectrum teve impacto nos níveis de glucose de muitos pacientes, chegando a reduzir 1%, 1,5%. Alguns pacientes até deixaram o remédio para diabetes. Não resolve para todos e precisa de atenção no começo do tratamento: pode haver tontura. Nesses casos, oferecer abacaxi, manga ou cítricos, que têm terpenos, costuma resolver. Para vício, temos ótimas experiências com benzodiazepínicos com altas doses de Cannabis. Para opioides também se percebe o total desmame ou diminuição expressiva de consumo. O que se ganha é que a Cannabis não tem os efeitos colaterais como constipação e depressão.
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Pergunta do público: Comente o papel de outros canabinóides e terpenos nos tratamentos.
JG: É impossível ser preciso. Uma coisa é óbvia, do ponto de vista prático: é como o paciente se sente. Às vezes não se sente bem com alguns efeitos do THC. Alguns terpenos o fazem se sentir melhor.
CG: Qual o futuro da Cannabis na medicina?
JG: Duas formas: o uso da erva de forma mais rústica, sempre haverá. E também os produtos farmacêuticos, nanotecnologia, formas de administração e dosagem cuidadosa com os demais elementos. São grandes as chances de sucesso.
Produtos com THC
Marcelo Galvão, sócio-fundador e CEO OnixCann, lembrou também da importância do THC para potencializar o CBD e demais canabinoides. A empresa trouxe os primeiros produtos com THC puro, que permite uma dosagem menor, e outros com proporção de THC superior a de CBD, ao Brasil.