Os canabinoides são substâncias naturais presentes na Cannabis. Dentro dos mais de 480 compostos distintos identificados na planta, aproximadamente 145 são reconhecidos como canabinoides.
O delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC) é o mais famoso desses elementos, sendo o principal componente psicoativo da Cannabis sativa.
Por outro lado, o canabidiol (CBD) é outro componente relevante, representando cerca de 40% do extrato de algumas variedades da planta.
O uso da Cannabis remonta a 500 a.C. na Ásia, onde foi empregada para fins medicinais.
Nos dias atuais, a disponibilidade legal da Cannabis e de seus derivados contendo canabinoides é ampla em diversos países.
Os canabinoides constituem uma família de compostos estruturalmente variados, com múltiplos alvos biológicos, oferecendo uma variedade de benefícios para a saúde.
Portanto, para obter uma compreensão mais abrangente sobre os canabinoides, prossiga com a leitura. A seguir, você aprenderá sobre:
- O que são e para que servem os canabinoides?
- Onde podemos encontrar os canabinoides?
- Principais tipos de canabinoides e suas utilidades
- Como os canabinoides agem no organismo?
- Quais os benefícios comprovados dos canabinoides para fins medicinais?
- Quem não pode fazer uso dos canabinoides?
- Existe efeitos colaterais no uso de canabidiol?
- O uso de canabidiol no Brasil
- Como iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal?
O que são e para que servem os canabinoides?
Os canabinoides são substâncias encontradas nas plantas do gênero Cannabis ou derivados delas.
Eles podem ser classificados em três classes, como fitocanabinoides, endocanabinoides e canabinoides sintéticos.
Os primeiros canabinoides identificados foram os derivados da Cannabis sativa, conhecidos como ‘fitocanabinóides’, presentes nos caules, folhas, flores, sementes e, principalmente, na resina produzida pela planta fêmea.
Os endocanabinoides, por outro lado, constituem um grupo de canabinoides produzidos internamente pelo corpo, agindo como mensageiros lipídicos intercelulares.
Sua produção não é armazenada, sendo sintetizada sob demanda a partir de moléculas presentes nas membranas celulares.
Já os canabinoides sintéticos representam uma classe mais recente de moléculas canabinoides.
São substâncias artificiais que imitam o THC, CBD ou outros canabinoides encontrados na Cannabis sativa.
A produção e venda desses canabinoides começaram nos anos 2000, a fim de criar produtos médicos para serem utilizados no tratamento de doenças.
Os efeitos biológicos dos fitocanabinoides ou canabinóides sintéticos, assim como dos canabinoides endógenos, ocorrem por meio das interações com o sistema endocanabinoide (SEC).
Esse sistema está relacionado com a homeostase de diversas funções, como regulação do humor, equilíbrio energético, memória e aprendizado, além de estar associado a várias doenças neurológicas, neurodegenerativas, neuroinflamatórias e psiquiátricas.
Os primeiros experimentos farmacológicos com fitocanabinoides foram realizados nas décadas de 1940 e 1950.
Pesquisadores descobriram que a atividade farmacológica dos fitocanabinóides estava fortemente ligada à sua interação com certos receptores.
Atualmente, identificam-se dois tipos principais de receptores canabinoides, denominados CB1 e CB2.
Ambos são receptores acoplados à proteína G, mas diferem consideravelmente em sua distribuição anatômica e nos efeitos que desencadeiam.
Onde podemos encontrar os canabinoides?
Embora as plantas do gênero Cannabis não sejam as únicas a conter fitocanabinoides, elas abrigam concentrações mais elevadas desses compostos.
Nas flores e na resina, a Cannabis ostenta seu potencial terapêutico.
É nesses locais que os canabinoides, juntamente com terpenos e flavonoides, estão em maior quantidade.
Os canabinoides mais conhecidos, como o THC e o CBD, são apenas alguns exemplos entre os mais de 145 já identificados na Cannabis.
O primeiro deles, o THC, foi descoberto pela ciência não faz tanto tempo assim.
Em 1964, o cientista israelense Raphael Mechoulam isolou essa substância e a utilizou como ingrediente em um bolo, distribuindo-o para amigos observarem os efeitos.
Após comer, seus amigos tiveram reações variadas, levantando a questão de que o THC era responsável por tais efeitos.
Desde então, a ciência avançou consideravelmente no estudo da planta, não apenas identificando outros canabinoides, mas também os endocanabinoides.
O pioneirismo de Mechoulam impulsionou as pesquisas, levando ao conhecimento do sistema endocanabinoide, que inclui os receptores CB1 e CB2 distribuídos pelo nosso corpo.
Com uma compreensão maior dos canabinoides, as plantas do gênero Cannabis começaram a ser extensivamente estudadas.
Revelou-se, então, que cada variedade possuía diferentes proporções de canabinoides. Veja em mais detalhes abaixo:
Cannabis sativa
Cannabis sativa é uma das três principais espécies de plantas de Cannabis mais estudadas, principalmente por suas características físicas e efeitos psicoativos.
Originária de regiões tropicais e subtropicais, a sativa é uma planta alta, com folhas finas e alongadas.
Essas plantas podem crescer até alturas consideráveis, muitas vezes, ultrapassando os 2 metros quando cultivadas em condições ideais.
Devido ao seu perfil químico, que geralmente contém níveis mais altos de THC em comparação com CBD, as cepas de sativa tendem a produzir efeitos psicoativos.
Muitos usuários relatam que as variedades sativa são ideais para uso durante o dia, pois não causam sonolência e aumentam o foco e a produtividade.
Na indústria medicinal, a Cannabis sativa é utilizada para tratar condições como depressão, fadiga crônica e déficits de atenção.
Sua composição química única oferece um potencial terapêutico para aliviar sintomas específicos, como a falta de apetite, náuseas e vômitos.
Cannabis indica
Cannabis indica é outra das três espécies primárias de Cannabis, com características físicas distintas em comparação com a sativa.
As plantas de Cannabis indica tendem a ser mais curtas e densas, com folhas mais largas e espessas.
As cepas de Cannabis indica são frequentemente associadas a efeitos relaxantes e sedativos.
Comumente referidas como “couch-lock” devido à sensação de relaxamento profundo que proporcionam.
Portanto, são variedades populares entre os usuários que buscam alívio do estresse, insônia e dores crônicas.
No campo medicinal, a Cannabis indica é usada no tratamento da ansiedade, espasmos musculares, dores crônicas e distúrbios do sono.
Seus efeitos relaxantes podem ajudar a aliviar sintomas físicos e promover um estado de tranquilidade.
Cannabis ruderalis
Cannabis ruderalis é uma das menos conhecidas e menos cultivada entre as três espécies de Cannabis.
Originária de regiões frias da Europa Oriental e da Ásia Central, a ruderalis tem pequena estatura, crescimento rápido e resistência a condições climáticas adversas.
Em termos de efeitos, as variedades de Cannabis ruderalis geralmente possuem níveis muito baixos de THC, o que resulta em efeitos psicoativos mínimos ou inexistentes.
Por causa disso, a ruderalis é raramente cultivada para uso recreativo, e é mais utilizada no melhoramento genético para criar híbridos com características específicas de crescimento, como autoflorescência.
Embora menos comum, a Cannabis ruderalis é também utilizada na indústria medicinal devido à sua composição química distinta.
Suas cepas podem conter níveis mais elevados de CBD em relação ao THC, tornando-as úteis no tratamento de distúrbios como epilepsia, dores crônicas e inflamação, sem os efeitos psicoativos associados a outras variedades de Cannabis.
Principais tipos de canabinoides e suas utilidades
Ao longo da história, os canabinoides têm sido reconhecidos por suas influências psicoativas e efeitos fisiológicos.
Esses efeitos, que os tornaram alvos de usos médicos, culturais e recreativos, variam consideravelmente de acordo com o canabinoide utilizado.
Os canabinoides são frequentemente fontes de inovações na indústria farmacêutica, muitos dos quais estão estruturalmente ligados ou imitam a atividade dos endocanabinoides.
O consumo de produtos à base de canabinoides pode induzir uma ampla gama de efeitos.
No entanto, estes efeitos variam de acordo com o tipo de canabinoide, o produto em questão, o método de consumo, a concentração da substância e outras variáveis igualmente importantes.
Aqui está um olhar mais detalhado sobre os canabinoides principais da Cannabis e seus efeitos produzidos:
1. Canabidiol (CBD)
O canabidiol (CBD) é um dos compostos mais estudados encontrados na planta Cannabis sativa.
Descoberto em 1940 e isolado em 1963, é comumente extraído da planta de Cannabis, embora também possa ser encontrado em quantidades mínimas em outras espécies vegetais.
O canabidiol (CBD) representa o principal canabinoide não psicoativo extraído da Cannabis sativa.
Suas diversas propriedades terapêuticas abrangem áreas como analgesia, controle de convulsões, redução da ansiedade, proteção neural, ação anti-inflamatória, entre outras…
Os efeitos do canabidiol resultam de uma interação complexa com diversos alvos moleculares, sistemas de sinalização e mecanismos imunológicos.
O CBD possui uma afinidade reduzida com os receptores CB1 e CB2. Em vez de se ligar a eles, o canabidiol modula indiretamente a atividade desses receptores.
Com o CB1, o CBD atua como um modulador alostérico negativo, o que significa que ele não se liga ao receptor, mas altera a forma como o receptor responde aos estímulos.
Da mesma forma, o CBD demonstrou influenciar a atividade do CB2 de maneira complexa, afetando os processos anti-inflamatórios e imunomoduladores associados a esse receptor.
Outro aspecto interessante sobre este canabinoide é o alto perfil de segurança que possui, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Estudos mostraram que tanto doses moderadas quanto altas são geralmente bem toleradas e produzem poucos efeitos colaterais, embora possam interagir com alguns medicamentos.
Sua alta segurança em comparação com outros fármacos e substâncias ajuda a explicar sua ampla disseminação nos mercados nacionais e internacionais.
2. Tetrahidrocanabinol (THC)
O Δ-9-tetrahidrocanabinol, conhecido como THC, é o principal agente psicoativo da Cannabis, responsável pela sensação de euforia experimentada por quem a utiliza.
A presença de Cannabis com altos teores de THC foi observada por arqueólogos no oeste da China, remontando a 2.500 anos atrás.
Essas descobertas sugerem que os seres humanos possivelmente cultivaram e selecionaram espécimes de Cannabis com altos níveis de THC ao longo do tempo.
Contudo, apenas na década de 1960 a tecnologia para isolar diretamente o THC da planta se tornou viável.
O Dr. Roger Adams, com formação em química pela Universidade de Harvard, foi o pioneiro na identificação e síntese do THC em laboratório.
Posteriormente, em 1964, o Dr. Raphael Mechoulam, conhecido como “o pai da ciência da Cannabis”, descobriu a estrutura química do THC no Instituto Weizmann de Ciência, em Israel.
Esse marco impulsionou as pesquisas sobre este canabinoide, levando mais cientistas a explorarem seus efeitos no corpo humano.
Os efeitos benéficos associados ao THC são vastos e variados. Ele é conhecido por suas propriedades analgésicas, ajudando no alívio de dores crônicas, neuropáticas e associadas a condições como esclerose múltipla.
Além disso, possui propriedades antieméticas, sendo útil no combate às náuseas e vômitos, especialmente em pacientes submetidos a quimioterapia.
O THC interrompe a liberação de neurotransmissores enquanto interage com o SEC, muitas vezes levando a alterações na percepção e humor.
O THC também afeta os receptores CB1 e CB2 no corpo humano. No entanto, diferentemente do CBD, o THC pode interagir com estes receptores diretamente e produzir efeitos.
Dependendo da dosagem, do método de consumo e das respostas individuais, esses efeitos variam muito.
3. Canabigerol (CBG)
O canabigerol (CBG) é outro dos muitos canabinoides presentes na planta de Cannabis.
Embora seja menos prevalente que outros compostos, como o THC e o CBD, o CBG também é estudado devido às suas propriedades terapêuticas.
Ele é comumente encontrado nos estágios iniciais de desenvolvimento da planta de Cannabis, antes de se converter em outros canabinoides mais abundantes, como o THC e o CBD.
A partir da década de 1960, cientistas começaram a isolar o CBG e a estudar suas propriedades.
O canabigerol (CBG) exibe uma variedade de propriedades terapêuticas, incluindo efeitos antibacterianos, antifúngicos e anti-inflamatórios.
Também demonstra capacidade de impedir a proliferação celular.
Assim como o THC e o CBD, o canabigerol produz seus efeitos através dos receptores canabinoides CB1 e CB2.
Além disso, o CBG interage com receptores como TRPV1 e PPAR.
O canabigerol também reduz a atividade da FAAH, uma enzima responsável pela metabolização da anandamida, impactando diretamente em seus níveis e efeitos biológicos.
Ao influenciar o funcionamento do sistema endocanabinoide, o canabigerol regula diversos processos corporais, incluindo respostas imunes, formação de câncer, doenças cardiovasculares e percepção da dor.
A inibição da captação de anandamida pelo CBG resulta no aumento dos níveis e ações dessa substância nas células.
Estudos também destacaram que o CBG é capaz de inibir a proliferação de células cancerígenas, como em casos de câncer de mama, próstata, colorretal e adenocarcinoma gástrico, através da ativação do receptor TRPV1.
4. Canabinol (CBN)
O canabinol (CBN) é um dos fitocanabinoides menores encontrados na Cannabis sativa.
Apesar da identificação de diversos fitocanabinoides em diferentes plantas e fungos, o CBN é exclusivamente associado à Cannabis.
A descoberta do CBN foi marcada por uma série de eventos confusos, e sua estrutura só foi completamente elucidada em 1940.
Cientistas notavam altas concentrações de CBN em produtos de Cannabis envelhecidos, indicando que este canabinoide seria um produto resultante da degradação do THC.
Este fitocanabinoide, embora seja um agonista de ambos os tipos de receptores CB, demonstra propriedades distintas dependendo do tipo de receptor.
A afinidade do CBN pelos receptores CB1 é cerca de 10 vezes menor em comparação com o THC. No entanto, ele ainda exibe propriedades benéficas, tais como outros canabinoides.
Com potencial como agente analgésico e anti-inflamatório, o CBN tem sido considerado promissor no tratamento da dor.
Estudos anteriores sugeriram sua capacidade de aliviar sintomas de distúrbios de dor miofascial, incluindo distúrbios temporomandibulares e fibromialgia.
Assim como outros canabinoides, como o CBG e CBD, que mostraram eficácia contra diversas bactérias resistentes a antibióticos, o CBN também parece possuir propriedades antibacterianas.
Estudos indicaram sua alta eficácia contra várias cepas bacterianas resistentes a antibióticos.
5. Tetrahidrocanabivarina (THCV)
A Tetrahidrocanabivarina (THCV) é um dos muitos compostos encontrados na planta Cannabis sativa, pertencente à classe dos canabinoides.
Descoberta em meados da década de 1970, a THCV é uma variação estrutural do tetraidrocanabinol (THC), mas apresenta propriedades distintas e únicas.
Embora sua presença na planta seja relativamente menor em comparação com outros canabinoides, a THCV possui propriedades e efeitos semelhantes aos demais canabinoides.
Estudos indicam que a THCV pode ter propriedades anorexígenas, atuando como supressor do apetite.
Observou-se que doses mais baixas de THCV podem reduzir o apetite, enquanto doses mais altas parecem ter um efeito oposto, estimulando-o.
Essa capacidade de modular o apetite sugere um potencial uso no tratamento da obesidade e de distúrbios alimentares.
Além disso, a THCV também demonstrou potencial na regulação dos níveis de glicose no sangue, sugerindo um possível papel no tratamento da diabetes tipo 2.
Cabe mencionar também as propriedades neuroprotetoras da THCV, ideais para o tratamento de distúrbios neurológicos, como a doença de Parkinson.
Seus efeitos na modulação da atividade motora e na preservação das células dopaminérgicas explicam tais efeitos.
6. Ácido tetrahidrocanabinólico (THCA) e ácido canabidiólico (CBDA)
O ácido tetrahidrocanabinólico (THCA) e o ácido canabidiólico (CBDA) são os principais precursores dos canabinoides mais conhecidos, o THC e o CBD, respectivamente.
Ambos são encontrados na planta de Cannabis e, quando a planta está em seu estado cru, eles são abundantes.
São convertidos em THC e CBD através do calor, processo conhecido como descarboxilação.
O THCA é considerado a forma ácida do THC, mas não possui os efeitos psicoativos associados ao THC.
Sua presença na Cannabis crua é maior do que o THC em si. Quando a planta é aquecida o THCA se converte em THC.
Por outro lado, o CBDA é a forma ácida do CBD, também encontrado em concentrações mais altas na Cannabis crua.
Similarmente ao THCA, o CBDA não produz os efeitos terapêuticos do CBD até ser ativado pelo calor ou pela descarboxilação.
Assim, quando a planta é submetida a altas temperaturas, o CBDA se converte em CBD.
Após esse processo, é possível obter os efeitos terapêuticos associados aos canabinoides maiores, como propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e ansiolíticas.
7. Canabidivarina (CBDV)
A CBDV, abreviação para canabidivarina, representa outro componente derivado das plantas Cannabis.
Assim como o CBD, a CBDV não possui propriedades psicoativas.
Além disso, esses dois canabinoides estão profundamente interligados em sua estrutura, apresentando 7 isômeros de ligação dupla e 30 estereoisômeros em comum.
A CBDV possui propriedades anticonvulsivantes, levando ao interesse no tratamento de epilepsia e outros distúrbios neurológicos.
Estudos em humanos indicam que a CBDV pode reduzir a frequência e a gravidade das convulsões, com usuários relatando uma melhora de até 50% nas crises convulsivas.
Além disso, estudos também apontam para o potencial da CBDV no tratamento de distúrbios do espectro do autismo, melhorando seus sintomas associados, como comportamentos repetitivos.
A CBDV também possui propriedades anti-inflamatórias e reguladoras no trato gastrointestinal, sendo auxiliar no tratamento de doenças e sintomas que afetam o intestino.
8. Canabicromeno (CBC)
O CBC é um dos canabinoides não psicotrópicos mais abundantes encontrados em cepas de Cannabis.
Embora não seja tão estudado quanto o THC e o CBD, o CBC possui benefícios que chamam a atenção.
Além de interagir com o sistema endocanabinoide, o CBC produz seus efeitos através de receptores específicos no cérebro, como o receptor vaniloide tipo 1 (TRPV1).
Essas interações resultam em efeitos na regulação da dor, inflamação e até mesmo no crescimento de células cerebrais.
Este canabinoide também tem potencial analgésico e anti-inflamatório.
Ademais, há evidências de que o CBC possa ter propriedades neurogênicas, o que significa que pode promover o crescimento e a saúde das células nervosas.
Isso abre possibilidades interessantes no campo da neurologia e pode ser relevante para condições como Alzheimer ou outras doenças neurodegenerativas.
Como os canabinoides agem no organismo?
Os canabinoides exercem sua influência ao interagir com receptores canabinoides endógenos específicos, uma parte integrante do sistema endocanabinoide.
O sistema endocanabinoide constitui uma complexa rede de sinais químicos e receptores celulares, densamente concentrados no cérebro e no corpo humano.
No cérebro, os receptores canabinoides, conhecidos como receptores CB1, superam muitos outros tipos de receptores e atuam como chaves para controlar os níveis e a atividade de vários neurotransmissores.
Essa regulação acontece por meio de um feedback imediato, sinalizando a atividade de sistemas que influenciam fome, temperatura e estado de alerta.
Para ativar esses receptores, nosso organismo produz moléculas denominadas endocanabinoides, estruturalmente semelhantes às encontradas na planta de Cannabis.
A primeira dessas moléculas descoberta foi batizada de anandamida, em referência à palavra sânscrita “ananda”, que significa felicidade.
Todos possuímos essas pequenas moléculas, semelhantes à Cannabis, naturalmente presentes em nossos cérebros.
Outro tipo relevante de receptor canabinoide, o receptor CB2, está presente em nossos tecidos imunológicos, atuando na regulação de nossa resposta imunológica.
Adicionalmente, ele está envolvido na modulação da inflamação intestinal e na gestão da dor em condições inflamatórias intestinais.
Os receptores CB2 têm despertado interesse no desenvolvimento de medicamentos, já que sua estimulação não causa o efeito psicoativo associado aos receptores CB1.
A importância do sistema endocanabinoide
O sistema endocanabinoide (SEC) é muito importante para o corpo e o cérebro, influenciando diretamente a comunicação entre os neurônios, o que, por sua vez, impacta uma variedade de funções biológicas.
Desde processos fundamentais, como alimentação e ansiedade, até funções como aprendizagem, memória, reprodução, metabolismo, crescimento e desenvolvimento, o SEC exerce sua influência por meio de ações em todo o sistema nervoso.
Deficiências ou disfunções neste sistema estão intimamente ligadas ao surgimento de doenças.
Além das funções já conhecidas, há evidências cada vez mais intrigantes sobre o papel do SEC na manutenção de um equilíbrio energético saudável.
Desestabilizar este sistema, por exemplo, pode ser um fator contribuinte para o desenvolvimento da síndrome metabólica, uma condição associada a complicações sérias, como diabetes.
Além disso, a síndrome metabólica é reconhecida como um fator de risco para condições debilitantes, como demência e doença de Alzheimer.
Portanto, o equilíbrio do SEC pode representar um caminho na prevenção e tratamento de uma variedade de condições de saúde.
Quais os benefícios dos canabinoides para fins medicinais?
Além das vantagens mencionadas anteriormente, relacionadas aos diversos tipos de canabinoides, há outras propriedades medicinais notáveis que esses compostos oferecem.
Produtos à base de canabinoides podem proporcionar diversos benefícios aos seus usuários, tais como:
- Alívio da dor: Estudos apontam para a redução de dores crônicas em pacientes que consomem canabinoides como THC, CBD e CBN.
- Combate à ansiedade e depressão: O CBD é um tratamento promissor contra ansiedade e depressão, com efeitos colaterais menos intensos do que os fármacos tradicionais.
- Redução de sintomas do tratamento contra o câncer: Pacientes oncológicos enfrentam náuseas, vômitos e dores, sintomas que podem ser amenizados com o uso de THC. Além disso, evidências sugerem que o CBG possa contribuir para prevenir o desenvolvimento do câncer ou sua progressão.
- Propriedades neuroprotetoras: Tanto o canabidiol, quanto a canabidivarina, exercem uma ação neuroprotetora, valiosa no tratamento de condições como epilepsia e esclerose múltipla.
- Benefícios para a saúde cardíaca: O CBD e o THC demonstraram ser benéficos para o coração e o sistema circulatório, prevenindo e auxiliando no tratamento de cardiopatias.
- Efeito antipsicótico: Pesquisas indicam que o CBD e o CBC possuem efeitos neurogênicos, particularmente úteis no tratamento da esquizofrenia.
- Estimulam o apetite: A influência do THC e o TCHV no apetite são bem documentadas. Estes canabinoides podem tanto estimular, quanto suprimir o apetite, dependendo de sua dosagem.
Estas propriedades são apenas uma amostra do vasto potencial medicinal dos canabinoides, mostrando-se como uma área de estudo promissora para o tratamento de condições de saúde.
Estudos que comprovam os benefícios dos canabinoides
Apesar dos benefícios de canabinoides como THC e CBD serem bem estabelecidos, é essencial aguardar por avanços adicionais em pesquisas e evidências mais conclusivas sobre os canabinoides menores.
O potencial medicinal dos canabinoides ainda está longe de ser totalmente explorado.
No entanto, há uma crescente indicação de que seu uso terapêutico pode abranger um espectro mais amplo de benefícios conhecidos.
O estudo The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids: The Current State of Evidence and Recommendations for Research sugere que os compostos da Cannabis auxiliam no tratamento de centenas de condições, tais como:
- Ansiedade
- Autismo
- Câncer (redução de sintomas)
- Dependência química
- Dor crônica
- Depressão
- Diabetes
- Doença de Alzheimer
- Doença de Crohn
- Doença de Parkinson
- Doenças reumáticas
- Danos hepáticos
- Dor de cabeça, enxaqueca e outras dores
- Endometriose
- Enxaqueca
- Epilepsia e convulsões
- Esclerose Múltipla
- Esquizofrenia
- Fibromialgia
- Insônia
- Obesidade
- Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH)
- Síndrome do pânico
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
- Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).
O estudo Cannabinoids for Medical Use: A Systematic Review and Meta-analysis reforçou as evidências mencionadas anteriormente.
Analisando 28 ensaios relacionados a náuseas e vômitos decorrentes da quimioterapia, este estudo englobou 1.772 participantes que fizeram uso de terapias com canabinoides.
Entre esses ensaios, oito foram controlados por placebo, enquanto vinte incluíram comparadores, como procloroperazina, clorpromazina, dromperidona, cada um com um estudo.
Os resultados mostraram que o número médio de pacientes que tiveram uma resposta contra náuseas e vômitos foi maior com o uso de canabinoides do que com o placebo.
Todos os ensaios sugeriram um benefício superior para os canabinoides em comparação aos agentes comparativos e ao placebo.
Quem não pode fazer uso dos canabinoides?
Os canabinoides podem ter efeitos variados em diferentes pessoas dependendo do tipo usado.
Enquanto alguns canabinoides, como o CBD, possuem poucas limitações de usos, outros podem não ser recomendados para certos grupos.
Grávidas e lactantes geralmente são aconselhadas a não consumir canabinoides psicoativos, pois a segurança do uso deles neste grupo ainda é foco de pesquisas.
Indivíduos com histórico de distúrbios psiquiátricos, também devem evitar certos tipos de canabinoides, já que esses compostos podem agravar essas condições.
No geral, é preciso que qualquer pessoa que esteja considerando o uso de canabinoides consulte um profissional de saúde para receber orientações personalizadas, levando em conta os riscos e benefícios dessas substâncias.
Existem efeitos colaterais no uso de canabidiol?
Embora o canabidiol (CBD) seja considerado muito seguro, há relatos de possíveis efeitos colaterais leves em algumas pessoas.
Raramente, quando ocorrem, os efeitos colaterais mais comuns do CBD incluem fadiga, mudanças de apetite e diarreia.
Em alguns casos, o CBD também pode interagir com certos medicamentos, principalmente os metabolizados no fígado.
Além disso, em doses muito altas, o CBD pode causar sonolência e boca seca.
Embora seja raro, em alguns casos extremos pode haver relatos de náuseas.
No entanto, é importante ressaltar que a incidência desses efeitos colaterais é mínima, e muitos usuários relatam experiências sem efeitos colaterais adversos ao usar o CBD.
O uso de canabidiol no Brasil
Em diversos países, os produtos terapêuticos elaborados a partir do canabidiol e de outros canabinoides têm sido uma realidade consolidada há bastante tempo.
No Brasil, porém, foi somente no final de 2019 que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) promoveu alterações normativas, possibilitando a comercialização desses produtos em farmácias brasileiras, desde que obtenham a devida autorização da agência reguladora.
Anteriormente, pacientes necessitavam importar tais medicamentos com uma prescrição, somente mediante a autorização expressa da Anvisa.
Esse procedimento está em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 327/2019, a qual estipula os critérios para a venda de produtos derivados da Cannabis para fins medicinais em drogarias no território brasileiro.
Esta medida promoveu uma melhora na acessibilidade desses produtos para os pacientes que deles necessitam, desde que cumpridos os regulamentos determinados pela Anvisa.
Como iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal?
No Brasil, o uso de canabinoides para fins medicinais tem aumentado fortemente, ganhando destaque como uma opção terapêutica em diversos quadros clínicos.
No entanto, iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal requer uma abordagem cuidadosa e orientada por profissionais de saúde especializados.
É preciso buscar um médico habilitado e autorizado para prescrever tais tratamentos, pois cada caso demanda uma avaliação individualizada para determinar a melhor forma de utilizar os canabinoides.
O portal Cannabis & Saúde é uma excelente fonte para encontrar profissionais qualificados que prescrevem Cannabis medicinal no Brasil.
O portal oferece informações confiáveis e direcionadas sobre o uso terapêutico de canabinoides, além de conectar pacientes a profissionais especializados nessa modalidade de tratamento.
Marque uma consulta com um profissional cadastrado no portal para obter orientações precisas e, se necessário, iniciar seu tratamento adequado com Cannabis medicinal.
Conclusão
Conforme apresentado no decorrer do texto, os canabinoides abrangem mais do que apenas o THC e o CBD.
Os efeitos terapêuticos provenientes desses elementos, presentes nas plantas do gênero Cannabis, têm o potencial de proporcionar alívio a pacientes que lidam com diversas condições de saúde.
Para isso, é fundamental que as pesquisas continuem progredindo e que os estigmas relacionados ao tema sejam dissipados.
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