Certamente você já ouviu falar sobre os canabinoides sintéticos no Brasil e no mundo. Porém, você sabe de fato o que são os canabinoides sintéticos? Eles podem ser legais e ilegais, podem atuar positivamente para nossa saúde e serem prescritos por médicos, como o Pea, por exemplo.
Mas também podem ser drogas extremamente nocivas e ilegais, como as chamadas drogas K, que não devem ser chamadas de maconha sintética para não trazer uma falsa ilusão sobre o real potencial e perigo.
O que são cannabinoides sintéticos e semi-sintéticos?
“O canabinoide sintético é aquele que foi produzido através de um não canabinoide, ele foi produzido de outra molécula orgânica, mas não derivada de um produto da Cannabis. Para fazer canabinoides pode-se utilizar, por exemplo, terpeno da casca da laranja. E tem os canabinoides semi-sintéticos no qual eles pegam canabinoides e transformam em outro canabinoide, por exemplo, pegam o CBD e transformam em Delta-8 THC”, explica o médico Dr. Ricardo Ferreira.
Portanto, os canabinoides sintéticos são substâncias criadas em laboratório que imitam a ação dos canabinoides naturais encontrados na planta de Cannabis, como o THC e o CBD.
Já os canabinoides semi-sintéticos são produzidos através de um canabinoide da planta e transformado em outro canabinoide.
“Existem canabinoides semi-sintéticos que são produzidos através do próprio Canabidiol. Empresas fora do Brasil pegam o CBD e através de um processo físico-químico transformam o CBD em outras moléculas como Delta-8 THC, Delta-10 THC e o próprio Delta-9 THC”.
Quais são os riscos dos canabinoides sintéticos?
Segundo o Dr. Ricardo, para avaliar os riscos dos canabinoides sintéticos é imprescindível saber de qual molécula estamos falando especificamente.
Cannabinoides sintéticos seguros
Em relação aos canabinoides sintéticos seguros, Dr. Ricardo cita como exemplo o Palmitoiletanolamida. Mais conhecido como Pea, ele pode servir como uma alternativa no tratamento de pacientes com dores crônicas. Pois tem local de ação similar ao CBD e é um anti-inflamatório.
“O Pea é um canabinoide sintético que utilizamos em muitas partes do mundo, aqui no Brasil também. Ele é um canabinoide sintético e muito seguro. Ele é idêntico ao que a gente encontra naturalmente na ervilha, por exemplo, ou na gema do ovo da galinha, só que em quantidade muito pequena. E então para conseguir uma quantidade razoável de PEA é necessário fazer sintético”, pontua.
Além do Pea, o Dronabinol e o Nabilona, análogos sintéticos do THC, são canabinoides sintéticos legais.
Eles foram desenvolvidos para tratar condições específicas, como náuseas em pacientes com câncer e perda de apetite em pacientes com HIV/AIDS. Esses medicamentos passaram por rigorosos testes de segurança e eficácia antes de serem aprovados por agências de saúde
Canabinoides sintéticos de alto risco e que são ilegais
Porém, há canabinoides sintéticos de alto risco como as drogas que não podem ser chamadas de maconha sintética.
Recentemente, o Relatório Europeu de Drogas (European Drug Report 2024), acendeu o alerta sobre substâncias como canabinoides sintéticos e opioides novos.
Segundo a publicação, um dos motivos de preocupação é o aumento do risco de intoxicação por produtos adulterados e a desinformação sobre a potência dessas substâncias que não são regulamentadas, e que podem representar uma ameaça à saúde pública.
“Do outro extremo há estas drogas de canabinoides sintéticos, drogas K, K2 e Spice. São drogas que têm efeitos similares ao THC, porém, com uma potência muitas vezes maior, até 100 vezes. E por isso eles são muito mais intoxicantes e geram efeitos colaterais, a curto, a médio e longo prazo que a gente nem tem consciência. Pois não há estudos como medicamentos, são utilizadas nas ruas como drogas. E tem grande potencial para desenvolvimento de paranoia e surto psicótico”.
Aqui no Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, já se identificou um aumento das apreensões e casos de intoxicação com este tipo de canabinoides sintéticos.
Nesta mesma linha, pesquisadores da USP defenderam que os canabinoides sintéticos “são substâncias menos seguras e não podem ser usados como substitutos de fitocanabinoides”.
“Há canabinoides sintéticos como K2 que não tem nada de bom e ao contrário disso, o Pea, tem tudo de bom. Realmente depende da molécula e depende claro da forma de uso”.
E os canabinoides semi-sintéticos: há segurança no uso?
Já em relação aos semi-sintéticos desenvolvidos por empresas sob padrões de qualidade, Dr. Ricardo avalia que eles são relativamente seguros.
“Semi-sintéticos têm uma potência psicoativa próxima ou abaixo do THC. E são teoricamente seguros. Isso é uma alternativa quando você não tem acesso ao THC natural por questões regulatórias. Mas existe alguma controvérsia em relação a esses canabinoides semi-sintéticos. Pois há artigos relatando que nessa transformação do CBD em Delta-8 e Delta-10 de THC, você pode ter transformação de outros canabinoides que não são identificados. E esses outros canabinoides menores que são produzidos e não são nem conhecidos podem ter ações também psicoativas até ruins”.
Canabinoides naturais, sintéticos e semi-sintéticos
Sendo assim, os canabinoides podem ser classificados em três categorias principais: naturais, semi-sintéticos e sintéticos. Cada um desses tipos possui origens, estruturas químicas e efeitos diferentes no organismo.
Canabinoides Naturais
São encontrados diretamente na planta de Cannabis, sendo os mais conhecidos o THC e o CBD. Eles se ligam aos receptores CB1 e CB2 do sistema endocanabinoide do corpo humano, podem promovendo efeitos como alívio da dor, redução da inflamação, relaxamento muscular, controle de convulsões e melhora do humor.
Segundo Dr. Ricardo, são geralmente considerados seguros e seus efeitos são mais bem documentados, embora seja fundamental acompanhamento no uso.
Canabinoides Semi-Sintéticos
São derivados de canabinoides naturais que passam por modificações químicas para alterar sua estrutura e, potencialmente, seus efeitos. Podem ser projetados para imitar os efeitos dos canabinoides naturais, mas com algumas alterações em potência, duração ou perfil de efeitos colaterais. Por exemplo, nabilona é usada para tratar náuseas e vômitos em pacientes de quimioterapia.
Embora sejam modificados, muitos semi-sintéticos são regulamentados e utilizados em contextos médicos controlados, o que oferece um perfil de segurança mais confiável. De qualquer maneira, Dr. Ricardo alerta sobre a ‘zona cinzenta’, que abarca aqueles canabinoides sintéticos que têm como origem um canabinoide legal de venda livre nos EUA; no caso CBD.
“Mas que através de transformações físico-químicas o CBD é modificado para Delta-8-THC e seus isômeros (semi-sintético).
Eles têm ação similar as observadas com THC natural, contudo, tendem a ser menos potentes. Apesar disso, os efeitos adversos com produtos com estes canabinoides sintéticos são mais frequentes do que com derivados naturais da Cannabis”, explica.
Canabinoides Sintéticos
São canabinoides completamente criados em laboratório, sem qualquer ligação direta com a planta de Cannabis.
Podem ser muito mais potentes que os canabinoides naturais e, devido à sua estrutura química diferente, podem se ligar com mais força aos receptores do sistema endocanabinoide, resultando em efeitos mais intensos. Podem ser de uso seguro como medicamentos e com acompanhamento médico, como o Pea, o Dronabinol e o Nabilona.
Porém, podem ser drogas como as drogas K que apresentam riscos graves à saúde devido à toxicidade, sendo frequentemente associados a reações adversas severas e imprevisíveis.
Principais diferenças
- Naturais: Extraídos diretamente da Cannabis, com efeitos previsíveis e bem documentados.
- Semi-Sintéticos: Modificados a partir de canabinoides naturais.
- Sintéticos: Criados inteiramente em laboratório.
Atenção, informação e acompanhamento médico são imprescindíveis
Por fim, o uso de canabinoides sintéticos pode ser seguro quando utilizado da forma correta e sempre com a devida supervisão de um médico. O importante é estar informado sobre o produto e os possíveis benefícios para o tratamento.
𝗜𝗺𝗽𝗼𝗿𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲: O acesso legal à Cannabis medicinal no Brasil é permito mediante indicação e prescrição de um profissional de saúde habilitado. Caso você tenha interesse em iniciar um tratamento com canabinoides, consulte um profissional com experiência nessa abordagem terapêutica.
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