Quando o pedido foi feito, o paulista Pedro Pierro recusou imediatamente. A paciente era uma criança de quatro anos na UTI e os pais queriam que ele levasse canabidiol para dentro do hospital e a medicasse. Para fazê-los recuar, respondeu que podiam perder a guarda da filha. Bastava que alguém os denunciasse ao Conselho Tutelar. E, afinal, pensou, estavam “dando droga para uma criança”. Isso foi em 2014. Hoje, o médico, especialista em Neurocirurgia pela Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto, é um dos principais prescritores de canabidiol do Brasil.
A criança da história sofria de epilepsia refratária e estava internada após um surto de pneumonia e crises convulsivas. No entanto, depois que saiu da UTI, Pierro foi visitá-la no quarto e descobriu que tinha melhorado. Os pais se aproveitaram da privacidade do quarto para aplicar o óleo de canabidiol. E sendo assim, as crises rapidamente regrediram.
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A história marcou Pierro, que começou a procurar informação sobre o CBD. Não havia em lugar nenhum, menos ainda do que hoje. As associações médicas não davam muita atenção para o assunto e havia menos associações e grupos especializados. “Bati cabeça durante um ano”, conta Pierro. Só foi descobrir o caminho fora do Brasil, quando compareceu a um evento especializado, o Cannatech Congress, em Tel-Aviv, Israel. De lá, visitou a Universidade Hebraica de Jerusalém. Eles também não tinham cursos, mas Pierro encontrou muita gente que podia esclarecer suas dúvidas.
O cenário Brasil
De volta ao Brasil, seguiu estudando, agora com foco e rumo. Mais um ano, em 2018, e já era um dos principais prescritores brasileiros. Foi quando resolveu ajudar a corrigir o problema da comunidade médica. Se não havia fonte de informação, Pierro criaria uma. Com alguns amigos que conhecera em Israel, fundou o Sechat, um site de notícias dedicado à maconha medicinal e aos negócios da Cannabis. Com outros amigos, fundou o Centro de Excelência Canabinoide (CEC) e ainda The Green Hub, primeira aceleradora de Cannabis Medicinal do Brasil. O médico que era “visceralmente”, como ele diz, contra qualquer medicamento relacionado à Cannabis, se torna um de seus maiores divulgadores.
Foi uma mudança que já vinha sendo construída, mas longamente esperada. O primeiro estudo para epilepsia no mundo utilizando Cannabis foi feito no Brasil nos anos 1980. Mas por décadas o tema foi quase ignorado pela sociedade.
Hoje, como Pierro, a comunidade médica passou da negação total para a busca ostensiva. A nova perspectiva se fez sentir nos pacientes que chegavam ao consultório de Pierro e no CEC. “No começo, a gente tinha que convencer a pessoa de que era uma opção terapêutica”, diz Pierro. Era um trabalho de convencimento. “Hoje me procuram pensando na prescrição. Muitas vezes tenho que convencê-las que a melhor indicação não é produto à base de Cannabis”. No fim, o que importa é o melhor medicamento para o paciente.
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