O médico psiquiatra Daniel Munhoz Ribeiro concluiu sua formação na universidade com a maior produção científica mundial sobre canabidiol: a USP. E é principalmente na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, onde recebeu o diploma, que atuam quatro dos dez pesquisadores com mais publicações científicas sobre o tema, Francisco Silveira Guimarães, Antonio Waldo Zuardi, José Alexandre Crippa e Jaime Hallak
A residência, concluída ano passado, ao lado de referências no assunto, como um dos pioneiros, Antonio Zuardi, que pesquisa sobre o canabidiol desde a década de 1970, acabou influenciando Munhoz.
“Via o uso em patologias que têm resistência ao tratamento usual. Um hospital que recebe casos graves, que usa o CBD, com resultado positivo em caso refratário”, ponderou.
“Aí você começa a pensar no uso como uma possibilidade. Não como alternativa, mas primeira escolha de tratamento. Se respondem em casos refratários, a gente supõe que poderia ter benefícios em casos mais leves.”
Crescimento e aceitação da Cannabis
Não que tenha sido um processo natural. O Departamento de Neurociências, ao qual integram psiquiatria e neurologia, é chefiado por José Alexandre Crippa, já citado como um dos principais pesquisadores sobre canabidiol do mundo. Mesmo assim, medicamentos à base de Cannabis estão longe de serem unanimidade.
“Dentro do nosso departamento, tem professora que fala que não existe (benefício no uso da Cannabis). Que o certo é dar antipsicótico, tratar rápido. Estamos falando de medicações psiquiátricas com efeitos colaterais que às vezes são intoleráveis”, conta Munhoz. “Mas na psiquiatria alguns aderiram. Na neurologia, não tem nenhum docente vinculado.”
Principalmente no Brasil, a evolução do conhecimento sobre os potenciais uso da Cannabis no tratamento de diversas doenças é mantido pelo intuito de poucos desbravadores. Tanto nas ciências, quanto no dia a dia do tratamento de pacientes.
“Aqui no Brasil tem esse atraso A gente sabe que tem um trajeto muito grande. Eu vi a dificuldade que os professores tiveram para conseguir o produto para dar início às suas pesquisas”, conta o doutor, que agora busca abrir caminho para a Cannabis Medicinal em Bauru, onde passou a atender.
Preconceito com Cannabis medicinal
“É um caminho que não é novo, mas tem muito preconceito quando se fala de maconha. fala do uso recreativo, do filho que fuma maconha, mas não é esse o contexto. A maioria das medicações a gente extrai de alguma planta”, afirma. “Muita gente ainda é contra. Normalmente é 8 ou 80. Mas esquecem que quem busca para o uso recreativo já está usando. Quem não tem acesso são os pacientes que precisam. Nunca ouvi falar de uma mãe, por mais desesperada, que tenha dado um cigarro de maconha para o filho. Quem quer por medicina, não vai por esse caminho.”
Enquanto isso, mesmo em seu curto período de carreira, coleciona testemunhos que atestam os benefícios da Cannabis. “Fui atender um paciente com Alzheimer em uma clínica de idosos. Quando receitei o CBD, os enfermeiros acharam meio suspeito”, lembra. “Quando viram o resultado, começaram a divulgar para mais algumas famílias.”
Médico prescritor de Cannabis no interior de São Paulo
Por ser um dos poucos que atende na cidade do noroeste do estado de São Paulo prescrevendo Cannabis medicinal, uma grande variedade de casos acaba caindo em suas mãos.
“O principal volume de paciente é com doença neurodegenerativa, e vejo resultados fantásticos em relação ao comportamento. O que não dormia, passava o dia agitado, agressivo, está se organizando, voltando a ter a rotina do sono, de tomar banho, dos cuidados pessoais. Conseguindo interagir um pouco melhor com a família.”
Ele explica que, como os fitocanabinoides trabalham na redução da inflamação cerebral e melhora a neuroplasticidade, faz neurônios que estavam querendo parar de funcionar, sejam reativados.
“Muitos pacientes tomavam altas doses de medicamentos que não alcançavam resultados, e ainda traziam vários malefícios, agora estão conseguindo uma qualidade de vida melhor somente com o cbd.”