A partir de hoje, para realizar a compra de Zolpidem nas farmácias do Brasil é imprescindível a apresentação da receita azul. O medicamento passa a ter um controle maior, e um monitoramento, devido ao risco potencial de causar dependência.
A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aconteceu no dia 15 de maio. E teve como objetivo principal aumentar o controle sobre a prescrição e receita do medicamento Zolpidem. Porém, ainda no mês de agosto era possível adquirir o medicamento com receitas de controle especial (cor branca) emitidas até o dia 31 de julho, devido ao prazo de validade (30 dias).
A partir de agora, qualquer medicamento contendo esse composto deverá ser prescrito através da Notificação de Receita B (azul), pois ele se encontra na lista de substâncias psicotrópicas, dentro da lista de substâncias controladas no Brasil.
A mudança para a receita azul foi implementada por conta de uma preocupação da Anvisa sobre o uso irregular e abusivo do Zolpidem. De acordo com a análise da Agência, houve um aumento no consumo dessa substância e cresceram os relatos de efeitos adversos relacionados ao uso.
“Há relatos de que o Zolpidem estava sendo prescrito de uma maneira indiscriminada. Talvez uma uma prescrição não tão controlada dessa substância que teoricamente você teria que ter uma indicação psiquiátrica para uso. Então houve um aumento muito significativo do número dessas receitas. E com isso houve muitos efeitos colaterais, e há um risco no uso do Zolpidem. Logo, a Anvisa tomou a decisão de limitar essa prescrição através da receita azul, onde existe um controle e monitoramento”, pontua Dr. Alexandre Assuane, CRM: 213170.
Zolpidem: um medicamento com maior potencial para dependência e abuso
Com a mudança, o Zolpidem deixa de fazer parte da lista de substâncias que exigem a receita C1 para requerer a receita do tipo B1. Na prática, a Anvisa passa a reconhecê-lo como um medicamento com maior potencial para dependência e abuso.
“É uma tentativa de delimitar um pouco mais essa prescrição. Pacientes têm que estar bem orientados para usar a medicação. É necessário um trabalho fundamentado, com base científica em qualquer tratamento e para insônia não é diferente”, concluiu Dr. Assuane.
Mudando a compreensão sobre o Zolpidem
Ainda neste sentido, o Dr. Felipe Neris, explica que houve uma mudança na percepção dos médicos sobre o Zolpidem com o passar do tempo.
“Quando surgiu o Zolpidem, eu estava na faculdade ainda. Lembro que o meu professor de Psiquiatria falava: ‘caso de insônia, pode passar Zolpidem. Não vicia, a ação é rápida, tem poucos efeitos colaterais’. A gente acreditava que era o perfil da droga naquele momento. Acontece que, com o passar dos anos, a gente foi vendo casos de pacientes que realmente abusam. Eu conheci pacientes que começaram a acordar no meio da noite para tomar outro Zolpidem. Outra coisa que a gente não imaginava e com que fomos nos deparando é a piora de algumas parassonias. Então, se o paciente tem algum tipo de sonambulismo, muitas vezes acaba piorando com o uso.”
O Zolpidem no nosso corpo
Com um alto potencial para dependência e tolerância, o Zolpidem chegou ao Brasil na década de 1990, como um medicamento para o tratamento da insônia a curto prazo. A recomendação é de que o uso desse remédio não ultrapasse o limite de três a quatro semanas, para lidar com distúrbios do sono.
No entanto, alguns pacientes começaram a usá-lo por períodos mais prolongados que o indicado, levando algumas pessoas à condição de dependentes. Do mesmo modo, se tornou popular o uso do Zolpidem em outros contextos, como para aliviar a ansiedade e o estresse.
Assim, cresceu a ocorrência de efeitos colaterais desencadeados pelo uso do medicamento, com problemas de memória, alucinações e sonambulismo, entre os mais comuns.
No nosso corpo, o Zolpidem age aumentando a atividade de um neurotransmissor inibitório conhecido como GABA. Assim, ele produz efeitos hipnóticos e sedativos, que contribuem para induzir o sono.
O que muda para os médicos e para os pacientes
Aqui no Brasil, antes da decisão da Anvisa, o Zolpidem era um fenômeno de vendas. A Agência estima que, em 2022, os brasileiros adquiriram mais de 21 milhões de caixas do remédio. Os números astronômicos de vendas podem passar a impressão de que se trata de um produto inofensivo, porém o Dr. Felipe nos contou que a decisão da Anvisa deve mudar esse entendimento.
“Para os pacientes, eu acho que aumenta a conscientização sobre o uso da medicação e o potencial de abuso. Dificultar o acesso ao Zolpidem aumenta a conscientização do paciente que está utilizando a medicação. Ele começa a notar que não está usando uma medicação inerte”.
Igualmente, agora é necessário um cadastro do médico para ter essa receita. “O profissional médico recebe um talão, é um controle especial e é enumerado de receitas”, completa Dr. Assuane.
Existe a possibilidade de trocar Zolpidem por produtos com Cannabis para tratar a insônia?
Produtos derivados da Cannabis para uso medicinal vêm ganhando um crescente interesse para o tratamento da insônia e outros distúrbios do sono. Os componentes da planta podem ajudar a dormir, atuando sobre alguns neurotransmissores diferentes daqueles nos quais o Zolpidem atua.
Estudos vêm destacando o potencial dos fitocanabinoides, graças a sua grande eficiência em promover um sono reparador, sem provocar efeitos colaterais graves. Há, inclusive, ensaios clínicos, afirmando que o CBD pode ser superior à melatonina para casos de insônia.
Neste sentido o Dr. Felipe destacou que a planta pode oferecer muitas possibilidades com os fitocanabinoides e os produtos derivados da Cannabis.
“A gente tem, hoje, potencial para tratar insônia com Canabidiol isolado, mas eu recomendo mais o full spectrum, que tem um pouquinho de THC junto, 0,3%, que ajuda a induzir mais o sono. Há também o Canabinol, que é o CBN. Ele não tem tanto efeito psicoativo quanto o THC e não altera a estrutura do sono. Ele induz o sono de uma maneira mais light do que o Zolpidem. A gente tem o CBG, que, em doses baixas, consegue induzir o sono. Então, você pode trabalhar tanto CBD full spectrum + CBN; CBD full spectrum + CBN + CBG.”
Entretanto, o Dr. Felipe ressaltou que o Delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) também se inclui nesse repertório de possibilidades para lidar com a insônia. O canabinoide psicoativo da Cannabis seria uma alternativa ao Zolpidem para alguns casos pontuais.
“O THC, eu vejo, a curto prazo, sendo o mais eficaz para substituir o Zolpidem. Eu gosto de deixar o paciente bem controlado com o CBD e ele usa o THC em pontos específicos. Por exemplo, numa sexta-feira depois de uma semana corrida, usar uma dose de 10 mg de Delta-9-THC geralmente é o suficiente para deixar o paciente dormir bem e acordar descansado.”
Porém, além da abordagem com medicamentos, há outras atitudes que podemos tomar para combater distúrbios do sono. Essas estratégias podem complementar os efeitos dos remédios, evitar altas doses e consequentemente mitigar os efeitos colaterais.
Não existe solução mágica, apenas algumas dicas valiosas:
- Reduzir gradualmente as luzes de casa, conforme vai chegando o horário de dormir;
- Evitar a exposição excessiva a telas, como smartphones, tablets e televisores antes de dormir;
- Se foi para cama e não dormiu, tente sair da cama e fazer alguma atividade que dê sono, como ler um livro;
- Evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de nicotina perto do horário de dormir.
O CBD pode atuar no corpo por meio do sistema endocanabinoide, que regula funções como o sono, o apetite e o humor
Pesquisas contemporâneas sugerem que o CBD pode ser eficaz no tratamento da insônia, pois ele pode ajudar a reduzir a ansiedade, a dor e a inflamação, que são fatores comuns que contribuem para a insônia. Além disso, o CBD pode ajudar a regular o ritmo circadiano, que é o relógio interno do corpo que regula o sono e a vigília.
Porém, não é de hoje que a Cannabis é utilizada para melhorar a qualidade do sono. Desde o século XIX, o neurologista britânico sir J. Russell Reynolds já receitava a planta para tratar insônia. Ele inclusive escreveu, em 1890, um artigo na revista Lancet — um dos periódicos científicos mais antigos e prestigiosos do mundo — relatando como o uso de extratos da planta eram efetivos no combate à insônia, especialmente à “insônia senil”.
Para saber se a Cannabis pode ser uma opção no tratamento da insônia, é imprescindível o acompanhamento de um médico especializado
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