Faleceu nesta quarta-feira (16), aos 90 anos, o professor Dr. Elisaldo Carlini, pioneiro e principal cientista brasileiro sobre a Cannabis no Brasil. O médico estava internado na UTI do Hospital Albert Einstein, na capital paulista.
Carlini deixa esposa, seis filhos e seis netos. A informação do falecimento foi confirmada por uma das filhas ao Cannabis & Saúde. O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, fundado pelo cientista, divulgou nesta tarde a seguinte nota.
O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) manifesta profundo pesar pelo falecimento do professor doutor ELISALDO LUIZ DE ARAUJO CARLINI, ocorrido nesta quarta-feira, 16 de setembro de 2020.
Médico, pesquisador, fundador do CEBRID e professor emérito da UNIFESP, Prof. Carlini parte aos 90 anos, mas deixando um legado de mais de 50 anos dedicados ao estudo de drogas psicotrópicas no Brasil.
Em especial, seus trabalhos sobre a maconha medicinal, colocou o CBD no foco da ciência brasileira e do mundo para o tratamento de convulsões, epilepsia, esclerose múltipla e dor crônica.
A memória do prof., hoje símbolo da pesquisa canábica no Brasil, permanecerá viva e sua herança científica norteando nossa ciência brasileira. Infelizmente não há como dimensionar a quantidade de pessoas ajudadas por seus esforços; não só como pesquisador, mas também como amigo.
O CEBRID se solidariza com familiares e amigos, e expressa as mais sinceras condolências pela inestimável perda.
Elisaldo Carlini nasceu em Ribeirão Preto em 09/06/1930. Se graduou em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo e mestrado em Psicofarmacologia na Universidade de Yale. Trabalhou no Brasil e no exterior em pesquisas em psicofarmacologia e foi membro de diversos conselhos nacionais ou internacionais relativos à questão de uso de drogas.
Considerado um dos maiores especialistas em entorpecentes do Brasil, Carlini estudou os efeitos da maconha e de outras drogas em nível experimental durante toda sua vida profissional. Na década de 1980, comprovou a eficácia do canabidiol (CBD) em reprimir convulsões de pacientes epiléticos. No ano passado, foi selecionado como pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Carlini era aficionado pelas plantas medicinais. Em 1952, aos 22 anos, iniciou os estudos na Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). A carreira dele começou a ganhar dimensão quando conheceu o professor de Farmacologia José Ribeiro do Valle, no curso de Medicina. Ribeiro do Valle foi o primeiro brasileiro a trabalhar cientificamente com a maconha, utilizando animais de laboratório.
Em 1981, o grupo do professor Elisaldo Carlini na Unifesp publicou no J Clin Pharmacol, respeitado periódico científico internacional, um estudo duplo cego, randomizado, incluindo uma pequena amostra de oito pacientes, comparados com sete controles, o efeito benéfico do CBD para controle de crises convulsivas.
O estudo contou com uma equipe da Universidade Hebraica de Israel, incluindo o químico Raphael Mecholaum, o cientista que decifrou e isolou a estrutura do THC e do CBD em 1963 e 64.
Entre 1995 e 1997, esteve à frente da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, quando organizou os primeiros eventos sobre a Cannabis medicinal no Brasil. Na época, ele propôs a criação de uma “Anvisa da Cannabis”, mas o projeto que nunca saiu do papel, segundo ele, por desprezo da classe médica com o tema.
Em 2018, vivenciou uma situação constrangedora. O idoso de 88 anos foi chamado pela polícia a prestar depoimento por suspeita de apologia às drogas. O documento pedia que ele fornecesse à polícia cópias de uma gravação feita durante o simpósio “Maconha: outros saberes”, organizado pelo professor na Unifesp no ano anterior.
Em julho desde ano, a contribuição do cientista foi destacada pelo New York Times.
Uma campanha nas redes sociais defende que o nome de Elisaldo Carlini batize o Projeto de Lei 399/15, que trata do plantio de Cannabis para fins medicinais no Brasil. A iniciativa é de diversas associações de pacientes e tem o objetivo, além de homenagear o cientista, o de pressionar os deputados federais pela aprovação do PL. Para assinar a proposta, basta acessar a plataforma Change.org.