No dia do Pediatra realizamos a live “Cannabis na pediatria” abordando os usos, as indicações e contraindicações do uso da Cannabis em crianças com a Dra. Vanessa Matalobos.
Amor pela pediatria
“Sou pediatra desde 1997 e tenho muito prazer e muito amor de trabalhar com as crianças. E falam que os pediatras são os primeiros contatos que ela tem. E hoje comemoramos o nosso dia e gostei muito da homenagem porque a pediatria é uma especialidade que abre o caminho para uma triagem de outras doenças. Então ela é de suma importância na vida de qualquer ser que venha ao mundo e a gente tem que fazer isso com excelência, porque atrás de uma criança tem um pai e tem uma mãe. Eu falo que tratar de uma criança não é tratar de uma criança. Eu falo que tratar de uma criança é tratar de uma família. Hoje eu não tenho 700 pacientes, eu dou cobertura para 700 famílias”, falou logo de cara na live a Dra. Vanessa sobre seu trabalho com os pequenos.
Usar Cannabis em crianças é seguro?
A primeira pergunta da live trouxe uma questão que ainda gera insegurança em familiares que querem começar um tratamento com canabinoides: afinal, há segurança no uso da Cannabis em crianças?
“Sim. É muito seguro usar Cannabis em crianças. Na realidade as pessoas têm aquele tabu, aquele preconceito, né? Que é muito grande ainda. Até dos colegas de medicina. As pessoas não sabem que a 2.700 anos de Cristo já existiam relatos de uso da Cannabis medicinal e por isso que é uma planta tão segura. Há segurança e muita. O tratamento com Cannabis é diferente da alopatia, né? É o paciente que mostra como é o tratamento. A medicina canabinoide é totalmente diferente, por isso que ela tem que ser prescrita pelo médico, por isso que ela tem que ser acompanhada pelo médico prescritor até para dar para o tratamento dar certo. As pessoas acham também que só existe um tipo de óleo. A gente tem que consultar o paciente e a gente tem que saber que existem vários tipos de óleo. A medicina canábica não é assim simples. É um acompanhamento muito mais de perto do que uma medicina alopática. Não é assim. Tem que ter um acompanhamento de perto dos pacientes, às vezes eu tenho um acompanhamento semanal com meus pacientes”, respondeu a Dra. Vanessa.
CBD associado ao THC é contraindicado a crianças?
“Isso é uma polêmica muito grande. Aqui no Brasil é permitido o uso do óleo full spectrum com CBD e o THC a menos 0,3% de concentração. Mas eu Vanessa, gosto do THC. Brinco que para mim o THC e o CBD são iguais Batman e Robin: os dois separados vão combater o crime, mas os dois juntos vão combater muito melhor. O THC tem que ser respeitado pelos efeitos psicoativos, mas temos o CBD que minimiza os efeitos psicoativos. E tem doenças que o THC é indispensável para ser usado principalmente em pacientes oncológicos, principalmente em pacientes com dor crônica. Então o THC não é contraindicado para criança. É claro que a gente tem que respeitar a dosagem determinada a nível Brasil. Mas o THC não é o vilão, o THC para mim é bonzinho quando usado com parcimônia, respeitando o sistema endocanabinoide e a mente daquele paciente”, esclareceu.
Principais patologias que a Cannabis pode tratar na pediatria
“Pela Sociedade Brasileira de Pediatria eles liberaram a parte das epilepsias refratárias. Sabemos que tem uma gama de pacientes neurológicos que têm aumentado muito, até por conta do autismo. O TEA tem sempre algum outro transtorno associado que a Cannabis vai tratar tudo isso. E a disbiose intestinal também. Não esquecendo que os autistas, principalmente eles, têm muita disbiose intestinal. E a Cannabis ajuda muito na parte da disbiose. Queria abrir um alerta para os pais de crianças e adolescentes, pois eu tenho percebido um aumento muito grande de transtornos psicológicos e psiquiátricos em crianças e adolescentes. Transtornos principalmente de Borderline. Também trato com Cannabis, assim como casos de esquizofrenia, câncer cerebral. E na parte de pela também. Este ano no Congresso Brasileiro de Dermatologia pela primeira vez, falei da Cannabis na pele. Apresentei um dos meus casos. Então patologias de pele como psoríase, como dermatite, dermatite atópica. Estas doenças de pele podem ser tratadas”.
Importância do médico prescritor acompanhar o tratamento da criança
“Temos que alertar também os pais que queiram fazer tratamento com Cannabis: procurem fazer o tratamento com um médico prescritor e que não saiam medicando as crianças. Tem que ter esse cuidado de que existem vários tipos de óleos, de que existem vários pacientes tomando outros remédios também, né? E às vezes o desmame de alguns remédios se faz necessário pela interação medicamentosa. É só um alerta de estar sempre com um médico prescritor por perto. E sendo ele quem vai acompanhar o paciente para o tratamento ter exito. Porque às vezes o paciente faz sem prescrição médica e dá errado, mas dá errado porque não está fazendo certo com um médico prescritor”.
Contraindicações em relação ao uso da Cannabis em crianças
“Temos que te cuidado com algumas crianças com distúrbios de coagulação. E algumas cardiopatias congênitas também que possam causar alguns distúrbios de coagulação. Não é uma contraindicação absoluta. Mas é uma contraindicação relativa. Absoluta ainda não não há relato a não ser algo pela idade. Mas eu tenho pacientes que se tratam com Cannabis desde um ano de vida para síndromes raras epiléticas. E temos bons resultados.
Inclusive vai acontecer uma coisa muito boa para as doenças raras, porque o presidente do centro de doenças raras me chamou para uma parceria: fazer um ambulatório para as crianças com doenças raras e Cannabis medicinal.
Então está para inaugurar um projeto legal e as crianças serão muito beneficiadas. Porque vão poder também ter o acesso. Temos que ter mais conhecimento, mais divulgação para as pessoas terem menos preconceito. E não terem medo porque ninguém vai medicar alguém sem conhecer o seu doente, sem antes fazer uma anamnese bem feita. E estar a par do que é o sistema endocanabinoide de cada um”.
Benefícios da cannabis no tratamento do autismo
“Para as pessoas entenderem mais ou menos como age o sistema endocanabinoide. Gosto de falar de uma forma bem lúdica para o paciente entender. Todos nós temos esse sistema endocanabinoide que foi um dos últimos sistemas descobertos, através do neurocientista Raphael Mechoulam, de Israel. Onde ele viu que nosso cérebro regula a produção de vários neurotransmissores. E esses neurotransmissores são todos feitos no nosso sistema endocanabinoide. E os autistas têm uma falha neste sistema endocanabinoide. E eles não se regulam, por conta desta falta de produção deste sistema endocanabinoide competente produzindo a quantidade suficiente. Falo que é como se fosse um carro e o tanque de gasolina fosse o sistema endocanabinoide. Esse tanque de gasolina está vazio. Hoje é como se eu pegasse um paciente que fosse um carro e fosse do Rio a São Paulo com ele sem o mostrador de gasolina estar funcionando.
Pois hoje não se tem nenhum recurso tecnológico que dose no sangue quanto cada um produz de anandamida e de 2AG. De serotonina até tem, mas dos canabinoides em si, ainda ninguém consegue dosar no sangue de ninguém. E o autista a gente trabalha com um completar desse tanque de combustível, que é o sistema endocanabinoide vazio. Onde a gente vai titulando a dose e a gente vai regulando esse sistema. Para esse sistema voltar a produzir esses neurotransmissores, que são neurotransmissores que regulam tudo que a gente faz: regula nosso intestino, nosso sono, nossa raiva, nosso amor, que regula tudo!
E a Cannabis vai fazer uma homeostase neste organismo desse paciente. Onde a gente ao completar esse tanque o paciente vai se auto regular melhor. Tem pacientes não verbais que começam a falar. Inclusive a mãe de um paciente foi no meu consultório depois de um ano e quatro meses de tratamento. Ele me falou ‘Doutora meu filho foi na apresentação da Escola e ele foi a sensação, ganhou a bicicleta da escola se apresentando como Chacrinha. Ele está com escrita, desenhando”, e a mãe maravilhada com o resultado.
Então a gente percebe que quando esse sistema endocanabinoide está completo, o paciente se auto regula para tudo que tiver desregulado. E não só a criança, como o adulto, como qualquer animal, já que agora está sendo usado na área da veterinária também. Pois regula tudo, o que tiver fora do eixo vai entrar no eixo.
E não é dizer que uma criança vai deixar de ser autista, mas ela vai ter um melhor controle dos seus impulsos e dos seus sentidos. E com isso, vai ter uma qualidade de vida muito melhor. Proporcionando uma qualidade de vida melhor também para quem cuida.
A socialização também melhora demais desses pacientes. Hoje não vejo outro tratamento mais eficaz do que o tratamento com Cannabis para o TEA”.
Veja live da Dra. Vanessa Matalobos aqui.
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