Cobertura especial da jornalista Natália Padalko
“Por uma questão de classe, raça, gênero, diversidade e saúde”. Antes de tudo, esse foi um dos destaques da organização da Marcha da Maconha, o ato popular que já faz parte da agenda de eventos de SP desde 2008.
Neste ano, a programação teve início às 14h20, no vão livre do MASP, com um público estimado de 150 mil pessoas. Após as intervenções iniciais, às 16h20, a manifestação seguiu pela Avenida Paulista, sentido Consolação, passando pela Praça Roosevelt, Avenida Ipiranga e, por fim, chegando à Praça da República.
Nesta edição, a Marcha da Maconha teve como ponto focal o debate de temas essencialmente atrelados à injustiça social, que é perpetuada pela guerra às drogas. Além disso, também se engfatizou as desigualdades raciais, de gênero, a luta antimanicomial e pela diversidade.
Para Luiz Fernando Petty, que faz parte da organização do ato, a expectativa dessa primeira edição pós-pandemia era enorme. “Esse ano viemos com tudo. Foram seis meses de organização, nove reuniões e três eventos de formação – um deles na Cracolândia”, conta.
Petty conta ainda que o eixo temático Antiproibicionismo por uma questão de classe – Reparação por necessidade, faz uma alusão à música Monólogo ao Pé do Ouvido, do cantor e compositor pernambucano Chico Science, composta em 1994.
“Essa letra dialoga com os corpos que mais sofrem na guerra contra as drogas. A questão de classe é bem fundamental e decidimos pelo tema da reparação para a edição deste ano, um conceito do movimento antirracista”, conclui.
Bloco do uso terapêutico foi destaque na Marcha da Maconha
Quem esteve na linha de frente da Marcha foi o bloco terapêutico. A ala foi formada por pacientes e familiares, que fazem uso medicinal da Cannabis.
Separados por um cordão de isolamento por questões de segurança, a ala foi acompanhada durante todo o trajeto pela Kombi do “É de Lei”, que ofereceu suporte para pessoas com dificuldades de locomoção.
O deputado estadual mais votado do Estado de São Paulo, Eduardo Suplicy, também esteve presente na ala terapêutica da Marcha.
Recentemente, Suplicy também esteve no relançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial da Alesp, que tem como principal objetivo consolidar uma política pública que garanta o acesso à Cannabis no Estado.
Caravanas e Blocos da marcha da maconha
Além disso, a Marcha contou com a participação de diversos movimentos sociais, como os Guarani Mbya, da Terra Indígena Jaraguá, em luta contra o PL 490/ Marco Temporal. Do mesmo modo, estiveram presentes ainda residentes, ativistas e trabalhadores da redução de danos, que atuam na Cracolândia, no centro de São Paulo. Diretamente do Rio de Janeiro, o grupo da Marcha das Favelas também marcou presença, no que podemos chamar de uma espécie de “intercâmbio ativista”.
Do quintal ao SUS
Compondo a Ala Terapêutica, estava a ativista Cidinha de Carvalho, mãe da jovem Clárian, portadora da Síndrome de Dravet. Atualmente, Clárian usa produtos à base de Cannabis para tratar a sua condição.
Antes que o tratamento com o óleo de Cannabis iniciasse, Clárian não interagia e convulsionava por mais de uma hora. Após alguns meses de tratamento, apresentou uma diminuição de 80% nas crises e uma grande melhora cognitiva.
Cidinha foi a primeira mãe de São Paulo a ter o direito judicial de cultivar a planta e, hoje, atua como presidente da CULTIVE – Associação de Cannabis e Saúde, além de ser membro da PBPD – Plataforma de Política de Drogas.
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Até o momento, aqui no Brasil, para utilizar a Cannabis no tratamento de saúde é imprescindível uma recomendação médica, feita por profissionais habilitados.