No Brasil, 3 milhões de adultos fazem uso frequente de maconha, conforme o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD). É a droga ilícita mais consumida, tanto no Brasil como no mundo. No entanto, as informações sobre usuários frequentes fora de contextos clínicos ainda são escassas.
Um estudo realizado por quatro pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicado no Journal of Psychiatric of Research trouxe um pouco de luz para esse ambiente ao levantar dados sobre qualidade de vida e uso abusivo da erva. As informações foram divulgadas pela Unifesp no dia 26 de janeiro.
Foram entrevistados 6.620 usuários de maconha. Os resultados mostram que 17% dos participantes se auto classificaram como usuários ocasionais, 65% como usuários habituais e 7,7% se consideraram usuários disfuncionais, que são aqueles indivíduos que percebem problemas com o uso da erva.
Os participantes eram em maioria homens adultos com ao menos o Ensino Médio, empregados e sem filhos. Os resultados demonstram que os entrevistados tiveram uma autopercepção sobre padrões de uso de Cannabis associados à ansiedade, depressão, qualidade de vida e o conceito subjetivo de bem-estar.
Segundo os pesquisadores, o estudo buscou testar a hipótese de que a autopercepção do uso de Cannabis é um fator associado à qualidade de vida e à saúde mental dos usuários.
Enquanto os usuários habituais tiveram melhores pontuações no quesito qualidade de vida, os usuários disfuncionais foram mais afetados negativamente na questão de saúde mental. A baixa qualidade de vida, sintomas de depressão ou de ansiedade foram mais prevalentes entre os usuários disfuncionais. Para um dos autores do projeto, o número baixo de usuários disfuncionais mostra que as políticas públicas para drogas devem ser revistas.
“É compreensível que haja mais interesse em conhecer os riscos e agravos associados ao uso de drogas do que estudar os aspectos não-clínicos desse uso. No entanto, conhecer as características de pessoas que usam drogas e não vivenciam problemas decorrentes desse uso pode ser um caminho para desenvolver estratégias para a prevenção ou tratamento do uso problemático”, Explicou Paulo Rogério Morais, pesquisador e docente associado ao Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
Para o pesquisador, o estudo é importante porque “a grande maioria dos trabalhos científicos publicados sobre drogas se baseia em experiências mal sucedidas, onde o uso de drogas leva a consequências desastrosas. Mas não é isto o que ocorre com a imensa maioria dos usuários. Nós, pesquisadores, deveríamos parar de estudar unicamente as drogas que as pessoas usam e passarmos a investigar as pessoas que usam drogas. Os resultados são surpreendentes!”
O pesquisador pondera, no entanto, que o estudo não permite concluir que o uso regular de maconha aumente a qualidade de vida. Mas sim que os resultados apontam para uma possível relação positiva entre o uso de erva e a qualidade de vida dos usuários avaliados, exceto no caso daqueles que percebem problemas relacionados ao uso da droga.
Cannabis pode combater a dependência química nela mesma
O fato é que a maconha de uso recreativo consumida no Brasil, além de ainda ser ilegal, o que pode trazer traumas e problemas com a polícia, ainda vem repleta de contaminantes, como fungos, metais pesados e urina, conforme contamos nessa reportagem. Claro que é um problema causado pela proibição, mas buscar um fim medicinal através desta maconha prensada é bastante arriscado. Recentemente, flores de padrão medicinal começaram a chegar ao Brasil, conforme noticiamos aqui.
No entanto, o portal Cannabis & Saúde salienta que o uso medicinal da Cannabis deve vir com acompanhamento médico. Inclusive é só através de uma receita médica que é possível ter acesso legal a esses produtos no Brasil.
A pesquisa da Unifesp mostrou que uma pequena parcela dos usuários de maconha relata uso abusivo, apenas 7,7%. Mas a ironia é que a própria Cannabis pode ser uma aliada para a dependência química nela mesma.
Como diz o ditado, “a diferença entre veneno e remédio é a dose”. Cabe frisar que dependência química é uma doença reconhecida, cujo código CID é o F-19.
O canabidiol (CBD), substância não-psicoativa da Canabis, impede a recaptação e destruição do GABA, um neurotransmissor responsável por “frear” os impulsos nervosos. Nesse caso, depois que ele é liberado e exerce seu efeito, é reabsorvido e decomposto pelo neurônio.
É aqui que o canabidiol age, inibindo a reabsorção do GABA, fazendo com que ele exerça seus benefícios por períodos mais prolongados.
Assim sendo, o tratamento para dependência química à base de CBD funciona por meio de indicação médica.
Depois de uma ou mais consultas e eventuais exames, o dependente recebe a prescrição do extrato mais adequado ao seu perfil.
Desse modo, ele passa a administrar doses diárias conforme indicação do especialista, podendo ou não aumentá-las dependendo da necessidade.
Benefícios terapêuticos do CBD
O CBD é um poderoso aliado por ser naturalmente tolerado pelo nossos sistema endocanabinoide, uma complexa rede de transmissores que absorve os compostos da Cannabis.
Por isso, em geral ele apresenta poucos efeitos adversos, principalmente se comparado com medicamentos usados tradicionalmente para controle da dependência química.
A dosagem varia bastante, dependendo do estágio em que a adicção está e de critérios como peso, idade e histórico de doenças do paciente.
De qualquer forma, vale ressaltar que o CBD, sozinho, não faz o “milagre”.
Afinal, a dependência química também tem um forte fator social, o que demanda outros tipos de terapia e a presença da família em todos os aspectos.
Como iniciar um tratamento com CBD?
O portal Cannabis & Saúde, além de ser a sua fonte de informações sobre a medicina canabinoide, promove também a conexão entre médicos prescritores de Cannabis e pacientes em busca de tratamento. Nossa plataforma de agendamento de consultas já conectou mais de 3 mil pessoas a profissionais de saúde. Se você busca tratamento para dependência química, inicie agora seu tratamento.
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