Os dados relacionados à endometriose são alarmantes: estimativas indicam que uma a cada 10 mulheres sofre com os sintomas da doença, porém desconhece a sua existência.
Segundo o Ministério da Saúde, a endometriose atinge cerca de um décimo das mulheres no Brasil. Entre aquelas que enfrentam infertilidade, os índices são ainda mais altos, variando de 30% a 60% – e entre as que convivem com dor pélvica, chega a 70%. Apenas em 2022, o Sistema Único de Saúde registrou mais de 10 mil procedimentos hospitalares (incluindo internação) por conta da doença.
Endometriose afeta 1 em cada 10 brasileiras
Com um grande número de mulheres impactadas pela endometriose, essa condição agora recebe um dia dedicado à conscientização e à luta. Um movimento crescente entre as pacientes busca ampliar a conversa sobre essa doença.
Recentemente a Netflix lançou o documentário “Below the Belt“, que através da história de quatro mulheres que procuram urgentemente respostas para sintomas misteriosos, expõe problemas generalizados sobre a endometriose.
Basicamente, o filme mostra como as mulheres são frequentemente rejeitadas, menosprezadas e desacreditadas. Durante os 10 anos que leva para ser diagnosticada com endometriose, as mulheres são frequentemente informadas de que os sintomas estão em suas cabeças ou fazem parte de ser mulher.
Veja o trailer:
Mitos e verdades sobre a endometriose
Para a data, a Comissão Nacional de Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) fez um alerta sobre a doença e a importância do diagnóstico precoce. E delinearam seis pontos fundamentais para esclarecer sobre a endometriose:
- A endometriose não tem cura: Verdade. A endometriose é uma condição crônica, ou seja, persistirá ao longo da vida da mulher. Embora comprometa o sistema reprodutor feminino, pode ser gerenciada por meio de diversos tratamentos. Portanto, é essencial que a mulher mantenha consultas regulares com o médico, relate todos os sintomas e siga as orientações recomendadas. Desta maneira, é possível alcançar uma melhor qualidade de vida e minimizar os desconfortos causados pela doença.
- A prática de exercícios físicos pode contribuir para aliviar os sintomas da endometriose: Verdade. Incorporar exercícios físicos pode, de fato, complementar os tratamentos para aliviar os sintomas da endometriose. Isso ocorre porque as atividades físicas, especialmente as aeróbicas, promovem a liberação de endorfinas e ajudam a regular a produção excessiva de estrógeno, o hormônio associado à doença. Além disso, os exercícios também contribuem para fortalecer o sistema imunológico, o que é fundamental para prevenir complicações e melhorar o processo de recuperação.
- Infertilidade é sinal de endometriose: Mito. É verdade que a infertilidade é um dos sinais mais comuns da endometriose. No entanto, isso não é uma regra absoluta. Algumas pessoas que sofrem com a doença não experimentam problemas de fertilidade. A gravidade dessa infertilidade pode variar dependendo da extensão e das características da doença endometriótica. É fundamental destacar que existem tratamentos e métodos eficazes disponíveis que possibilitam às pessoas com endometriose a chance de engravidar e ter filhos saudáveis.
- A endometriose pode impactar diferentes órgãos do corpo: Verdade. Embora a endometriose não seja uma condição que se propaga, pode impactar vários órgãos. Sendo mais comum na cavidade pélvica, pode se manifestar também em outros órgãos situados nas cavidades abdominal e torácica. É importante destacar que existem diferentes tipos de endometriose, classificados de acordo com a localização das lesões, bem como o grau de comprometimento dos órgãos afetados e sua profundidade.
- A doença tem prevenção: Mito. Infelizmente, ainda não há formas conhecidas de prevenção primária da endometriose, pois sua causa ainda não é totalmente compreendida. No entanto, é possível adotar medidas de prevenção secundária. Uma abordagem eficaz de prevenção secundária é agir precocemente, especialmente em jovens que apresentam suspeita de desenvolver a condição. Uma estratégia fundamental é suprimir a menstruação, evitando assim a estimulação hormonal, que contribui para o crescimento das lesões endometrióticas. Ao inibir a menstruação, é possível reduzir a produção de estrogênio, o que pode retardar o avanço da doença. Embora não seja possível interromper completamente o seu desenvolvimento, essa abordagem pode proporcionar uma evolução mais lenta da endometriose, possibilitando uma vida reprodutiva mais saudável.
- A mulher com endometriose engorda com mais facilidade: Mito. O ganho de peso é complexo e multifatorial. A ansiedade e o estresse decorrentes das dores e da redução da qualidade de vida podem contribuir para a falta de atividade física e uma dieta inadequada, o que, em pessoas predispostas, pode resultar em obesidade. O uso de medicações hormonais para o tratamento da endometriose pode contribuir, embora geralmente não seja significativo. A adoção de uma dieta anti-inflamatória e a prática regular de atividade física são pilares no tratamento da endometriose e, ao mesmo tempo, ajudam a combater o ganho de peso.
Pesquisas científicas indicam que as moléculas semelhantes à Cannabis produzidas pelo corpo humano se acumulam no nosso sistema reprodutor mais do que em qualquer outra parte do organismo
Para entender como a Cannabis pode ser uma aliada importante no tratamento de endometriose conversamos com a Dra. Maria Teresa Jacob, médica pioneira na prescrição de canabinoides no Brasil.
O aparelho reprodutor feminino apresenta uma das maiores concentrações de receptores canabinoides
“O aparelho reprodutor feminino apresenta uma das maiores concentrações de receptores canabinoides do organismo e uma concentração de endocanabinoides maior do que no cérebro. Os receptores canabinoides e os endocanabinoides fazem parte do Sistema Endocanabinoide. Este sistema é importante no equilíbrio do nosso organismo, sendo ativado quando um órgão ou sistema está em desequilíbrio. Através da ligação destes fitocanabinoides aos receptores do sistema endocanabinoide, a Cannabis de uso medicinal ajuda no controle dos sintomas da endometriose, principalmente a dor, e da endometriose em si, diminuindo o tecido que se encontra fora do útero e impedindo uma migração maior do endométrio (tecido que reveste interiormente o útero) para fora do órgão”, explica Dra. Maria Teresa.
A Cannabis ameniza dores da endometriose? Estudo recente indicou que sim
Segundo este estudo, realizado recentemente por pesquisadores da Austrália, os sintomas da endometriose, como dor pélvica crônica, fadiga, dor menstrual, dispareunia (sexo doloroso), disquezia (evacuações dolorosas) e disúria (dor relacionada à micção) podem ser tratados com canabinoides, as moléculas medicinais da Cannabis.
Ao todo, 252 mulheres identificadas com endometriose no Canadá participaram da pesquisa, entre 2017 e 2020. E houve registros no aplicativo 16.193 sessões de uso de Cannabis pelas pacientes.
“Cannabis é importante no tratamento dos sintomas, principalmente da dor e da endometriose em si, diminuindo o tecido que se encontra fora do útero e impedindo uma migração maior”, explica Dra. Maria Teresa Jacob
Além dos sintomas relacionados à endometriose, a Cannabis pode ser eficaz também nos tratamentos de:
- Cólica Menstrual
- Dispareunia (dor durante a relação sexual)
- Infecções Vaginais
- Ovários Policísticos
- Síndrome da Tensão Pré Menstrual
- Menopausa
A grande vantagem do uso da Cannabis é a ausência de efeitos colaterais importantes
Segundo a médica, efeitos como sonolência e sedação podem ocorrer durante o período de dosificação, isto é, até determinar a dose ideal para a paciente, mas normalmente são de leves a moderadas. Por se tratar de uma patologia crônica não existe tempo pré-determinado para o tratamento da endometriose, podendo ser usado de forma contínua sendo interrompido somente em caso de gravidez ou amamentação.
“É através do conhecimento das ações do sistema endocanabinoide no órgão reprodutor feminino que podemos utilizar os fitocanabinoides que, atuando no nosso sistema endocanabinoide diminuíram a dor inflamatória, e a proliferação do endométrio para fora do útero, além da regressão das lesões já existentes”, pontua.
Mulheres, Cannabis e qualidade de vida: saiba como a planta atua na dor feminina
Nem sexo frágil e nem guerreiras. As mulheres estão cada vez mais em sintonia com o que há de contemporâneo no desenvolvimento da Medicina canabinoide para seu benefício.
Assim, encontram nos produtos à base de Cannabis, em suas diferentes vias de administração, o alívio para a dor em casos de endometriose.
Para a médica ginecologista Monique Maia, CRM: 32792, atualmente, as mulheres têm mais informações e já entendem que a Cannabis pode mitigar a dependência de conviver com a dor e medicações controladas.
Conheça mais pesquisas sobre Cannabis e endometriose
Neste estudo conduzido por cientistas do Joseph’s Hospital and Medical Center, em Phoenix (AZ), nos EUA, dos 240 participantes, 77 (32%) relataram ter experimentado Cannabis, com a maioria (67,5%) relatando que a planta foi muito ou moderadamente eficaz contra a endometriose.
Outro estudo, por seis cientistas australianos publicado no Journal of Obstetrics and Gynaecology do Canada chegou a um resultado parecido. Houve um total de entrevistas com 484 mulheres, sendo que apenas 13% relataram usar Cannabis para controle de sintomas. Porém, a eficácia autorrelatada por elas na redução da dor foi alta (7,6 de 10), com 56% também capazes de reduzir medicamentos farmacêuticos em pelo menos metade.
As mulheres relataram as maiores melhorias no sono e nas náuseas e vômitos. Os efeitos adversos foram infrequentes (10%) e menores
Recentemente, também foi realizado um novo estudo para o tratamento da endometriose em camundongos por um professor da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, Espanha.
A equipe de pesquisa estudou camundongos com implantes endometriais na pelve para imitar a endometriose em humanos. Aqueles com os implantes eram mais sensíveis à dor na pelve, que também pode estar associada a alterações emocionais e cognitivas – semelhantes aos sintomas observados em algumas mulheres com endometriose.
Depois de tratar os camundongos com uma dose diária de 2 mg/kg de THC, por 28 dias, a sensibilidade à dor melhorou na pelve. No entanto, não teve efeito sobre a dor em outras áreas, mostrando que o tratamento era específico para a dor originária da endometriose.
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